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7 MESES ANTES

Era só uma bebida, em uma sexta à noite comum com a Ana, nada muito grandioso. Eu não preciso me preocupar, afinal não estamos em um relacionamento sério, estamos? Já fazia dois anos desde a vez que conheci Ana no aniversário de Lis, na hora que meu olhar se perdeu naquela mulher eu percebi que eu estava enrascada. E quando acordei do coma, ou quando ela parecia um anjo em seu vestido azul no casamento de Lis pude constatar que ela não mudou nada, na verdade acho que a desgraçada conseguia ficar mais linda a cada dia. Seu cabelo loiro que parecia ser tão macio quanto às nuvens de um céu ensolarado, seus olhos azuis que me receberam assim que acordei naquele hospital depois do acidente, e a boca rosada era uma obra completa que eu poderia apreciar por horas a fio que eu só viciaria mais a cada vez que eu olhasse novamente.

Apesar do seu corpo me despertar vontades que deixariam ambas sem ar em minutos, eu não achava certo arriscar, ao contrário de mim Ana era uma mulher que gostava tudo certo e regrado. Não acredito que só uma trepada se encaixaria bem para ela, e eu não estou interessada em relacionamentos no momento. Então toda vez que sinto uma chama se acender eu dou um jeito de jogar água fria, já aprendi com meu irmão que se envolver em um relacionamentos e não for de corpo e alma, podemos machucar ambos, e eu não tenho nenhuma intenção de machucá-la.

Logo que a avistei, acenei e fui indo em sua direção, queria lhe contar as novidades de meu novo projeto, não que fosse do interesse de uma médica, mas simplesmente por estar em sua presença, era gratificante estar ao lado de alguém sem ter porquê, simplesmente por gostar uma da companhia da outra. Eu não tinha muito isso na minha família, pois quando eu tinha 21 anos meu pai faleceu em campo, ele era policial chefe da área de assassinatos, tudo acabou para mim naquela casa. Ele era o único que me olhava com orgulho e amor, por isso ao fazer 18 anos fui trabalhar na polícia e como eu amava trabalhar ali. Quando fiz 20 anos contei para minha família que era bissexual, foi quase uma guerra travada na mesa de jantar, minha mãe que parecia já não gostar muito da minha atitude de ser policial chegou ao seu limite, acho que ela só não fez um vexame pior porque meu pai e meu irmão apaziguaram a situação. Mas um ano depois meu pai morreu, e vi minha vida virar um inferno. Meu irmão tinha passado na faculdade de engenharia civil - que era a área que minha mãe queria que eu seguisse, para herdar a empresa da família dela. E então no meio daquela pressão de ser a filha perfeita eu larguei meu emprego na polícia com quase 23 anos e fui fazer faculdade de arquitetura achando que isso bastaria, eu não poderia estar mais errada. A mulher parecia odiar qualquer decisão que eu tomasse, então eu peguei minha coisas e saí de casa, até um belo dia derrubar meu café no trabalho de uma menina do campus - Elisa. O melhor dia da minha vida, até tentei manter meu trabalho na polícia por algum tempo, mas eu não conseguia dar conta. Então depois de seis meses eu deixei definitivamente o lugar que eu mais me senti feliz e fui atrás de algo que pudesse trazer o orgulho no olhar da minha mãe como eu já tinha visto do meu pai algum dia.

Então por isso eu apreciava toda e qualquer forma de afeto que me aparecia. Pareço meio precipitada, eu sei. Mas infelizmente, sou aquele tipo de pessoa que ama fácil, Elisa minha melhor amiga e agora minha atual cunhada, diz que isso é muito perigoso e ao mesmo tempo muito lindo. Eu não consigo ver beleza em alguém que se apega tão fácil, na verdade é muito difícil, pois vivo em um eterno ciclo solitário a maioria das vezes que caio de corpo e alma em algo ou alguém.

Estou quase chegando à mesa, quando And aparece na minha direção todo sorrisos. Andrew adotou - na teoria, porque ela já tinha dezoito anos na época. – Elisa e Samuel, seu irmão, depois de um terrível acidente que aconteceu há muitos anos atrás, no qual levou toda sua família, bem nem toda. Ela tinha ainda Andrew, Kiara e Amélia, filha deles, não eram de sangue, mas Elisa nunca ligou para esse detalhe. E assim que eu os conheci também os considerei minha família.

O mistério de GraceOnde as histórias ganham vida. Descobre agora