Cap. 11

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“ Cresci numa cidade pequena, e quando a chuva caía, eu ficava na minha janela (...)
Prédios com centenas de andares
Rodando em portas giratórias, talvez, eu não saiba para onde elas me levarão (...)
Tenho que continuar, continuar...
Voar para longe
E me libertar (...) ”

A canção “Breakaway” de Kelly Clarkson definia exatamente o estado emocional de Talita na situação que estava vivenciando.

Ela entende que de fato está perdida em Curitiba, e começa a andar desesperada de um lado para o outro, não sabendo o quê fazer. Havia saído sem o celular. Como pôde ser tão imprudente? Ane estava certa em censurá-la. Sua noiva só queria o seu bem, por mais que seus conselhos soassem duros. Porém, a ansiedade, o tédio e o estresse lhe fizeram agir sem pensar nas consequências de seus impulsos. Avistou alguns moradores de rua e pensou em ir até eles para pedir ajuda, mas contém os movimentos assim que percebe que seria inútil, já que sequer sabia o endereço de Ane, e provavelmente eles não tinham um telefone para lhe emprestar. Um telefone! Isso. Talvez encontrasse um orelhão e foi isto que começou a procurar pelas ruas silenciosas, exceto por alguns carros que passavam vez ou outra. Nervosa, quase tropeçou no leito de uma daquelas criaturas, que não entendia porque tinham que viver em condições tão deploráveis. Onde estava as autoridades públicas para tomar alguma providência? E as famílias daquelas pessoas, será que sabiam onde elas estavam, e o mais importante: será que estes próprios seres moravam na rua porque queriam ou por causa de algum vício? Não se conformava. Desejava resolver os problemas do mundo e acabou mergulhando nos pensamentos conturbados mais uma vez. Os raros telefones públicos que encontrou por causa da pouca demanda, estavam danificados graças ao vandalismo. Com o número crescente da tecnologia ninguém os utilizava mais. Inadmissível! Ninguém cogitava numa emergência? Sua aflição aumentou e neste exato momento é surpreendida.

- Mãos para cima, isso é um assalto! - uma voz intimidadora se fez ouvir atrás dela, cutucando desagradavelmente sua coluna com alguma coisa.

“ Como assim, um assalto? Que esterco! Mais essa agora pra foder com o resto!” -  questionou ao se virar, fitando um rapaz franzino com uma pistola em uma das mãos, trajando um moletom surrado de viscose cobrindo uma parte do rosto propositadamente para não ser identificado.

- Ei, eu já estou com as mãos para cima! - replica observando que não havia as tirado do pescoço na exaltação.

- Que se dane! - o assaltante pestanejou conferindo os bolsos da moça.

- Eu não tenho nada de valor  aqui! Acho que vai ter que levar minhas roupas! - sugeriu num tom de ironia.

- É, pode ser então! Devo conseguir uma grana com esse adidas e a gap.

Talita arregalou os olhos, boquiaberta com a ousadia do homem, ponderando no seu sarcasmo.

- Mas pense cabra: eu não posso sair por aí pelada! - argumenta astutamente, ou por pura ignorância - Posso me resfriar e pegar uma baita de uma pneumonia.

- Guria! Tira logo essas roupas! - revirou os olhos - Antes que eu perca o pouco da minha paciência e atire em você, o que vai ser bem pior! Não estou nem me fodendo pro fato de você gripar!

- Tu não quer fazer isso! Muito menos atirar em mim! Vai sujar suas mãos, e sua consciência vai pesar pro resto da sua vida, isso se não tiver a “sorte” de ser preso! - aconselha espontaneamente.

- Ham? De onde você saiu? - o ladrão questiona desnorteado. Era a primeira vez que uma vítima tentava dissuadi-lo na maior paciência e ainda lhe dar lição de moral.

- Vicente Diaz. Aliás, aquela cidade é linda. Tu devia conhecê-la. Localiza-se na zona da mata mineira! -  contou orgulhosa não entendendo o deboche em sua expressão.

Minha Cowgirl na Cidade ( Sáfico) Where stories live. Discover now