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Durante muito tempo duvidei sobre qualquer assunto que se referisse a algo sobrenatural. Sempre pensei que isso fosse criação de pessoas ociosas para assustar os tolos e pobres de espírito. No entanto, hoje, com minha já avançada idade e a memória aparentando os sinais da velhice, meu ponto de vista foi bruscamente alterado devido a macabros acontecimentos do meu passado.

Tentarei aqui narrá-los antes que o tempo não me permita lembrar sequer meu próprio nome. Podes, talvez, estranhar tamanha precaução, mas quando você atinge os oitenta anos e, vê tudo o que já vi nessa vida, você percebe que a mente não é algo tão confiável assim.

Não peço, cara leitora, que acredite nessa breve narrativa que tens em mãos. Confesso que há certo tempo atrás, eu mesmo não acreditaria em uma só dessas palavras. A priori, apenas espero que a leia, isso se não tiver nada mais importante em mente para realizar. Sei como é corrida a vida dos jovens. E como eu sinto falta disso!

O ano era 1871, num vilarejo distante na Inglaterra que ninguém conhece. Eu levava uma vida tranquila como lenhador.

Imagino que estejas estranhando meu vocabulário. "Ora! E desde quando um lenhador usa palavras tão rebuscadas? " Já o explico. Acontece que sou um homem das leis. Morei em Londres por alguns anos antes de nos mudarmos para o vilarejo no qual essa história se desenrola.

"E por que decidiste mudar de vida de forma tão drástica? " — novamente um questionamento perspicaz. Vejo que és uma leitora curiosa. Isso em muito me agrada.

Eu poderia dizer que estava cansado da vida em uma cidade grande. Poderia simplesmente falar que a correria, cobrança, tumulto e confusão não estava me fazendo bem. Isso, apesar de verdadeiro, não era o motivo que nos levou a mudar. 

Maureen e eu nos casamos muito jovens. Eu, recém diplomado no magistério e ela na flor dos seus 18 anos. Éramos um casal apaixonado, como aqueles que você provavelmente está cansado de ver nas novelas.

Seguíamos nossa vida como um típico casal inglês nos anos 70. Com o emprego que eu tinha em um dos cartórios da capital eu conseguia sustentar a nós dois. Éramos felizes.

No segundo ano de casamento, Jimmy nasceu e mudou nossa vida completamente.

Não sei qual a tua idade, estimada leitora. Caso ainda não tenhas um filho, não conseguirá entender o tamanho do amor que sentimos por aquele ser tão pequenino e indefeso. Era um sentimento que não cabia em nós. O amávamos mais do que a nós mesmos.

Infelizmente, nosso pequeno Jimmy nasceu com uma condição muito rara. Ele tinha uma dificuldade respiratória muito acentuada. Os médicos disseram que ele teria complicações caso vivesse em uma cidade tão grande e turbulenta.

Aquilo foi um choque para esta pobre alma. Os médicos nos deram duas opções: pagar um tratamento que estava sendo desenvolvido em Paris naquela época ou morarmos em uma cidade muito pequena e pacífica.

Ora, acontece que, talvez por um capricho do destino, meu pai era proprietário de um terreno em um vilarejo quase esquecido próximo à Londres. Como não tínhamos muito dinheiro, a única alternativa possível era a mudança.

Poucos meses após o nascimento de Jimmy, nos mudamos para o lugar onde moramos por décadas. Era um vilarejo muito pobre. A população era composta de agricultores e lenhadores. Como eu não tinha aptidão para o plantio, me tornei lenhador.

A propriedade que meu pai tinha no vilarejo era muito simples. Uma pequena casa de madeira com dois quartos apenas e uma sala que também servia de cozinha.

Levamos alguns meses para deixá-la em condições habitáveis. O terreno era espaçoso e morávamos ao lado de uma trilha que entrava em uma floresta. Isso era perfeito para a saúde do nosso amado Jimmy.

Seguindo a trilha, chegávamos em uma pequena clareira que era onde mantínhamos um pequeno sótão. Era ali que eu guardava todas as ferramentas necessárias para que eu desempenhasse meu ofício de lenhador.

Não sei bem porque, mas Maureen nunca visitava nosso sótão. Dizia sentir uma sensação estranha quando ia lá. Eu, como nunca senti nada parecido e nem acreditava nessas bobeiras, gostava do silêncio da clareira. Costumava passar várias tardes sentado e contemplando a floresta.

O dinheiro que eu recebia era suficiente apenas para manter o básico para minha pequena família. Isso, porém, era secundário. Deus, na sua imensa generosidade, manteve a saúde do pequeno Jimmy. Era isso que importava.

Jimmy crescia como toda e qualquer criança: curioso e transbordando vida. Desde pequeno ele sabia da sua condição respiratória, decidimos que não deveríamos esconder isso dele. Ele levava uma vida normal, apenas não podia se exceder com atividade físicas mais intensas.

Após sete anos morando naquele lugar, Londres parecia uma lembrança já muito distante. A vida que levávamos na capital parecia pertencer à outras pessoas. Maureen e eu estávamos felizes e até mesmo a doença de Jimmy não mais nos preocupava. Tudo estava bem.

Estava tudo muito bem.

Bem até demais.

O que aconteceu naquele vilarejo mudou completamente a forma como vejo o mundo.


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Olá leitor(a)!
Fico mega feliz que tenha começado a ler Tom!
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Te vejo no próximo capítulo.😘

Tom e outras histórias de horrorUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum