oito.

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Quando Margo era pequena, costumava dizer que seu sonho era ser uma jornalista. Em Sokovia, porém, as coisas não eram tão fáceis. A melhor chance de alguém que havia nascido por lá estava em se despedir de suas origens e procurar por qualquer faculdade de fora. O que, graças às péssimas condições de vida dos poucos habitantes da cidade, também não era algo comum. No final das contas, grande parte dos jovens sokovianos aceitavam seu futuro como vendedores na feira local desde muito cedo.

Foi o que aconteceu com Margo, mas não por sua própria vontade. Se tivesse a oportunidade, continuaria tentando conseguir uma bolsa de jornalismo no exterior até que fosse possível. Mas, com a descoberta de um câncer em sua mãe, e a pouca renda para a família que sobrava de seu pai, não ajudar a sustentar a família seria o maior egoísmo de sua vida.

Margo começou a trabalhar com dezenove anos, e só parou quando doou a si mesma para a HYDRA.

E, ao lado de Tony, ela não pode deixar de se surpreender ao ver que, afinal, trabalhava em uma empresa de jornalismo.

— Bem-vinda de volta, editora-chefe. — Stark sorriu, saindo do carro, acompanhado de Margo.

Quando Tony disse-lhe que ela era importante no local, ela não acreditou. Mas ao entrar pela porta principal ao lado do mesmo e ter a sensação de que todos pararam por alguns segundos para olhá-la, algo lhe disse que o mais velho não estava exagerando, ou caçoando com sua cara.

— Me diga que eles estão olhando para você, por favor. — Ela murmurou, indo até a recepção.

— Eu estaria mentindo.

— Afinal, o que me afastou do trabalho?

Tony pareceu pensar por alguns segundos. Não como se não soubesse o motivo. Muito pelo contrário, aliás. Stark parecia estar exatamente escolhendo as palavras para falar com Margo.

— Assuntos médicos, até onde sei. — Ele murmurou, por fim, recebendo uma olhadela desconfiada da morena. — É só o que eu sei, Alessio! Teoricamente, passamos meses sem nos falar, e eu não tenho uma bola de cristal para essa realidade.

— Margo Rogers! — A recepcionista exclamou, com uma animação quase contagiante, ao ver a morena. Ser chamada pelo sobrenome de Steve e não agir como se fosse uma grande surpresa seria um desafio. — Sentimos a sua falta, mulher!

A jovem olhou de canto para Tony, mas não o cumprimentou. O mais velho fez uma careta.

— Aqui está o seu passe. — Becca, como Margo pôde ler em seu crachá, entregou-lhe um pequeno cartão. Do tipo que a daria acesso à qualquer lugar, ela imaginou. Em seguida, apontou para Tony, mas não o olhou de fato. — Devo retirar um para ele?

— Com certeza, por favor. — Margo engoliu em seco ao notar o desconforto de Tony. Para alguém que sempre estivera em destaque em seu próprio trabalho, ser tratado como um qualquer deveria ser, no mínimo, estranho.

— O novo estagiário está em seu escritório. — Becca informou, finalmente entregando um cartão para Tony. Era como o de Margo, mas estampava o título de visitante em letras grandes e chamativas. — É o primeiro dia dele, então está bem nervoso. Mas é uma gracinha, eu acho.

— Certo, obrigada. — A morena assentiu, despedindo-se da jovem e caminhando nervosamente até os elevadores.

— Não acredito que, de certa forma, eu trabalhei aqui. — Tony resmungou, pendurando os óculos escuros na gola de sua camisa. — Jornalismo?! É deprimente.

— Você chamou meu sonho de infância de deprimente, Tony, muito obrigada. — Alessio riu baixo. — Você deveria ser um péssimo funcionário.

— Não duvido. — As portas dos elevadores se abriram, e os dois adentraram. Por um segundo, Margo paralisou. Onde era o seu escritório? — Último andar, sala 1203.

— Obrigada. — Ela murmurou, ignorando os olhares curiosos daqueles que também haviam entrado ali. Provavelmente a conheciam, mas ela não saberia dizer se os conhecia também. Talvez, no final, apenas estivessem preocupados com o fato de que ela parecia não lembrar-se de onde trabalhava.

Quando finalmente chegaram ao último andar — o décimo segundo, apesar de Margo odiar altura —, Tony insistiu para que parassem em uma pequena cafeteria, onde pediu dois cafés extrafortes.

— Eu não quero café, Tony. Nós já tomamos em casa.

— Os dois são para mim, Alessio. Preciso de algo para absorver tantas informações.

Margo balançou a cabeça em desaprovação quando Stark se afastou da bancada com dois copos fumegantes de café. A morena revirou os olhos e continuou andando, na procura por sua sala. A 1023 era a última de um extenso corredor, e levava o nome de Margo em sua porta.

"Margo A. Rogers, diretora-chefe".

— Não vai abrir? — Tony perguntou, impaciente. — O café está quente, caso tenha dúvidas.

— Cale a boca, Anthony. — Margo resmungou, finalmente adentrando a sala. Tratava-se de um extenso escritório, com uma própria cozinha e banheiro, além de uma pequena sala de visitas. Que, por sinal, não estava vazia.

Tony Stark segurou um suspiro surpreso ao ver Peter Parker ali. E Alessio não esperaria menos do mais velho. Sabia do impacto que ver o Homem-Aranha transformando-se em pó diante de seus olhos, em seus braços, havia lhe causado. Afinal, a morte do jovem era como a sua própria morte.

— Oi! Quero dizer, bom dia, senhora Rogers! — O acastanhado se levantou do pequeno sofá, um tanto desajeitado, quase tropeçando em seus próprios pés. Não pareceu notar o olhar espantado de Stark. — É muito bom finalmente conhecê-la. Meu nome é Peter Parker, eu sou o estagiário novo.

— Ouvi dizer que estaria por aqui. — Margo forçou um sorriso, virando-se para Tony o quanto antes. — Tony, acha que pode mostrá-lo à empresa?

— Eu não trabalho aqui. — O mais velho balançou a cabeça, de forma quase desesperada.

— Agora trabalha. É meu, sei lá, secretário, ajudante, seja o que for. — Margo deu de ombros. Sabia que ela seria a responsável por mostrar o lugar e passar instruções à novos funcionários. Mas, além de não saber absolutamente nada sobre aquela empresa, sabia que seria interessante manter Peter próximo à Tony. Talvez, por estar em Titã antes de desaparecer, o mais novo soubesse de algo. — Leve o tempo que precisar.

Leve o tempo que precisar. Era o recado disfarçado que, na realidade, lhe dizia "estarei ocupada tentando resolver nossos problemas, não me interrompa e aproveite o tempo com o garoto".

— Droga. — Tony murmurou, abrindo um sorriso para Parker. — Vamos, garoto. Quer café?

— Aceito. — O jovem assentiu alegremente, pegando um dos cafés da mão de Stark. — Eu não sei o nome do senhor.

— Tony Stark. — O moreno informou-lhe, já a caminho da saída do escritório.

— Certo, certo. — Parker engoliu em seco, o acompanhando. — Senhor Stark, sabe onde fica o banheiro?

✓ veneno ── infinity warHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin