Rapunzel vs Patinho Feio

38 17 4
                                    

Ela vive nas sombras de cada pessoa que conhece, tem voz tão silenciosa quando o vento calmo. Ela ouve tudo, mas apesar de estar sempre falando, não consegue ser ouvida. Ela sou eu!
Já estávamos no hospital à algum tempo. Meus olhos estavam inchados de tanto chorar e meus cabelos negros estavam despenteados, por todas as vezes em que eu esfreguei a cabeça, em desespero, tentando fugir do mundo que eu não queria conhecer, o mundo sem meu melhor amigo, meu avô.
Solto um longo suspiro, um tanto impaciente. Meu pai já havia saído a alguns minutos, em busca de cafeína. Passo meus olhos ao redor, encontrando Savannah, que estava sentada em uma das cadeiras à minha direita. Ela parecia tranquila, enquanto mexia no celular e soltava alguns sorrisos bobos.
Vejo, a curta distância, o jovem médico se aproximar calmamente. Ele tinha belíssimos olhos cor de mel, cabelos e uma pequena barba, ruivo natural.
-Como ele está, doutor?-Digo, rapidamente saltando da cadeira, avançando em direção ao doutor.
-Ele está bem...-Ele falou, calmamente, pondo as mãos nos bolsos do jaleco branco. Ao ouvir suas palavras ditadas com destreza, senti uma grande alívio tomar meu coração.
-Não graças a você!-A voz de meu pai surgiu de repente e eu sabia que sua fala havia sido direcionada à mim. No momento em que meu pai soltou suas palavras pelo ar, pude ver, de canto de olho, Savannah se erguer, de forma rápida, guardando o celular, finalmente mostrando-se interessada na situação, mal sabia eu, que era mais uma de suas excelentes atuações.
Daniel exibia um olhar vago, enquanto desfilava em passos espaçosos, até nós alcançar.-Ele já pode receber visitas?
-Pode sim, mas tem um porém...-O jovem doutor respondeu de forma rápida, dando uma leve pausa para observar nossas reações.-Ele quer ver única e especificamente a Alice!
-O que?!-Savannah e Daniel soltaram o grito questionativo, em conjunto.
O médico arregalou os olhos e soltou um rápido suspiro, enquanto tornava seu olhar sobre mim.-Baseado na reação deles...Suponho que você seja a Alice.
-S-sim...Sou a Alice!-Eu disse, um tanto nervosa. Eu estava realmente tentando não ser afetada pelos olhares enfurecidos de meu pai e irmã. Era incrível como Savannah e Daniel eram parecidos, eles não suportavam não ser o centro das atenções e nem os queridinhos da vez.
-Venha comigo!-O médico falou, exibindo um tom mais calmo ainda, enquanto começava a trilhar um caminho de volta ao quarto onde meu avô estava internado e eu o segui, desviando cuidadosamente de meus familiares, na sala de espera.
Assim que nos aproximamos da porta da quarto, o carismático doutor indicou a porta, para que eu adentrasse o cômodo e eu logo o fiz.
Quando meus olhos meus olhos passaram ao redor do confortável quarto, decorado com alguns móveis, aparelhos e pares brancas, a sensação que eu tinha era de comodidade e ao mesmo tempo de ansiedade, para finalmente ver o meu avô novamente. Assim que encontrei Henry, jogado numa cama um tanto alta, me aproximei rapidamente e me joguei por cima do mesmo, o pregando um longo abraço.-Pensei que iria perdê-lo...-Eu disse, já em meio a algumas lágrimas, não controladas.
-Fique tranquila, Lily...Você não vai se livrar de ouvir minhas histórias repetitivas tão cedo.-Ele disse, em um tom zombeteiro. Era incrível como ele era uma pessoa forte e demonstrava isso a cada sorriso que jogava para o mundo.
-Fico feliz por ouvir isso...-Sussurro, soltando um leve sorriso, o encarando de perto. Meu avô era uma homem doce era gentil, a luz e esperança que rondava minha vida. Não sei o que seria de mim se não o tivesse por perto, se não o pudesse abraçar, ouvir suas longas histórias de vida ou ter o privilégio de ouvir suas risadas contagiosas.
-Não chore, minha querida neta...-Ele disse, exibindo um sorriso condescendente, enquanto enxugava minhas lágrimas com suas próprias mãos.-Eu sei o que pode lhe alegrar...-O sorriso de Henry se alastrou pelo seu rosto e seus olhos tomaram um brilho inexplicável.-Ouvir minhas histórias de vida!
-Claro...Eu adoraria ouvir suas histórias, novamente!-Eu disse, exibindo um sorriso esplendido, enquanto me acomodava ao seu lado, na estreita cama.
Henry soltou um longo suspiro.-Essa é uma história que eu nunca lhe contei, Lily...-Ele parecia confortável e um tanto inspirado.
-Existe alguma história que ainda não me contou?-Perguntei, um tanto indignada.
-Existem várias, mas nenhuma tão importante quanto essa...Eu não lhe contei antes por quê, você só ia querer ouvir essa toda vez que me visse, ela se tornaria sua favorita no momento em que você ouvisse o título.-Sua voz soou esperançosa.- Vou lhe contar a história de como conheci a sua avó...
Assim que ouvi suas palavras calmas, soltei um longo suspiro acompanhado de um imenso sorriso.
Vovô sempre falou de seu casamento, suas aventuras ao lado de vovó, mas nunca mencionou com detalhes como foi que se conheceram e se envolveram.
E eu nunca me atrevi a perguntar sobre, nesse tempo todo e de fato, ele poderia ter razão, pois mesmo antes da história começar a se desenvolver pelas palavras espaçosas de meu avô, já havia se tornado meu conto favorito.
-Bom...Tudo começou em um dia animado em minha cidade natal, Trinidad. O dia havia sido muito corrido, eu trabalhei feito um doido, no restaurante que trabalhava, naquela época, para simplesmente, conseguir gorjetas o suficiente para ir à uma festa que teria em um bar que costumava frequentar.-Ele sorri como um bobo apaixonado, ao se lembrar.-As horas passaram voando naquele 22 de janeiro, a noite caiu rapidamente, me deixando quase que sem tempo para me arrumar para a festa e sim...Eu havia conseguido o dinheiro.-Ele solta uma rápida risada, com sua própria fala.-Enfim...Eu surgi no bar. Me lembro que aquela noite, em especial, haviam mais pessoas que o comum e eu, como um bom galanteador, me arrumei no meu melhor traje...-Henry da uma pausa na fala, enquanto respirava fundo.-Eu olhei para os lados, tentando achar rostos conhecidos naquela multidão de pessoas, mas o que eu vi, roubou toda minha atenção...-Ele sorriu.- Helena. Ela estava de costas, tinha uma altura baixinha, cabelos ondulados e estava vestindo um belo vestido branco, que destacava suas bochechas rosas.-Ele sorriu novamente.-Nunca tinha visto alguém tão bonita e eu, como um perfeito babaca, não perdi tempo.-Ele gargalha, me fazendo acompanhá-lo.-Enquanto eu me aproximava dela, pensei que seria mais uma de minhas conquistas...-Ele falou, baixinho, bebericando um pouco da água, que estava próxima a cama, sobre no criado mudo.-Mas quando nossos olhos se cruzaram, eu senti aquela famosa sensação de borboletas no estômago e foi nostálgico...-Ele ria espontaneamente, enquanto contava.-Você acredita que ela nem me deu atenção quando fui falar com ela?-Ele me pergunta e eu não contenho o riso.
-Como ela pode resistir ao incrível charme de Henrik Hale em seus plenos o que...21 anos?-Eu falo, um um bom estado de humor.
-20!E sim, sua avó era ousada e valente e muito inteligente. Ela sabia que merecia algo melhor do que um babaca como eu...-Ele disse. Eu esperava que ele ficasse cabisbaixo, quando falou sobre ela merecer algo melhor que ele, mas não o fez e logo, voltou a falar.-Então...Ela me mudou, me fez crescer e evoluir, o amor dela entrou na minha alma e curou todas as minhas feridas como uma água milagrosa...Você me lembra a ela, Alice. Tem aquele mesmo olhar brilhante, que sempre vê o melhor nas pessoas...-Ele soltou um longo suspiro, seguido de um sorriso caloroso.-Espero que encontre alguém para curar, Lily...Assim como Helena fez comigo!
-Olá, sr.Hale...Trouxe o tabuleiro de xadrez que o senhor pediu e também já trouxe seus remédios...-Cléo falou, ao adentrar o quarto, observando o movimento das sacolas que ela carregava, enquanto andava. Ela levantou a cabeça de repente, fazendo seus fios cacheados balançarem rapidamente.-Olá, Alice...Não sabia que estava aqui!
-É a única que eu autorizei entrar aqui, além de você...-Henry informou, rapidamente.
-Então é por isso que o Daniel e a Savannah estão jogando xingamentos aos ventos, lá na sala de espera?!-Ela disse, simplesmente, enquanto soltava as sacolas sobre uma pequena mesa que havia no canto do quarto. Sua fala foi uma breve surpresa para mim, eu não imaginava que eles estariam até agora esperando.
-Não vai chamá-los para vê-lo, vovô?-Eu perguntei, me virando para encara-lo de melhor forma.
-Para que?!Para o seu pai começar a me culpar por eu ter tido um ataque cardíaco ou para a Savannah ficar de cara amarrada, mexendo no celular?!-Ele falou, de forma relutante.
-Vovô...-Eu disse, chamando sua atenção para sua fala um tanto rude, mas no fundo eu sabia que ele tinha total razão.
Henry soltou um longo suspiro, seguido de uma rápida revirada de olhos.-Eu disse que você é parecida com a Helena...Até o dom de inspirar esperança nas pessoas, com apenas um olhar, você tem.-Ele solta um leve sorriso.-Cléo, pode chamar o meu filho e a filha mimada dele, por favor?
Soltei um sorriso alegre, por ele ter tomado tal atitude. Eu não queria que meu pai ficasse ainda mais bravo comigo ou que Savannah me julgasse ainda mais do que já estava julgando.
-Claro, Sr.Hale!-Cléo disse e logo, saiu do quarto, rapidamente, indo em busca de Daniel e Savannah. Não demorou muito e ela já estava de volta, sozinha, com um olhar desapontado.-Eles já foram embora...-Ela disse, cuidadosamente e então, meu avô soltou um longo suspiro, em resposta.
-Sabia...-Ele sussurrou.
-Bom...O senhor tem que tomar o seu remédio!-Cléo interviu no assunto, rapidamente.
-Tudo bem...-Resmungou Henry, enquanto se contorcia na cama. Cléo foi rápida o suficiente para já entregar-lhe o medicamento e ele o ingeriu, corretamente.
-O senhor sabe que esse medicamente lhe causa sonolência, então...-Cléo começou a falar mas foi interrompida.
-Sim...Pode abaixar a cama, Cléo!-Ele disse, com certa atitude, já um tantos sonolento. Era estranho como o remédio estava fazendo efeito tão rapidamente.
Eu saltei da cama e fui para uma poltrona, logo ao lado da mesma, enquanto Cléo ajustava a altura da cama e meu avô já havia adormecido. Talvez ele já estivesse com sono antes de tomar o remédio...
O tempo voou feito folhas secas em meio a uma ventania. Já estava de noite e meu avô a cara de acordar, falando sem parar sobre o quanto queria jogar xadrez. Nós acabamos nos envolvendo no emocionante jogo e ficamos lá, por mais um tempo, acabou que como sempre, ele ganhou. Eu era péssima com jogos de tabuleiro, embora eu os adorasse.
-Vovô, lembra de quando acampávamos e fazíamos clube do livro todos os fins de semanas?-Pergunto, ingenuamente. Um dos fatores que mais me marcou e colaborou no meu amor pela literatura, foi o apoio e a ajuda familiar. A sensação de saber que sempre que eu lesse o livro da semana, iríamos conversar sobre ele, faríamos reuniões e acamparíamos, era incentivadora.
-Claro que lembro, nós adorávamos nos reunir para o clube do livro...-Henry solta um sorriso bobo.-Lembra que no seu aniversário de oito anos, eu te dei esse colar que você não tira nunca e sua avó lhe deu o livro "A menina que roubava livros", o que se tornou, seu livro favorito...?Parece que somos realmente muito bons em dar presentes.-Ele disse, de forma um tanto irônica.
-O presente se torna especial a partir do momento em que é recebido de uma pessoa especial...-Eu falei, em um tom um tanto baixo e emotivo. Eu pude ver, de canto de olho, o sorriso brotar nos lábios de Henry.
Nós ficamos conversando por mais um tempo, puxamos assuntos tão antigos quanto vovô. Falamos de política, de amizades, de histórias, de livros, de amor...Foi quando ele questionou sobre "o garoto da festa" é como ele chama à Travis.
-O nome dele é Travis, vovô!-Digo, em meio a uma suave risada. Eu achava engraçado ele ter apelidado o Travis de tal forma, que se o mesmo soubesse, ficaria furioso.
-Travis, garoto da festa...Da no mesmo!-Ele afirma, exibindo um sorriso singelo.-Você gosta dele?
Meu coração acelera ao ouvir sua pergunta. Parei, para pensar. Será que eu gostava de Travis ou todas aquelas sensações eram só emoções passageiras?
Encaro os belos olhos de meu avô, sem saber oque dizer, por fim, decido ser sincera.
-Eu não sei.-Digo simplesmente, um tanto angustiada por não saber explicar muito bem o que sentia.-Ele é... Diferente.-Sorrio.-Ele não é o tipo de cara que dedicaria livros a uma garota ou dançaria na chuva só por diversão...-Concluo, pensativa. De fato, Travis não era nenhum pouco poético com suas palavras diretas e seus olhares safados, mas eu com certeza poderia transcrever cada parte do seu corpo e alma em um incrível livro de poesias.
-Vejo que ele não é nenhum Shakespeare.-Vovô solta uma risada espontânea.
-Não, ele não é. Ele tá mais para um George R. R. Martin!-Digo, por fim, soltando um suave sorriso.
-Considerando o que acabou de dizer, parece que ele não é nada mal, hem...-Henry fala, fazendo uma estranha feição, enquanto solta um sorriso sincero.
-Claro...-Falo, em tom zombeteiro, fazendo o senhor, rir da minha atitude.
-Não se prenda de mais em seus medos, querida...As vezes é bom arriscar!-Eu não entendi muito bem o que aquelas palavras significavam, mas sorri levemente, concordando com a cabeça.
Os minutos se passaram e meu avô adormeceu novamente. Eu comecei a ler um livro online, mas minha bateria já havia se esvaído e eu nem tivera tempo para avisar minha mãe dos ocorridos. Ouço alguns passos invadirem o quarto calmamente e levanto a cabeça, olhando na direção que o som vinha, era o jovem doutor. Ele parecia espantado por me ver ali.
-Cadê a enfermeira?-Ele perguntou, diretamente, enquanto me encarava.
-Saiu para pegar um café!-Eu respondi, rapidamente.
-Bom...O horário de visita já acabou, você não pode ficar aqui!-Ele disse, simplesmente, pegando o prontuário médico do meu avô, enganchado nos pés da cama.
-Mas eu vou ficar aqui hoje!-Eu falei, com destreza.
-Não vai, não!-Ele falou enquanto passava os olhos pelo prontuário.
-O que?-Questiono, incrédula. Não era possível que ele não me deixaria ficar ali, com o meu avô.
-Seu avô deixou ordens restritas para que você não fique aqui!-O elegante médico, falou, em um tom desleixado.-Como foi que ele disse?!-Ele pareceu pensativo, por alguns segundos, até que tomou atitude para voltar a falar.-Quando tiver netos, nunca conte suas histórias de vida para eles, senão depois, eles não desgrudam de você...-Ele estava imitando a voz de meu avô de uma forma muito estranha.-Mentira. Conte sim...Isso que eu tenho com a Alice é uma das coisas mais preciosas que uma pessoa pode ter!
Solto um leve sorriso, me levantando.-É...Parece mesmo algo que ele diria.
-E eu disse!-A voz de meu avô, surgiu rapidamente, na conversa.
-Você não estava dormindo, vovô?-Pergunto, me aproximando de sua cama.
-Eu estava, mas essa falácia toda, me acordou...-Ele disse, tentando conter o riso.
-Está me correndo daqui?-Pergunto, o encarando fixamente.
-Estou!-Ele fala, simplesmente.-Você é jovem, Lily...Você deve passar suas noites em casa, vendo séries ou em festas com o garoto da festa/George R.R. Martin...-Ele solta um longo sorriso.-Você precisa viver, se arriscar e ser feliz, Lily!
Solto um longo suspiro, ao ouvir sua fala.-Tudo bem...-Digo e logo lhe dou um beijo na testa.-Eu já vou indo...Mas amanhã à tarde, estarei aqui!
-Lhe aguardarei e quero novidades, viu?!-Ele diz, em um tom alegre, enquanto me observa juntar minhas coisas e logo, sair do quarto.
Eu andei pelos longos corredores do hospital, atravessei lances de escadas, afinal, tinha um tanto de medo de elevadores, até que cheguei a saída. Me pus a andar rapidamente pelas estreitas ruas de San Diego, já era noite, mas isso não me preocupava, em uma cidade tão calma. A medida que desferia passos ao chão, a voz de meu avô, falando para eu viver e me arriscar mais, se intensificava em minha mente.
Passo pela praça, que estava repleta de pessoas, entre elas, Dylan, que logo que me viu, correu até mim.
-Oi, Alice!-Ele disse, alegremente.-Como você tá?
-Tô bem...E você?-Digo, um tanto recatada.
-Estou bem.-A voz de Dylan se destaca um tanto grave.-Já está indo pra casa?-Ele pergunta, educado como sempre e eu, apenas concordo, com a cabeça.-Por quê você não fica aqui com a gente, um pouco?
-Não sei se é uma boa ideia...-Digo, observando a grande movimentação.
-Vai ser divertido!-Ele afirma, em incentivo. O encaro por alguns segundos e então, lembro das palavras do velho senhor Hale, por fim, dou de ombros.
-Certo.-Respondo, o acompanhando até a mesa onde todos estavam. A praça era um lugar calmo durante o dia, mas a noite, se tornava ponto de encontro para pessoas de todas as idades, com várias mesas espalhadas por sua extensão e belas barraquinhas decoradas, por todos os lados.
Enquanto nos aproximávamos, vi Savanah rindo, animada em meio ao seu enjoado grupo de amigas, até que nos viu, passando a nos encarar por alguns segundos e suas sombrancelhas se arquearam de forma instantânea.
-Sis!-Ela falou alto, fazendo com que todos na mesa virassem na minha direção, inclusive Travis, que só agora eu havia o visto, acompanhado de uma garota, que praticamente babava sobre ele. Tento ignorar a cena e focar em minha querida irmã, que me observava com uma pitada de raiva.
-Olá, Savannah...-Digo, abaixando meu olhar para os pés.
-O que está fazendo aqui, Sis?-Ela pergunta, em tom acusatório e eu a olho, intrigada.
-Estou indo pra casa!-Afirmo, me arrependendo de estar ali.
-Mas ela decidiu ficar...-Dylan completa.
Savannah parecia stressada pela minha presença e isso não poderia acabar bem.
-Claro...-Ela sorri de lado, um sorriso que eu odiava.-Eu estava aqui, contando como meu dia foi difícil, Sis...-Ela comentou, me apontando um banco a sua frente, para me sentar, sem muita escolha, puxo a cadeira e me sento, à encarando atentamente.
-Eu estava dizendo que nosso pobre avô teve um infarto e que estava delirando...-Ela continuou.
-Delirando?-Pergunto, afinal, não me lembro de segundo nenhum em que Henrik estivesse fora de si.
-Sim. Afinal, só delirando para se recusar a ver seu filho e sua neta querida, ao escolher você!-Ela diz, acusatória, mais uma vez.
-E escolher a mim?-Respiro suas palavras. Ela revirou os olhos.
-Você foi a pessoa que causou o infarto, você estressou tanto o vovô que o pobrezinho quase não aguentou!-Ela comentou, risonha.
Respiro fundo, tentando conter minhas bochechas rosas de vergonha de demonstrarem minha timidez. Todos na mesa me olhavam com seus semblantes estranhos, uns sem entender, outros com olhares de riso. Quando estava pronta para levantar da mesa, a bela voz rouca de Travis invade meus ouvidos.
-Belo vestido, Alice...-Ele diz, firmemente.-Bem mais bonito que seu pijama rosa!
Solto um sorriso frouxo. Como ele conseguia fazer aquilo?!Trazer paz ao meu consciente e me dar coragem para ser quem eu quero ser, mesmo sem parecer ter intenção alguma. Apenas sua suave voz, conseguia me trazer um turbilhão de emoções e fazer-me sentir completamente confortável com isso.
Passo meus olhos ao redor, soltando um breve suspiro e retorno a encarar Savannah. Depois das palavras de ela soltou, eu não sabia exatamente o que fazer ou dizer, mas eu estava com raiva e olhar para aquele semblante debochado que minha irmã mais nova apresentava, só fez todo aquele sentimento crescer, dentro de mim.
-Bom...Talvez quem esteja delirando, seja você, Savannah. Vivendo nesse mundo de atuações, fingindo ser quem não é, manipulando pessoas, contando mentiras... E tudo para que?!Popularidade?!-Tomo coragem e digo tudo que estava entalado na minha garganta. Eu estava cansada de me sentir daquela forma e era horrível que tudo aquilo fosse causado por alguém que eu tanto amava, ainda mais sabendo que eu nunca faria uma coisa dessas, tanto com ela ou qualquer outra pessoa. -Se você quer atenção por popularidade... Talvez eu possa ajudar com isso, armando a porra de um escândalo aqui!
Os olhos de Savannah estavam arregalados, minha querida "Sis" estava irritada.
-Você não presta, irmã!Você não passa de uma maldita mejera loira, padrão... Você é uma falsa, uma cretina!-Digo, de forma gritante, chamando a atenção de todos.
Os olhos de Savanah se enchem de lágrimas rapidamente, devido a vergonha.
Respiro fundo, em fim controlando meus pensamentos, me retirando-me daquela maldita praça, em passos longos e estações. Eu sabia que mais tarde me arrependeria de toda aquela cena, mas naquele momento, eu só conseguia me sentir livre.
Enquanto rumava meus passos decididos, para fora dali, pude escutar alguns breves sussuros. "É impressão minha ou o patinho feio acabou de fazer a Rapunzel despencar da torre, enrolada nos próprios cabelos?"

Glass HeartWhere stories live. Discover now