sete.

1.2K 164 25
                                    


Margo acordou com o som da voz de Tony Stark. Não entendeu o que o mesmo dizia mas, por um momento, achou que, talvez, estivesse em casa. Sua verdadeira casa, ela queria dizer. Imaginou que, de algum modo, todo o dia anterior havia sido apenas um grande sonho, e que, em realidade, já estivessem na Terra, com todos os outros Vingadores, preprarando-se para reverter o estalo de Thanos.

Não era o caso. Foi apenas abrir os olhos de uma vez, que o lado bagunçado da cama, os retratos dela e de Steve Rogers, a roupa masculina jogada pelo chão, para que ela percebesse que nada havia mudado. Ainda estava exatamente onde deveria estar.

Escolheu vestir um vestido simples e fresco antes de finalmente sair de seu quarto, erguendo uma sobrancelha em surpresa ao ver Steve e Tony conversando alegremente na cozinha. Como se nada — até mesmo as confusões daquela realidade — nunca tivessem acontecido.

— Bom dia, amor. — Steve lhe beijou o rosto, quando a morena se aproximou. — Aconteceu algo no trabalho e eu terei que sair mais cedo. Não poderei te levar ao trabalho, me desculpe.

— Não é um problema. Posso levá-la. — Stark interviu, balançando um pedaço de torrada no ar e dando um longo gole em seu café. — Bom dia, Alessio.

— Bom dia. — Ela murmurou, pegando a xícara de café que Rogers lhe estendeu.— Sobre o que estavam conversando?

— Muitas coisas. — Ambos disseram, em uníssono.

— É, tenho que ir. — Steve murmurou, ao olhar o relógio em seu pulso. O mesmo terminou seu café em um único gole e beijou a testa da esposa, despedindo-se de Stark com um aceno de cabeça. — Até mais, Tony. Foi bom falar com você.

— Até, Rogers.

Nenhum dos dois disse qualquer palavra, antes de ouvir os passos de Steve se distanciarem o bastante.

— Meu Deus, vocês transaram. — Tony resmungou, colocando sua xícara vazia na pia da cozinha. — Vocês dois são motoqueiros? Quem joga tanto pó de café na pia?

— Ele te falou?! — Margo perguntou, surpresa. Falar sobre aquele assunto com Tony lhe soava ridículo.

— Eu estava supondo, mas você acabou de me confirmar. — O mais velho a encarou por alguns segundos, antes de balançar a cabeça. — Não se coloque em perigo, Margo.

— Steve não me faria mal.

— Eu sei que Rogers não o faria. Mas você precisa se lembrar que ele não é real. Nada aqui é. — Stark deu de ombros. — Só tente não se apegar a isso.

— É péssimo conversar sobre isso com você. — A morena murmurou, terminando seu café.

— Não seja tão dramática. Eu sempre soube de seus sentimentos por Rogers. — Tony esboçou um sorriso, que fez a morena revirar os olhos. — Vocês se aproximaram rápido demais, e o senso de proteção que ele criou sobre você me fez pensar se não havia algo além de amizade.

— Por que nunca conversou comigo sobre isso?

— Eu tentei, uma ou duas vezes. Mas acho que você acabava levando como uma brincadeira da minha parte. — O moreno inclinou a cabeça. — Vocês complicavam demais as coisas, com todo esse pensamento de que pessoas como nós não podem ter uma vida normal.

Houve uma pausa na fala de Tony, como se ele ponderasse sobre o que dizer a seguir. Só depois de alguns longos segundos, ele tornou a falar.

— Se não fosse por Thanos, eu estaria prestes a me casar com Pepper.

Margo engoliu em seco. Se estar lá era difícil para ela, deveria ser muito mais para Stark. Ele, que deixara tudo o que tinha na Terra, e nem mesmo sabia se Potts estava viva. Alessio sabia que perder Peter Parker após o estalar de Thanos havia lhe derrubado, e não gostava nem de imaginar o que seria de Tony se ele descobrisse que a mulher que amava também não havia sobrevivido.

— Você a tem aqui, além de duas crianças. Como não se deixa levar por isso? — A morena perguntou, o fazendo soltar uma risada anasalada. — Eu mal consigo respirar quando... Esse Steve está por perto.

— Você precisa manter em mente que te manter aqui, nos manter aqui, é tudo o que sua própria cabeça quer. — Stark se levantou da cadeira, dando de ombros. — Tudo ao nosso redor, mais especificamente ao seu redor, vai conspirar para que queiramos ficar aqui. Não me leve à mal. O que eu tenho aqui é tudo o que eu sempre quis ter com Pepper. Mas, ainda assim, não é meu. Por isso, eu não quero mantê-lo. Sabe que há muito mais onde deveríamos estar, não é?

Margo respirou fundo. Tony estava certo. Ultimamente, ele sempre parecia estar certo.

— Vamos, Alessio. — Tony finalizou, por fim, notando a expressão de confusão no rosto da morena. — Vou te levar ao trabalho, certo? Hora de ver os idiotas que me demitiram.

— E você pode ir lá?

— Se considerarmos que, agora, você é a manda-chuva por lá, acho que posso. — Stark sorriu, pegando seu casaco e as chaves de seu carro.

— Como foi acordar em um tempo completamente diferente, depois de ser congelado por tantos anos? — Margo perguntara à Steve, certa vez, em meio à uma partida de xadrez. Naquele dia em especial, Sam Wilson não aparecera por lá. Em um primeiro momento, tudo o que Rogers fez diante da pergunta foi soltar uma risada nasal, como se já estivesse cansado de responder àquilo. — Eu sempre quis perguntar, me desculpe.

— Não, tudo bem. Estava concentrado em minha jogada. Xeque, aliás. — Ele balançou a cabeça, movendo seu cavalo para uma casa próxima ao rei da morena. Não era uma boa jogada, a julgar a péssima finidade de movimentos possíveis para um cavalo, mas Margo se deu ao luxo de pensar em sua próxima ação. — Já estou acostumado, espero. Existem coisas das quais sinto falta, e outras que são indiscutívelmente melhores agora. Mas é onde eu vivo agora, então estou bem.

Margo assentiu, movendo sua rainha até o cavalo de Steve, capturando-o e fazendo o loiro murmurar um "o quê?!" incrédulo.

— Onde você aprendeu a jogar assim? — Ele perguntou,

— Em Sokovia, eu costumava jogar todos os dias. — Alessio deu de ombros. — Com meu pai.

— Sinto muito.

— Você não precisa dizer que sente muito sempre que eu cito a minha família, Rogers. Está tudo bem.

O olhar de Steve voltou ao tabuleiro, sem ter a menor ideia do que dizer. De qualquer modo, sabia que as coisas não funcionavam como Margo dizia. Boa parte de suas crises tinham como origem seus pesadelos envolvendo a família.

Além disso, ele havia notado que ela havia se desfeito de todas as fotos que tinha guardadas.

— De qualquer modo — Ele murmurou, preparando seu próximo movimento. Colocou sua rainha à frente, em uma área livre, e próxima ao rei da morena, que sorriu com a jogada. — Sabe que eu, que todos nós por aqui, na verdade, estamos aqui para o que precisar.

— Não sou eu que preciso de ajuda. — Ela brincou, capturando a rainha do loiro com sua própria rainha. — Você luta melhor do que joga, Steve. Deveria ficar apenas nisso.

— Muito engraçado. — Ele balançou a cabeça, como se estivesse profundamente decepcionado consigo mesmo. Ainda assim, havia um pequeno sorriso em seu rosto.

Rogers moveu seu bispo para próximo do rei de Margo. Demorou alguns segundos para que ela finalmente percebesse o que estava acontecendo ali. Steve havia acabado com as rotas da morena, fazendo com que ela mesma se encuralasse. Não havia uma rota de fuga sequer para que ela se livrasse da vitória do loiro.

— Xeque-Mate. — Ele riu ao notar a expressão plenamente surpresa da morena. — Disse que eu luto melhor do que jogo. Então, é assim que eu luto. Um ataque silencioso é sempre o mais eficiente.

— Não use seu conhecimento centenário contra mim, Rogers. — Margo balançou a cabeça, embora tentasse segurar um sorriso. — Revanche?!

✓ veneno ── infinity warOnde histórias criam vida. Descubra agora