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Três músicas, duas garrafas de água e uma hora depois eu estava finalmente sentada ao lado de Ana, estava quase de garganta seca quando lhe falei – que ótimo jeito de começar uma noite.

- Eu disse que você iria arrasar!

- Você disse que era viciante, eu vou ter que concordar é viciante se sentir livre no meio de inúmeras pessoas te encarando.

- Se gosta tanto de cantar porque não o faz sempre?

- Eu faço, mas não para multidões.

- Entendi, pedi um Chopp para você, mas já tomei metade. – Pego a caneca de Chopp pela metade e dou um belo gole.

- Hmm que delícia. Então o que me conta de novo? Lis anda sendo uma boa chefe?

- Sabe que ela não é minha chefe, exceto quando eu trabalho na pediatria, mas essa semana estou na ortopedia com Bella.

- Bella é um amor, adoro ela. – Conheci Isabella, quase ao mesmo tempo que Lis, minha melhor amiga, elas fizeram a residência juntas, e como eu e Lis morávamos juntas na época, era inevitável não conhecê-la. – Perguntei sobre Lis, por que ela me parece meio estranha ultimamente, não tenho certeza ainda do porquê, mas suspeito.

- Diferente é? Vou prestar mais atenção. – Ela esticou a mão para beber mais um gole, mas eu nem percebi que já havia tomado tudo.

- Desculpe, se quiser eu posso pedir mais. – Disse me levantando, mas ela segurou meu pulso, e sorriu carinhosamente. Às vezes acho que ela poderia ser a própria Afrodite encarnada, pois ela me convencia só com um olhar, ou uma pequena frase.

- Não precisa, já esta tarde. E amanhã eu tenho plantão de 12 horas, preciso descansar.

- Certo, você quer uma carona?

- Não precisa se preocupar Clara, minha casa fica há um quarteirão daqui.

- Eu insisto, esta tarde e... Eu detesto usar esse argumento, mas você é mulher. – Ela me encara por alguns segundos, e parece estar traçando um plano para me dizer não, mas ela respira profundamente e diz.

- Que seja, acho que uma carona seria bom afinal.

Eu chego em seu apartamento em menos de cinco minutos, já que não havia nenhum movimento praticamente, e quando chegamos eu quase não acredito no prédio que eu vejo. É enorme, parece ter mais de trinta andares, todo espelhado e na sua lateral nas mini varandas tem várias flores que se misturam com a parede do prédio, parece um prédio geométrico pois as janelas dão sensação de algo 3D, estou totalmente maravilhada. Minha vontade era entrar ali, e descobrir cada detalhe do lugar.

- É lindo, não sabia que morava em lugar tão...

- Chique?

- Também, mas estava pensando em falar moderno.

- Meus pais insistiram para eu morar em lugar.. hã.. Aconchegante, então achei esse lugar.

- Encantador.

- Isso que você ainda não conheceu a cobertura, um dia te convido para conhecer.

- Seria um prazer. – Digo empolgada.

- Então, obrigada pela carona – ela se aproxima e me beija na bochecha e sai do carro me acenando, e entrando naquele prédio.

~*** ~

Chego em casa, desligo meu bebê e procuro minha chaves na bolsa – Droga! – Eu tenho a grande falta de sorte de perder tudo com uma rapidez que qualquer um não imaginaria, mas como estou acostumada eu deixo uma chave reserva dentro do vaso de planta ao lado da porta. Já é a quarta chave só esse mês, mas eu não me preocupo, pois depois de um período de duas semanas eu acho tudo que perdi, ou objeto me acha. Eu sei, inacreditável como alguém pode ser tão desorganizada na vida e rainha da perfeição no trabalho, prazer Clara Evans, a estranha não compreensível.

Pendurei meu casaco, bolsa e chaves, e tiro meu sapatos e vejo um vulto laranja passar por meus pés. Pego Luna em meu colo e a beijo – oi garota, senti saudades – ela mia, e volta para o interior da casa. Aperto nas mensagens da secretária do telefone, pois aparece que há duas mensagens de voz – sei que parece meio antiquado, mas você vai perceber com o tempo, que eu acho o que você chama de antiquado de muito encantador. – Enquanto ouço mensagens de voz de minha mãe reclamando de algo que com certeza não deve ser nada grave pego as cartas que chegaram do correio.

Nada de interessante, algumas contas, propaganda e o jornal do dia, e então meu telefone para de gralhar e percebo uma carta no chão da minha porta, ela não tem endereço e parece que foi jogada por debaixo da porta, acho que a pessoa não viu minha caixa de correio. Mas quando abro-a para ler, tenho quase total certeza que essa carta não era para ser minha, afinal tinha o nome de outra pessoa endereçada.

Querida Grace,

Estou chegando perto de tê-la novamente.

N.M.

Eu viro a carta para ter certeza que não tem mais nenhuma informação, mas não acho mais nada ali escrito. – Que estranho, será que essa carta é para outra pessoa? – Me questionei, afinal meu nome não era Grace, e sim Clara.

Olhei novamente para as duas letras no rodapé da carta "N.M." Mas isso não me lembrava absolutamente nada, como moro em um bairro de várias casas coladas passou pela minha cabeça que a pessoa tenha errado a carta, é algo bem possível, já tive várias contas minha entregues sem querer na casa dos meus vizinhos - isso que tinha meu nome nelas. - Como o Sr. Petres que se mudou para a casa ao lado da minha após a piora da saúde de sua esposa. O que foi muito benéfico para Lis e o Fe que agora moram na antiga casa dele, que fica há algumas quadras daqui.

Como sou muito cautelosa com coisas estranhas – devido meu antigo trabalho, resolvi guardar a carta na minha gaveta do Hall de entrada. Fui em direção ao meu quarto e depois de uma banho relaxante em segundos eu já estava dormindo.

O mistério de GraceWhere stories live. Discover now