thirteen.

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Parte da jornada é o fim. Margo descobriu aquilo em um domingo de manhã. Tinha tudo para ser apenas um dia qualquer, mais um dia ao lado de seu marido e, mesmo que não inteiramente, sua criança. Era o dia em que Steve insistia para fazer o café-da-manhã, por mais que ela tentasse impedí-lo, dizendo que ele já fazia coisas demais dentro daquela casa.

Era a vida que ela tinha ali. Uma vida confortável, com tudo o que ela mais sonhara durante toda a sua vida. E era exatamente ali que estava o erro. Há muito tempo, Alessio já havia aceitado que a vida perfeita era algo inalcançável. Que um bom casamento, crianças e um emprego incrível eram coisas que não faziam parte de sua vida. Soa pessimista, mas, para ela, mão passava de realismo.

Aquele lugar era a melhor enganação já criada em toda a sua vida. Melhor do que seus pais adotivos escondendo-lhe que haviam a adotado ainda pequena, do que a HIDRA dizendo que, mesmo aprimorada, ela seria capaz de viver normalmente. Ah, não. A mentira criada por si mesma era a pior de todas. Porque, independentemente do que fizesse, não havia como fugir.

Margo pensou como estaria o mundo real, após todo aquele tempo. Quantos dias haviam realmente se passado? Uma prisão dentro de sua própria mente não era o melhor jeito de morrer, após sobreviver ao estalo de um titã louco no meio do espaço.

— Terra chamando Margo. — Steve estalou os dedos em frente aos seus olhos. O loiro pousou um prato com um pedaço de bolo e suco sobre a mesa, e limitou-se a servir-se apenas de uma xícara de café.

A morena engoliu em seco, sem apetite algum. Encarou Rogers por alguns segundos. Seu marido. Precisou conter-se para não fazer uma careta. Aquele não era o seu Steve Rogers, e tinha vergonha de si mesma por deixar-se levar pelos próprios poderes e esquecer-se completamente de que o mundo real não era aquele. O homem que amava não era aquele. Os amigos que tanto queria por perto não eram os que havia encontrado por ali.

— Talvez eu tenha dito isso com frequência nos últimos dias, embora nã seja culpa minha. — Steve murmurou. — Mas você está quieta demais. Sabe, havia melhorado, mas desde que encontrou aquele médico... Não está com algum problema, está? Ou o bebê?

Margo balançou a cabeça em negação, talvez de forma mais exasperada do que realmente deveria.

— Hormônios. — Deu de ombros. E era uma boa desculpa, ela precisava observar. Não havia uma situação sequer que aquelas palavras não pudessem lhe livrar.

Porque, obviamente, ela não diria que havia descoberto que tudo aquilo era uma grande farsa, e que ela precisava sair dali o quanto antes, antes que universo inteiro colapsasse ao perder metade de seus habitantes.

Ou, talvez, era o que deveria dizer. Stephen havia lhe dito que deveria acabar com o que a mantinha lá, pois tudo baseava-se em seu psicológico, seu estado mental. E se não precisasse fazer o que achou que precisaria?! Não conseguiria encostar um único dedo em Steve, mesmo que não fosse o verdadeiro.

Até porque, de certo modo, aquele ainda era Steve Rogers. E ela tinha algo com ele.

— Você... Sabe, já se sentiu um pouco deslocado? — A morena encarou o loiro sentado à sua frente. — Como se nada fosse verdadeiro?

— Não, nunca. — Ele balançou a cabeça, negando, e Margo não pôde deixar de pensar que o nunca de Steve começara apenas há alguns dias. — Sabe o motivo, Margo? Porque eu tenho tudo o que eu preciso aqui, e sei que é verdadeiro. Porque, se não fosse, você não estaria aqui.

Margo engoliu em seco. Se não fosse, você não estaria aqui. Aquelas palavras a atingiram como um soco no estômago, e ela quase sentiu a comida que nem mesmo havia comido voltar garganta acima.

— Entendo. — Murmurou, de forma quase inaudível, desviando o olhar. O mal estar a atingira em cheio, e tinha a certeza de que não era apenas a sensação ruim no corpo da qual os médicos que a acompanhariam durante a bendita gravidez lhe avisaram.

Se não fosse, você não estaria aqui. Aquilo repetiu-se em sua mente inúmeras vezes. A sufocavam. A verdade tornava tudo aquilo demais para que ela pensasse com clareza.

Margo fora egoísta. Fora egoísta ao, após o estalo de Thanos, desejar que tudo o que sempre quis realmente lhe pertencesse, sem preocupar-se com o que as pessoas ao seu redor — naquela ocasião em especial, somente Tony — estavam pensando, ou melhor, precisando. Deixara levar-se, mesmo sem perceber, pelos poderes que adquiriu, colocando-se em um estado de total aprisionamento dentro de si mesma, onde, por mais simples que pudesse soar, a sua própria imaginação seria aquela capaz de criar qualquer regra.

Naquele exato momento, em algum lugar onde tudo era real, os Vingadores — ou o que quer que tivesse sobrado da equipe — precisavam de sua ajuda, da ajuda de Tony. Não apenas os heróis, mas também a Terra. Seus amigos, vizinhos, pessoas com quem nunca teve o mínimo esforço para se aproximar, pois escolhera viver com o medo de machucar qualquer um que se aproximasse. E estando ali, vivendo uma vida perfeita que, pelas regras do universo, era impossível, provavelmente impedia qualquer chance existente de salvar aqueles que se foram.

Margo levantou-se da cadeira, cambaleando.

— Ei, você está bem?! — A voz de Steve, pela primeira vez desde que a ouvira pela primeira vez, lhe causou ânsia de vômito.

Era como se a verdade estivesse revirando seu corpo, de dentro para fora. E a voz de Margo também foi a última coisa que ela ouviu, antes de tudo não passar de vultos e sons indecifráveis.

Ela acordou em um quarto de hospital, sozinha. Não havia Steve Rogers, Tony Stark, Stephen Strange... Nenhum rosto conhecido. Apenas ela.

Levantou-se com certa hesitação, e soltou um suspiro ao notar que não havia qualquer fio ou tubo conectado ao seu corpo para mantê-la viva, ou coisa do tipo.

Talvez tenha sido apenas uma queda de pressão, pensou. Do jeito que Steve é, isso é suficiente para me colocar em uma enfermaria.

— Acordou mais rápido do que eu esperava. — Uma voz familiar demais soou, logo atrás dela.

A morena quase tropeçou em seus próprios pés ao virar-se e dar de cara com ninguém mais e ninguém menos do que ela mesma. A figura idêntica à Margo estava sentada na poltrona ao lado da maca hospitalar, que também não estava vazia.

Sobre a cama, rodeada por fios, aparelhos e tubos para a oxigenação, estava Margo Alessio — outra, novamente.

— Espero que a situação não seja estranha demais. — A morena sentada sobre a maca sorriu, inclinando ligeiramente a cabeça. — Eu odiaria se nosso primeiros contato lhe causasse uma má impressão.

✓ veneno ── infinity warWhere stories live. Discover now