I wouldn't change a thing, 'cause everything changes

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Eu não mudaria nada, porque tudo muda.

Firebird - Owl City

Passara cerca de um mês desde que havíamos voltado dos EUA. A vida retomou seu ritmo normal. Quer dizer, mais ou menos. O que aconteceu é que tive que voltar para a graduação, para minhas expedições de pesquisa, mas sem a presença do Tom. Como eu já esperava, depois do fim das filmagens, ele teve de fazer toda a parte de divulgação do filme. Entrevistas, idas a eventos nerds, sessão de fotógrafos, enfim... Todas essas coisas.

No entanto, tenho que admitir que em muitas ocasiões, em meio as nossas poucas conversas pessoalmente, eu parava de prestar atenção no que ele estava falando e começava a me centrar em seu rosto.

Agora sua fisionomia era outra e eu nem pude perceber em que momento a transição havia acontecido. Seus cabelos loiros estavam mais longos e pareciam mais escuros. Assim, toda vez que eu o via de costas ou mais a longe eu conseguia ver sua fisionomia diferente com o volume de seu cabelo. Os fios caiam sobre outros fios e formavam um desenho. Às vezes ele olhava pra mim tão sério. Parecia tão concentrado. Era um olhar único em que mal parecia que ele já teve uma aparência tão jovem. Enquanto conversávamos, percebia o quanto eu havia mudado. O quanto ele havia mudado. O quanto nós mudamos. Modifiquei tanto sobre as minhas ideias de fama, de amor, da vida em si. Porém, essas transformações eram tão mais visíveis nele. Eu parecia sempre a mesma.

Deixara a barba crescer pelo seu rosto deixando para trás suas feições juvenis. Claro que antes ele ainda era um homem muito bem formado. No entanto, nesse momento, sua aparência era de uma pessoa mais madura. Seu visual condizia com a maturidade de sua idade e de sua mentalidade. Seus óculos, os quais usava com mais frequência, davam um certo de ar de amadurecimento. Mas, seus doces olhos, seu doce olhar, seu sorriso simples e amável não havia mudado assim como seu jeito meigo, fofo, atencioso e amigo. Seus abraços continuavam tão acolhedores como antes assim como o toque dos seus dedos nos meus. E nosso vínculo não havia sido desviado, mesmo que tantas outras coisas tivessem esse mesmo destino que é a transformação. Nessas reflexões eu me perguntava se algo mais havia mudado e eu não tinha percebido: sua voz? Seu jeito? Algo em sua maneira de andar ou de agir? Bem, talvez essas coisas mais específicas eu só venha a notar depois de certo tempo.

Agora conseguia acariciar seus finos fios de cabelo loiro e sentia sua barba na minha bochecha. Apenas nesses instantes, eu parava para observá-lo e perceber que as coisas mudam. O modo como as transformações acontecem, o tempo que levam para mudar, o que realmente tinha se modificado não estão dentro do nosso controle. Somos apenas meros agentes e expectadores dessas alterações e, de repente, paramos para refletir e notar as mudanças que aconteceram.

Todas essas reflexões que vinham a minha mente me faziam pensar como o tempo é relativo para cada pessoa. Como a intensidade dos acontecimentos varia para cada ser humano que vivencia ou não determinados fatos. E que, por mais que nos sentimos magoados ou tristes com o que ocorre em nossas vidas, eu não me arrependia de nada do que havia feito pelo Tom, pelo Loki, por mim. Eu manteria cada pequeno detalhe, cada palavra dita porque o conjunto de tudo fez com que eu aprendesse, com que eu evoluísse, com que eu deixasse uma parte de mim para trás, mas também fez com que eu me reconstruísse de uma nova maneira. E, no final das contas, isso era o que mais importava.


The End for UsWhere stories live. Discover now