Nerd

Eddie

Já faz uma semana desde que eu e Davi terminamos, e por mais incrível que pareça, dói como se tivesse acabado de acontecer.
Se não fossem minhas amigas do meu lado, eu já era.

Eu não tinha vontade de ir para a escola, tudo o que eu queria era voltar com ele, mas voltar sem essa coisa de ciúmes, voltar com confiança, sabendo que ele não quer saber da Kelly.

As férias já estão chegando, estou vendo que serão as mais chatas de toda a minha vida.

Estou em meu quarto deitada em minha cama, hoje é sábado e eu só quero ficar sozinha. Alguém bate na porta, mas eu nem me movo. Fecho meus olhos até que alguém abre as cortinas do meu quarto.

-Você vai sair dessa cama agora.
Pedro diz, nós temos nos aproximado muito nesses últimos dias, ele tem me ajudado a passar por tudo isso.

Pedro sempre fica ao meu lado na escola, sempre querendo saber se estou bem.

-Eu não quero sair.
Reclamo.

-É sábado, o dia está lindo, todos estão lá fora, até seus pais vão sair.
Pedro diz.

-Eu não sou eles e vou ficar no meu quarto.
Respondo sem mexer um músculo.

-Vamos Clara, por favor.
Pedro diz.

-Se eu sair, você me deixa em paz?
Digo e nem preciso me virar para ver que ele está sorrindo.

-Sim, eu te deixo em paz.
Ele responde.
-Vou te esperar lá fora.

Pedro sai e eu me levanto para me arrumar. Coloco uma blusa preta e uma calça jeans clara, deixo meu cabelo solto e enrolo as pontas.

Quando chego na sala, Pedro me olha de cima para baixo.

-Achei que nem ia mais.
Pedro diz e eu rio.

-Vamos logo ou eu mudo de idéia.
Digo para ele e o sigo até a porta.
-Espera, esqueci da minha bolsa.

Pedro ri e continua reclamando de como as mulheres demoram.

-Vamos para onde?
Pergunto.

-Eu estava pensando em ir para um restaurante e comer alguma coisa.
Pedro responde.

-Ok.
Digo. Será que isso é tipo um encontro?

Chegamos em um restaurante, o nome é Eddie Restaurante, eu não diria que é o nome mais criativo, mas pela quantidade de pessoas a comida parece ser boa.

Escolhemos uma mesa, eu me sento e procuro algo que eu queira comer no cardápio.

-Meus amigos sempre falam desse lugar, eu nunca vim aqui, mas parece que a comida daqui é maravilhosa.
Pedro diz.

-Parece mesmo, o lugar está cheio, e olha que ainda é meio-dia.
Respondo.

Um garçom vem para perguntar o que queremos, eu digo que quero um macarrão com almôndegas e Pedro pede o mesmo.

Quando como o macarrão, lembro de um dia, daquele dia, lembro dele. É o mesmo gosto, mas falta algo, falta ele.

-Tá tudo bem? Você não parece ter gostado.
Pedro diz.

-Não,é só que...Não é nada.
Digo.

-Eu vou ao banheiro, já volto.
Pedro diz e deixa a mesa.

Volto a encarar meu prato e a voz dele ecoa em minha cabeça, lembro dele fazendo esse mesmo prato para mim.

-A moça parece triste, não gostou do macarrão?
Um homem que não deve ter menos de 50 anos diz.

-Não, está ótimo, eu amei o macarrão.
Respondo.

-Gosto de ver meus clientes felizes, e você não parece nem um pouco feliz.
Ele diz.
-Eu sou Eddie.

-Aah, Eddie Restaurante, é o dono do restaurante.
Digo.

-Sim, eu mesmo.
Ele diz e ri.
-Então, não foi minha comida que te deixou triste?

-Como assim a comida me deixou triste?
Digo e rio.

-Minha esposa dizia que quando a comida era realmente boa, nos deixava alegres, de bem com a vida, mas quando a comida era ruim, nós ficávamos tristes, sem felicidade alguma.
O senhor Eddie responde.
-Por isso quero me certificar de que está feliz.

-Porque se eu estiver feliz a comida está boa?
Pergunto, na verdade isso é mais uma afirmação.

-Exatamente, mas você não está feliz.
Ele responde.

-São alguns problemas.
Respondo.

-Problemas de adolescentes, um dia você vai descobrir que não são nada comparados com problemas de adultos.
Ele diz.

-Eu estou prestes a entrar nessa vida, vou fazer dezoito.
Digo.

-Alguns só se tornam adultos mais tarde, eu mesmo só me tornei adulto quando cheguei nos trinta anos.
Eddie responde.
-Acho que a maturidade não se ganha com a idade, e sim com as experiências da vida.

-Acha que meus problemas de adolescente vão me deixar mais madura?
Pergunto.

-São eles que nos preparam para os problemas futuros, então de certo modo sim.
Ele responde.
-Bom, eu tenho que ir, dois dos meus funcionários não vieram e o restaurante está cheio.

-Obrigada pelas suas palavras, são tão sábias.
Digo.

-Foram os problemas de adolescentes que me deixaram sábio.
Ele diz e eu rio. Eddie vai embora e eu fico pensando em suas palavras.

Logo depois Pedro volto e fala sobre a fila enorme que estava no banheiro. Terminamos o nosso almoço e ele me deixa em casa.

-Pronto, está entregue.
Pedro diz.

-Obrigada, eu precisava sair um pouco.
Digo.
-Posso fazer um pergunta?

-Claro.
Pedro responde.

-Isso foi um...encontro?
Pergunto.

-Se preferir chamar assim.
Pedro responde e se aproxima, penso que ele vai me beijar, mas ele apenas beija minha bochecha.
-Tchau Clara.
Ele diz e sai.

-Tchau.
Digo e entro para casa.