Líderes de torcida e jogadores babacas

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Enquanto crescemos ouvimos várias histórias, definições e opiniões sobre o amor, todas extremamente excepcionais e diferentes. Já ouvi falar que o amor é cego, que é como uma brisa suave, que é exaustivo, que é perfeito...Enfim, ouvi muitas histórias, mas a verdade é que o amor é o que é, na visão da cada um e para mim, no momento, o amor é algo distante e provocativo.
-Qual é a sua obsessão com essa jaqueta, garoto?-Digo, um tanto impaciente.
-Posso te perguntar o mesmo, já que não me devolveu até agora...-Ele diz, de forma arrogante, tentando fugir da pergunta.
Suspiro um tanto alto e logo cruzo os braços em frente ao peito, em forma de protesto. Eu realmente não iria afrouxar minha moral enquanto ele não me desse um bom motivo para tal coisa.-O que tem de tão interessante nessa jaqueta?É só um bem matérial!
Ele vira o rosto por um segundo, e quando retorna a olhar para mim, esta exibindo um de seus lindos sorrisos sarcásticos.-Olha...A menina super poderosa é curiosa.
Bufo, irritada por sua resposta grosseira e me viro de costas para buscar a jaqueta que se encontrava ao canto do quarto, pendurada em um cabide laranja. Quando estou prestes a pegar a tão desejada jaqueta, sinto sua presença a poucos centímetros de mim e me viro rapidamente em sua direção, dando de cara com seu peitoral definido. Nossos olhos se encontram de forma dramática e a intensidade que encontro nos olhos cor de mel do rapaz a minha frente parecia tão atraente quando o fogo do inferno. Seu rosto se aproxima calmamente do meu, enquanto meu coração parecia um tambor, com batidas sonoras e profundas. Seus lábios roçam lentamente os meus, de forma delicada e incinerante. Eu estava completamente estática, na expectativa de um contato maior, mas o mesmo apenas aproxima seus lábios da minha orelha, de forma calma.
-Merda...-Sua voz sai irônica e amarga.-Você é boa demais para mim, maluquinha!
Seu braço músculoso alcança a jaqueta que está atrás de mim, sem cortar o contado visual, nem a proximidade de nossos corpos. O encaro por mais alguns segundos e então, ele apenas deposita um leve beijo na minha bochecha, antes de virar as costas e pular a janela, desaparecendo rapidamente através da escuridão da noite, era como se ele se unisse a ela, incapacitando-me de vê-lo uma última vez, naquela noite.
Os segundos se passaram rapidamente e eu nem havia percebido que ainda estava parada a encarar a janela pela qual Travis havia passado recentemente. Eu estava paralisada, havia congelado no momento em que seus lábios macios tocaram minhas bochechas rosadas.
Ando até minha cama, basicamente em piloto automático, me deito e fico paralisada nos pensamentos sobre o quão estranhas soaram as palavras de Travis para mim,até finalmente adormecer.
Abro os olhos e me deparo com uma escuridão imensa. Sinto o chão frio se tornar ainda mais congelante, enquanto movo meu corpo, para me sentar no local onde a pouco estava deitada. Rolo meus olhos ao redor da sala, para encontrar alguma luz em meio a escuridão, mas tudo que consigo ver e sentir, é um choque repentino com a chegada da imagem de um par de olhos perfeitos, num tom lindo em cor de mel.
-O que está fazendo aqui?-Digo em um rápido sussurro ao reconhecer os lindos olhos de Travis. Posso ouvir minha voz ecoar lindamente ao fundo da enorme sala.
-Eu não sei...Me diz você!-Sua voz sooa calma e provocativa, como sempre.
-O que quer dizer com isso?-Digo em um sussurro quase inaudível.
Travis solta uma risada encantadora, apesar de um tanto perturbadora, por perceber que estava rindo de mim. -Estou falando do que VOCÊ realmente quer...
-O que...?
-Admita, Alice...Você me quer, você gosta de mim!-Ele diz, em um tom suavemente ditado e um tanto sedutor.
-E se eu disser que gosto de você?-Digo em um tom desconfiado e ainda sem entender muito bem o que estava acontecendo, mas ao mesmo tempo, me entregando ao jogo da sedução de Travis.
-É melhor me beijar, antes que eu vá!
Sinto meu coração acelerar ao ouvir sua fala, eu não me importava com o que ele estava falando sobre partir, a única coisa que ecoava em minha mente era a rápida frase, também sussurrada por sua voz "me beije, Alice". Me aproximo dele lentamente, fechando meus olhos, em um instinto e logo, estou perto o suficiente para sentir nossos lábios se tocarem de forma suave e então, tudo some, toda aquela sensação gloriosa desaparece em um piscar de olhos. Olho ao redor na busca implacável pelos seus olhos brilhantes, mas tudo o que posso ver, é uma vela se acender de repente, ao fundo da sala e finalmente iluminar todo o cômodo vazio ao meu redor. Era essa a minha realidade na vida, estava sozinha.
Acordo de supetão, com o susto do despertador escandaloso ao meu lado. Suspiro ao passar a mão sobre minha testa suada e logo, paro para pensar no meu sonho, que havia sido no mínimo, estranho. "Que loucura... Logo eu, Alice Hale, me iludindo em menos de 24 horas. Eu realmente mereço parabéns!". Levanto da cama cambaleando, por conta do sono e começo a me organizar sem pressa, pois ainda eram apenas 06:30 da manhã.
Após algum tempo, já estava pronta para sair.
O caminho até a escola, foi trilhado à pé, como de costume. O dia estava ensolarado e o ar se destacava calmo e não muito abafado. No trajeto pude ver um belo carro esportivo passar por mim, acelerando e seguindo seu caminho. Lembro do sonho um tanto maluco que tive naquele dia e me sinto idiota.
-Estou ficando maluca...-Sussurro para mim mesma, enquanto adentro o enorme campus da escola. Passo os olhos ao redor e vejo o garoto musculoso sair de dentro do elegante Porsche, nossos olhos se encontram por poucos segundos mas eu logo corto a troca de olhares dramática, evitando maior contato, enquanto sigo a andar em passos longos, evitando olhar os acúmulos de pessoas ao redor.
Suspiro aliviada ao atravessar a porta da enorme sala de aula praticamente vazia, a não ser por Dylan, que se sentava na carteira logo atrás do meu lugar. Me sento em meu acento calmamente, sem me preocupar com a presença de Dylan.
-Ei...Bom dia!-Ele diz, inclinando-se para chegar mais perto de meu pescoço, uma ação que eu estranhei um tanto.
-Bom dia, Dylan...-Digo mantendo meu olhar firme sobre minha carteira. Sinto ele afastar e logo, me viro, lentamente para o encarar.-Esse não é o lugar do seu amigo?
Ele dá de ombros, despreocupado.
-Acho que ele não vai se importar...-Depois de sua resposta, iniciamos uma conversa calma. Falamos sobre o jogo de futebol que ocorreria mais tarde, na escola e sobre como Dylan estava preocupado com as futuras semanas de provas. Logo, o professor de literatura, Jackson Parker, adentra a sala esbanjando suas poesias de forma elegante. Me viro para frente e começo a prestar atenção, completamente focada enquanto o senhor à minha frente contava um pouco sobre sua obra literária favorita. Os minutos se passaram e a porta de entrada foi aberta, mostrando um garoto rebelde e ligeiramente atrasado, Travis.
-Está atrasado sr.Collins!-O rapaz apenas da de ombros e segue andando, rumo ao seu lugar. Seu olhar passou por mim rapidamente, pousando sobre Dylan.
Olho sorrateiramente com o canto dos olhos, quando os coturnos pesados de Travis param ao lado da carteira logo atrás de mim. Me viro levemente para a direção dos rapazes, afim de ver mais sobre a situação.
-Você está no meu lugar...-Travis murmura, entediado.
-Qual é, cara?!Tem vários outros lugares vagos!-Dylan diz em voz calma e amigável.
-Mas eu quero o meu lugar!-Travis repete, jogando sua mochila por cima da mesa de Dylan.
-Vai com calma, cara!-Dylan responde de supetão.
-Algum problema aí?-O sr.Parker pergunta.
-Nada de mais...-Dylan diz, tentando apaziguar a confusão.
-Sr.Collins, você pode se sentar ao lado de Verônica.-O professor sugere de forma calma. Verônica sorri, animada com a ideia e Travis apenas revira os olhos.
-Prefiro o meu lugar...-Ele insiste, desta vez em um tom mais baixo e ameaçador.
-Sr.Collins, por favor...-O professor começa novamente, mas é interrompido.
-Tudo bem.-Dylan diz, pegando suas coisas e seguindo para seu antigo lugar. Travis mostra um pequeno e descreto sorriso de lado, antes de se sentar.
O ar de encrenca continuou a pairar, durante o restante das aulas. Enquanto os burburios sobre a discussão ganhavam mais intensidade, Travis não parecia nenhum pouco preocupado, enquanto Dylan apenas manteve - se calado e encolhido, em silêncio.
O sinal para a hora do intervalo soa como uma alta sirene, invadindo meus tímpanos de forma agressiva. Junto minhas coisas, sem pressa, enquanto várias pessoas saiam da sala, animadas e apressadas para o tão esperado jogo de iniciação do campeonato de futebol, que seria logo após o intervalo escolar.
-Oi, sis!-Uma voz feminina, um tanto irritante, surgiu de repente, ao meu lado. Enquanto jogava minha bolsa dentro do armário, pude ver seus cabelos loiros esvoaçantes, de canto de olho.
-Oi, Savannah!-Digo rapidamente, sem sequer me virar para ver sua expressão exagerada de sempre.
-Não vai ao jogo?-Sua voz de serpente ditou as palavras, rapidamente.
Suspiro, cansada.-Não!-Respondo de forma calma.
-Ah...Qual é, Sis?!Vai ser divertido!-Ela diz, esboçando uma expressão animada, com voz manhosa.
-Pode ser divertido para você, mas não gosto dessas coisas...-Digo de forma desanimada, tentando convencer Savannah a simplesmente parar de me perturbar por tal coisa.
-Sabe...Eu preciso de você lá, se eu não me sentir bem, pelo menos vou ter você lá para me segurar!-Ela diz, simplesmente, como se eu tivesse obrigação de sempre estar por perto para segurar o mundo dela.
Solto um longo suspiro, seguido de um sorriso singelo.-Tudo bem...Eu vou!-Digo, por fim. Não me sentia muito a vontade para ir à esses eventos, mas se Savannah precisaria de mim, eu estaria lá por ela.
-Ótimo!-Ela diz, exibindo um lindo sorriso, seguido de um leve salto e palmas.-Te vejo lá, Sis!-Ela completa, se afastando, enquanto lança beijos no ar.
Caminho em passos desanimados para o enorme refeitório da escola, o lugar estava lotado e as pessoas lá dentro pareciam animadas de mais para meu gosto. Caminho de cabeça baixa até a enorme fila para o lanche, não encaro ninguém em especial, apenas fico em silêncio até chegar minha vez, faço meu pedido rápido e recebo a bandeja com um singelo sorriso de agradecimento para a senhora do outro lado do balcão.
Observo os alimentos na minha bandeja de forma calma. A salada parecia refrescante, a caixinha de suco de melancia me lembrava rapidamente ao capitalismo mal controlado do país, a maçã bem avermelhada me fazia pensar que a natureza era a coisa mais importante do mundo e o sanduíche natural vegano, fazia minha consciência ficar um tanto limpa, na questão do veganismo. Eu não era vegana, mas tinha o máximo de respeito por tal coisa.
Me dirijo até às mesas mais afastadas das pessoas e me sento próximo ao lugar onde os excluidos estavam.
A hora do lanche era turbulenta normalmente, as pessoas por ali eram cheias de energia e constituíam idéias idiotas de diversão, mas em dia de jogo, era tudo aumentado em dez vezes, aquilo se tornará um tormento inacreditável. As piadas arrogantes sendo soltas pelo ar, as brincadeiras sem graça sendo comprometidas, os olhares anárquicos rodando, os jogadores de futebol em êxtase e as líderes de torcida como sempre, incorporadas em sua pele de tigresas selvagens.
Vejo Savannah atravessar o salão do refeitório, com sua minúscula saia preta, seu cropped branco, com alguns detalhes em azul e seu rabo de cavalo loiro, preso por uma fita dourada. Suspiro, um tanto desanimada, ao ver a cena da belíssima loira desfilando perante o salão repleto de pessoas, até me alcançar.
-Porquê aceitei isso?!-Sussurrei baixo, para mim mesma.
-Olá, sis...Não vai trocar de roupa para o jogo?-Ela fala, de forma simples e ignorante, lutando para ver o meu corpo, vestindo roupas ligeiramente simples, através da mesa.
A encaro por alguns segundos e me levanto, seguindo rumo a saída do enorme refeitório, enquanto ela me seguia fielmente. Suspiro pela milésima vez desde que atravessei a enorme porta do refeitório.
-Eu não trouxe outra roupa!-Respondo, andando em passos curtos, um tanto encolhida.
-Nisso eu posso dar um jeito, Sis...Não se preocupe!-Savannah fala, em meio a um sorriso um tanto assustador. Ela parecia estar tramando algo épico.
-O que...?-Sussurro antes que ela me interrompa, me puxando pelo braço, de forma determinada, iniciando uma caminhada até o seu armário, no vestiário feminino.
-Fique calma, Sis...Vou consertar você!-Savannah fala, simplesmente, exibindo um sorriso empoderado.
Ela gira rapidamente a tranca do seu armário, após fazer a senha e o abre calmamente, tirando de lá, uma das vestimentas das líderes de torcida, lançando a roupa por cima de mim.-Veste!
-O que está querendo, Savannah?-Pergunto rapidamente, de forma inocente.
-Pensa comigo, Sis...Você pode ser uma líder de torcida e finalmente se enturmar. Vai dizer que não quer isso?-Savannah fala de forma sorridente e inspirando certa confiança em mim, mas não o suficiente para burlar meus instintos de sobrevivência escolar.-Qual é, Sis?!Se não for fazer por você, faz por mim...Tô cansada de ter uma irmã estranha e você não se ajuda!-Ela solta um rápido suspiro.-Pensa em como o papai ia adorar ver você agindo feito uma garota normal...
-Tudo bem...-Digo, após um longo suspiro. Em meu pensamento, Savannah tinha um tanto de razão, eu não estava me ajudando e não deveria ser nada fácil pra ela, nem para minha família ter a mim como parente.
Pego as roupas de suas mãos e vou em direção a uma parte cercada do vestiário.
-Não,Savannah...-Digo após me analisar no enorme espelho que havia ali. A saia era realmente minúscula, me deixando exposta. Savannah e eu definitivamente não tínhamos o mesmo físico.
-Está otimo, Alice!-Ela rebate, com um sorriso radiante. Eu não me sentia bem naquelas roupas, mas que escolha eu tinha?!
-Você vai arrasar,Sis!-Savannah falou, me arrastando para fora do vestiário, deixando minhas antigas roupas lá mesmo. Tomei um choque de confiança, inspirado pela fala de Savannah, o que não era um ponto positivo.
Conforme me aproximava do enorme campo de futebol, podia sentir minhas mãos soarem e toda a confiança que eu havia ganhado, desaparecer. Me perguntava no que eu estava pensando quando topei tal coisa...Eu não era a Savannah, aquelas roupas não eram minhas, nem eram do meu estilo, mas agora era tarde de mais.
Assim que atravesso o campo ainda vazio, indo em direção às arquibancadas, sendo arrastada por Savannah, posso sentir os olhares de várias pessoas caírem sobre nós, sobre mim, mais precisamente. Meu coração palpita algumas vezes, vendo os sorrisos nada agradáveis de alguns garotos.
Meus primeiros passos travam no lugar, mas sou rapidamente puxada por Savannah, que me obriga a andar. Estava envergonhada, tinha certeza que minhas bochechas estavam coradas e sentia uma vontade imensa de chorar.

Glass HeartWhere stories live. Discover now