Cinzas

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As pessoas são tão hipócritas... Elas exigem que você seja o que elas não são capazes de ser e te julgam pela eternidade, se você não seguir seus padrões e atender suas expectativas, mas a questão é que, eu não quero viver através das expectativas de ninguém. Então aqui vai o meu conselho... Não deixe ninguém lhe dizer quem você deve ser. Apenas siga o seu coração e ele lhe mostrará quem você será no final das contas...
Eu tinha certeza que os olhos de todos os presentes ali estavam arregalados assim como os meus. Não sabia como pudera fazer algo daquele tipo, sequer sabia que tinha tanta força e raiva acumulada dentro de mim.
-Papai!-Savannah gritou, ao se aproximar, em passos ligeiros.
-Eu estou bem...-Daniel falou, ainda um tanto catatônico. Felizmente o vaso não havia o acertado. Ou eu tinha uma péssima mira, ou eu simplesmente não queria acerta-lo mesmo.-Não graças a essa hipócrita que tenho a infelicidade de chamar de filha...-Ele completou, me lançando um olhar furioso, de desgosto.

Respiro fundo com um resposta grosseira já ferroando minha língua, quando minha mãe pôs-se à minha frente, resolvendo se envolver no assunto.

-Quem você pensa que é para falar de hipocrisia, Daniel?-Ela soltou, de forma séria.-Você... Logo você, querendo dar lição de moral.-Ela continuou a falar, pausadamente.-O pai ausente, o ser humano mal caráter...

-Agora eu vejo de onde ela puxou toda essa mal criação.-Daniel falou, em um tom superior.

Ao ouvir suas palavras, de significado ignorante, não via outra forma de resposta, a não ser agredi-lo. Minha mente não estava operando em estado normal, minhas emoções estavam todas ampliadas e eu nunca deixaria que ele ofendesse minha mãe, de tal forma. Avanço em passos rápidos e furiosos, em direção a Daniel. Eu estava disposta a ataca-lo fisicamente, quando alguém puxou meu braço, de forma certamente firme, fazendo-me virar para encará-lo.

-Travis?-Foi o que disse, quando nossos olhares se cruzaram.-O que faz aqui?-Perguntei, rapidamente. Por um segundo, eu esqueci toda aquela turbulenta situação anterior.

-Eu vim prestar minhas condolências...-Ele disse em um tom um tanto baixo.-Mas dei de cara com esse caos todo. Isso é uma tradição por aqui?-Ele soltou um profundo suspiro.-Brigas e escândalos em funerais?!

-Quem é você e o que está fazendo aqui?-Daniel soltou a questão de forma seria.

-Eu sou o namorado dela e estou fazendo o que você deveria fazer... Estou consolando, apoiando e dando amor à ela!-Ele falou, de forma perfeita. Eu não tinha ideia de que Travis trabalhava tão bem com palavras. Solto um sorriso frouxo ao ouvir suas palavras e logo vejo o rosto pasmo, de meu pai.-Quer sair daqui?-Travis rodeou suas mãos em minha cintura e aproximou seus lábios do meu ouvido para soltar as palavras delicadamente sussurradas.

Olho meu pai de relance e logo rolo meus olhos para o lado, tendo à minha visão, o rosto de minha mãe, que mantinha suas sobrancelhas arqueadas. Respiro profundamente, o que me inspirou certa coragem, viro-me novamente para o rapaz a minha frente. Ele nem me deu tempo de resposta e logo saiu me puxando para junto de si, me guiando para fora da igreja, parecia que ele sabia que eu não negaria seu convite. Como ele podia me conhecer tão bem em tão pouco tempo?

Nós descemos aos degraus da luxuosa igreja católica, de forma ágil, nos direcionando para uma praça, que ficava logo do outro lado da rua. Encontramos um banco de madeira que ficava localizado em frente à algumas árvores que criavam uma agradável sombra e nos aconchegamos nele.

Suspiro cansada, observando os pequenos pontos de luz do sol, invadirem o meio das pequenas folhas que se destacavam nas árvores. O ar estava gélido e a sensação que tinha, era como se cada parte do meu corpo estivesse se desligando aos poucos.

Glass HeartOnde as histórias ganham vida. Descobre agora