Cap. 49

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Ane toma o caderno da madrasta e alisa a folha com a palma da mão e os dedos para constatar de qual desenho ela indagava.

- Me desculpe, Ane. Eu estava arrumando o quarto quando encontrei esse caderno no meio dos outros papéis na escrivaninha. Espero que não pense que estou invadindo seu espaço por intromissão. É que você sempre faz tanto nessa casa que me senti no dever de te ajudar no meu dia de folga para te dar mais tempo com a Talita e para o lazer... - Laine explica sem pausas com receio da enteada tomar impressões equivocadas.

- Tudo bem - Ane respira profundamente. - Não se preocupe. Acho que já passou da hora de contratarmos uma ajudante, né? Esse apartamento dá muito trabalho - sorri fraco e Laine retribui. - E afinal, não devem mais existir segredos entre a gente - ela comunica sentando-se na cama e a madrasta acomoda-se ao seu lado com um ar de concordância. - Eu tive algumas visões com essa mulher há um tempo, em que ela roubava a Talita de mim e a afogava num lago de braços.

- Depois não a viu mais?

- Não. Na verdade o último espírito que me lembro de ter visto e falado comigo foi a Margô. Mesmo que eu enxergue alguns vultos aqui e acolá, eles não se comunicam mais. O Tião e minha mãe também sumiram.

- Eu a conheço.

- Como isso é possível?

- Não sei, Ane. Seus dons são realmente impressionantes. Você teve contato com uma pessoa que se liga a mim mesmo antes de nos conhecermos.

- E que ligação essa a Viúva Negra tem com você?

- Somos irmãs - Ane abre os olhos mais do que o necessário ao fitar Laine proferindo a revelação. - Ela morreu há dezoito anos, vítima de uma doença incurável e foi enterrada exatamente com essa roupa. Beatrice era uma religiosa fanática. Antes de falecer, ela conheceu um rapaz por quem apaixonou-se e iludiu-se perdidamente, e acabou engravidando. Minha irmã nunca aceitou a criança, porque ele a abandonou no dia do casamento, mas abortar ia contra seus princípios.

- E onde está o filho dela agora? Ele sobreviveu?

- Sim; um menino lindo e saudável. Ele está conosco nessa casa.

- Edgar? - Ane está cada vez mais assustada. Sequer imaginava tudo isto.

- Sim. Eu cuidei dele como se fosse meu próprio filho, mas na verdade sou só tia dele. Eu era casada e tinha uma vida estável, toda estrutura necessária para adotá-lo. Meu marido se apegou muito a ele e Edgar sofreu com seu desencarne.

- Ele sabe disso?

- Não. Nunca tive coragem de contar. Apenas Marjorie sabe, e mesmo assim foi porque ela soube inconscientemente pelo seu dom.

- Mas o que sua irmã tem a ver com a Talita?

- Não sei. Estou tão surpresa quanto você. Ela já morreu tem tantos anos. Te peço que não comente nada disso com ele. Não acho necessário que saiba da realidade dos fatos. Edgar já é um rapaz formado.

- Ok, não se amofine. Você tem toda razão. E pais são aqueles que criam, apesar de achar que ele merece saber da verdade, no entanto, não te julgo, respeito e compreendo sua posição - Laine sorri suavemente e dá alguns tapinhas carinhosos na mão de Ane. - Quero te pedir desculpas pela forma hostil que eu tratei você e aos meninos desde o começo.

- Tudo bem, Ane. Já passou e meus filhos também não foram muito amigáveis com você e o Geovane. Felizmente, nos entendemos e o que é mais importante: meus filhos conheceram pessoas especiais como eles, estão seguros e podem se desenvolver com tranquilidade.

- Me prometa que vai cuidar do meu pai quando eu partir? - Ane implora com os olhos já marejados. - Marjorie já deve ter te contado.

- Sim, eu já cuido dele e vou cuidar e amar ainda mais. Farei tudo que estiver ao meu alcance para fazê-lo feliz e confortá-lo.

Minha Cowgirl na Cidade ( Sáfico) Donde viven las historias. Descúbrelo ahora