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Ana

- Ah, eu já ía me esquecendo, faça os exames dos 4 pacientes do segundo andar, depois cheque com a doutora Ferraz a criança nova que chegou. E enquanto eu vou para meu almoço você pode ver com o Will se a cirurgia daquela senhora irá ser hoje. - E então depois de despejar todo o seu trabalho em mim, ela saiu rebolando pelos corredores do hospital.

- Inferno de mulher, Angel deve ter sido despejada até na fila de satã. - Digo para mim mesma enquanto vou atrás dos exames que já havia pedido no começo do dia, pois já esperava que quando me falaram que eu ficaria na cardiologia seria na verdade um dia de escravidão.

Porque a desgraçada tinha que ser tão boa no seu trabalho? Eu nem posso pedir que ela erre, porque são pessoas correndo perigo de vida, então só espero o momento que alguém a substitua. Pelo menos há algo bom em ela me escravizar, eu aprendo muito mais do que os outros residentes, já que ela me dá todo o seu trabalho e mais o meu. Eu sei que se eu não fosse melhor amiga do ex-namorado dela eu não receberia está atenção. Porque a flor morta aí acha que eu quem roubei ele, não importa que esteja claro com letras piscantes que única coisa que minha boca aprecia é o mesmo que ela repudia, mulheres sensatas e com papas na língua.

São quase três horas da tarde e eu ainda não almocei, e nem irei, já que terei uma cirurgia com a víbora daqui 15 minutos, então passo no café para pegar algo rápido para engolir, Mariah está lá com Henry. Enquanto um prepara outro atende. Eu peço um salgado pequeno e um café expresso forte.

- Expresso forte? Está na cardiologia Ana? - Mariah pergunta enquanto prepara meu lanche.

- O que me denunciou? A minha carranca ou o stress exalando dos meus poros?

- O café forte, que você detesta e só me pede se for estritamente necessário. - Realmente, eu geralmente gosto com creme, chocolate, açúcar. Gosto de adoçar minha vida, mas Angel me tira até isso.

- Infelizmente você acertou.

Agradeço e devoro meu salgado em três grandes mordidas, vou tomando meu café em goles pequenos até chegar à sala de cirurgia. Jogo fora o copinho, coloco a camiseta e calça azul de cirurgia, máscara, luvas e respiro fundo antes de entrar. E então a víbora me apronta a pior de suas bruxarias, ela não parece para cirurgia. Hoje eu mato essa mulher.

- Como assim ela sumiu? - Pergunto a todos na sala, a paciente está pronta para a cirurgia, é um transplante de coração. Ou seja não podemos adiar até a madame resolver aparecer.

- Dra. Schwartz você terá que iniciar a cirurgia, não sabemos mais quanto tempo a paciente vai aguentar, mesmo com a anestesia. - Ouço o anestesista falar.

- A pressão de oxigênio está baixa, e o coração chega de Nova York em dois minutos, se não começar essa cirurgia agora. Está paciente morre. - Enfermeira informa, e todos me olham esperando minha resposta.

- Inferno de mulher! Tudo bem vamos começar esta cirurgia, Karen me passe o bisturi.

Depois de passado quase duas horas em cirurgia, estou finalmente suturando o peito da paciente, que apesar de ter perdido muito sangue está respondendo muito bem ao novo coração, e com os batimentos cardíacos ótimos. E quando estou finalizando meu último ponto a doutora Angel Ratzo entra desesperada dentro da sala, com sua máscara pendendo. E aquilo alí em seus lábios é um batom borrado? Ela abandonou a sua paciente porque estava se pegando com alguém? Eu respiro fundo, e volto minha atenção para paciente, como se ela não tivesse passado por aquela porta. Termino tudo e aviso a todos que a paciente já pode ser encaminhada para um quarto. 

Passo por ela como se não fosse nada, tiro minha luvas e vou lavar minhas mãos e sinto que ela continua me encarando. Após jogar o sabonete fora, tiro minha máscara e antes de sair para avisar os familiares da ótima cirurgia a mulher se coloca a minha frente e coloca uma mão em meu peito.

- Onde você pensa que vai? - Beijar seu residente que não é, isso é o que eu queria gritar. Mas por uma paciência que eu nem sabia que ainda possuía, eu a olhei e disse com a voz mais calma que assusto até a mim mesma, já que estava explodindo por dentro.

- Eu? - Digo apontando para mim mesma. - Eu vou avisar os familiares da paciente que a cirurgia que EU realizei foi um sucesso.

- Não seja boba você é só uma residente, ainda falta um ano para você virar médica de verdade. Eu farei isso, você pode ir ver o paciente do quar.. - Desculpa qualquer divindade, mas tudo tem limite e minha paciência é uma delas.

- Médica de verdade? E isso seria você, que ao invés de vir para sua própria cirurgia que você era a responsável, fica aos beijos com qualquer um? - Ela abre a boca para me refutar mas e sou mais rápida. - E nem me venha falar nada, que todos nessa sala virão seu batom borrado, e ninguém conseguiu te contatar. Seu eu não fizesse a cirurgia, e você sabe muito bem isso melhor que qualquer um, a paciente estaria agora morta na mesa de cirurgia, e eu teria o prazer de reportar o porque.

Passei por ela como se fosse nada, abri a porta e fui até a recepção falar sobre a cirurgia, sozinha e pela primeira vez com o amor pela cardiologia que antes eu desconhecia.

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Hoje ta sendo um dia daqueles para as minhas meninas, calma que o fim de semana ta chegando. 

Gostaram? Que tal deixar sua estrelinha?

O mistério de GraceWhere stories live. Discover now