Já confiou em alguém?

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É estranho que quando perdemos alguém, a ficha demora a cair, não percebemos imediatamente que não poderemos mais ver seus rostos, abraça-los e demonstrar o quanto os amamos...
Eu estava na cabana de meu avô e ainda não havia me conformado que não poderia mais vê-lo. Isso era triste, pois as vezes me pegava planejando ir até o seu quarto, acorda-lo e fazer-lhe uma bela surpresa, com minha presença, alguns livros épicos e um pouco de chá.
Entre algumas breves dicas, Travis aprendeu rapidamente como se jogava o jogo favorito de meu avô. Era uma pena que aquela noite apenas ficaria guardada em minha memória, porque assim que o dia amanheceu e o sol quente nos agraciou com sua presença, eu sabia que não podia me esconder, precisava voltar para casa e encarar a realidade.

Soltei um longo suspiro, enquanto me levantava. Não havíamos dormido, pois passamos a noite jogando xadrez e Travis parecia não se cansar de perder. Ele era um belo jogador, ainda mais considerando que era um principiante, mas não se comparava a mim, com meus muitos anos de prática em tal jogo.

-Precisamos voltar, Travis...-Eu disse, em meio a um breve sussurro, sem sequer permitir que nossos olhos se cruzassem.

-Não é melhor ficarmos aqui por mais algum tempo, até que eles acalmem os animos por lá?-Travis perguntou, lançando a sugestão que eu já esperava. Era tentadora a sua proposta de continuarmos escondidos ali, mas eu sabia que não tinha nada a esconder e além do mais, devia uma explicação a minha mãe depois que sumi do funeral de tal forma.

-Não tenho nada a temer, não fiz nada de errado!-Disse, rapidamente, mais para convencer a mim mesma.-É melhor voltarmos.

-Se essa é a sua escolha, eu respeito, Alice maravilhosa...-Ele disse, em resposta a minha fala um tanto agitada. No fundo eu esperava que ele me convencesse a fugir de tudo aquilo, pois estava apavorada com a situação que teria com meu pai depois de todo o caos, mas também sabia que não seria certo fugir, embora parecesse o caminho mais fácil, não era digno. Eu precisava enfrentar as coisas de frente, por mais dificil que fossem, assim como meu avô me ensinou. "Dignidade é o calmante da alma." era o que ele costumava dizer. Ah, como eu sentiria falta de seus conselhos e ensinamentos tão sabios...

-Então... Vamos?-Travis me tirou de meus pensamentos, com sua bela voz, expressa em um tom tranquilizador.

-V-vamos!-Eu gaguejei, de inicio, enquanto juntava algumas coisas espalhadas pela sala e as arrumava, em seu devido lugar. Em poucos minutos já estava saindo da cabana, não sabia porquê, mas sentia como se não fosse ver aquele lugar por um longo tempo e aquilo tornava mais dificil deixar o lugar. Uma lagrima escorreu pelo meu rosto e eu rapidamente a enxuguei, com o casaco que me cobria e então, segui andando em direção ao belíssimo carro, onde Travis me aguardava.

A viagem de volta a cidade, não demorou muito, eu me perdi no silencio que nos cercava e deixei-me encantar pela paisagem ao redor, que me acalmava, até que os prédios começaram a invadir minha visão e então eu aguardei, até que a ansiedade começasse a me dominar, mas não aconteceu, o que era estranho, pois ao invés da ansiedade de sempre, tentar me consumir, agora havia um buraco em meu peito que me deixava um tanto entorpecida.

-Aqui estamos.-Travis soltou, ,em meio a um breve suspiro. Eu olhei ao redor e sem muita dificuldade, pude notar que já estávamos em frente a minha casa, assim como o elegante carro de meu pai, que atravessava a abertura da porta, em passos rápidos e furiosos. Ele não perecia ter notado nossa presença.

-Sua filha é uma irresponsável!-Daniel gritou, apontando para minha mãe, que espiava da janela da sala.

-Papai, calma!-A voz de Savannah surgiu, chamando minha atenção. Ela estava vestindo um elegante vestido rosado, justo em seu corpo, destacando suas belíssimas curvas e um sapato de salto agulha, de cor dourada e carregava junto de si, uma pequena bolsa bege.

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