Cap. 15

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A vaqueira entra no banheiro suando frio. Solta a mochila no chão e lava o rosto diversas vezes.

Algumas moças a encaram intrigadas. Talita age como se estivesse sob o efeito de algum entorpecente. Pensam que se ela está sofrendo de  abstinência o problema é dela e vão embora depressa assim que secam as mãos.

A morena sequer percebeu a forma hostil com que foi observada. Seu mal-estar é tão intenso que nem nota o mundo ao seu redor. Fita sua imagem refletida no espelho. Respira fundo, fecha suas castanhas e imagina que mergulha numa das cachoeiras pedregosas de Vicente Diaz, e só retorna a superfície após explorar suas profundezas exuberantes. Por fim, se sente mais tranquila. Precisa se controlar, tomar as rédeas de si mesma e dominar a situação. Afinal, havia enfrentado muitas coisas ruins para não conseguir lidar com algumas novidades. Tem que aceitar que está refazendo sua vida no sul do país, lembrar-se que fez isto por amor a sua sardentinha e seguir em frente de cabeça erguida fazendo jus a sua personalidade forte. Não é uma garota fraca e necessita mostrar isso para si mesma.

Solta uma longa expiração, determinada, e ajeita a bolsa no ombro. Enfia as mãos nos bolsos dianteiros como de costume e sai dali com os passos mais decididos.

No corredor evita olhar diretamente para as pessoas. Sentir-se estranha, como um extraterrestre no planeta Terra, lhe molda uma timidez nunca existida antes. É como se estivesse descobrindo partes ocultas de si que se adaptam as circunstâncias.

Finalmente no andar térreo, visto que não é nenhuma fã de prédios, congela ao avistar um laboratório em que janelas de vidro enormes substituem as paredes comuns, onde também existe uma estufa proporcionando aos alunos um contato direto com o objeto de estudo. Uma das alunas que examina algo num microscópio, percebe o interesse dela e corresponde o olhar. Talita sente as bochechas corarem assim que a nota e não ignora a beleza da garota. Ela é branca, tem cabelos castanhos e uns olhos claros que não chegam a serem verdes nem azuis, talvez sejam cinzas. A estudante usa um casaco de lã vermelho pendurado nos ombros cobrindo parcialmente a regata branca justa que desenha perfeitamente seu colo avantajado. A vaqueira desvia o rosto e sai andando meio desnorteada assim que se dá conta de que havia sustentado o olhar mais do que deveria.

A peoa para num local arborizado isolado. Tira os sapatos e senta na grama. Fecha os olhos e acaba se perdendo numa deliciosa soneca. Os raios solares são fracos e os ventos os vencem, tornando a brisa fresca.

Ela só acorda sentindo uma presença diante de si, com sua sombra tapando a iluminação do dia.

A garota estampa um sorriso mais luminoso que o próprio sol. Seus dentes são pequenos como os lábios rosados.

- Desculpe atrapalhar seu cochilo - a voz feminina suave soa como uma melodia para a peoa.

- Tudo bem. Mal dormi essa noite...

Ela surpreende Talita se sentando ao seu lado.

- Você não é daqui, é?

- Não. Vim do interior.

- Hum, bem que suspeitei. Sou a Iaska - ela estende a mão delicada, com as unhas compridas bem feitas pintadas de creme. Agora tão próximas, Talita aproveita para admirar sua beleza com mais afinco.

- Prazer, sou a Talita. - a vaqueira procura apertá-la com cuidado. Tem a impressão de que qualquer gesto brusco poderá feri-la, pois Iaska parece ser de mentira. Tem muito tempo que alguém não lhe chama tanta a atenção.

- Adoro ficar com os pés no chão. - a moça confessa retirando as sandálias de salto, surpreendendo sua nova colega.

Talita sorri entusiasmada:

Minha Cowgirl na Cidade ( Sáfico) Where stories live. Discover now