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— Não consigo entender — disse Carmilla assim que retornamos para a sala de jantar. — Ele simplesmente desapareceu!

— Quem desapareceu? — Quis saber Gustav. — E por que vocês estavam lá fora uma hora dessas? Carmilla, eu não falei que era perigoso sair à noite?

— Eu sei meu irmão. O que aconteceu foi o seguinte...

"Ela então se pôs a narrar para o irmão o encontro com Aubrey e como ele estava agindo de forma estranha. À medida que a história avançava, Gustav ia ficando mais nervoso e assustado."

— Eu não acredito nisso — disse ele — simplesmente não posso acreditar. Mas se tudo o que você disse for verdade... John, — ele disse enquanto me olhava com um olhar sério e preocupado — acho melhor, para sua própria segurança, que você vá embora o quanto antes. Aqui já não é mais seguro.

— Mas o que está acontecendo? Desde a minha chegada que vocês parecem estar me escondendo algo.

"Os irmãos trocaram um olhar e depois de um longo suspiro, Gustav explicou a situação."

— Tudo bem. Vou contar a você o que anda acontecendo nessa região. Não sei se no seu país você escutou rumores sobre estranhos casos de desaparecimentos que tem ocorrido aqui nos Cárpatos. O fato é que pessoas estão sumindo de suas casas sem deixar vestígios. Tudo acontece repentinamente. Ninguém sabe o que acontece com elas.

"Após uma noite ou duas — ele continuou ­— essas pessoas retornavam a seus lares. De início, havia alívio, já que nada de ruim havia acontecido. No entanto, as coisas não ficavam tão bem assim. Essas pessoas sempre voltavam com comportamentos estranhos. Vocês acabaram de presenciar isso, afinal, nunca antes Aubrey teve de pedir para entrar em nossa casa. "

"Por fim, ainda há o fato do nosso cachorro não o ter reconhecido. — Gustav ficou em silencio e olhou para sua irmã. — Pelos relatos que ouvimos até a aparência das pessoas mudava. A pior parte dessa história toda é que em todas as casas onde isso ocorria, os seus moradores iam aos poucos morrendo de modo nunca antes visto. Os cadáveres eram encontrados com pequenos furos e totalmente sem sangue. "

— Meu Deus! Está insinuando que tal coisa também aconteceu com o Aubrey? Não, não pode ser! — Carmilla estava desesperada. — Gustav, o que faremos se isso for verdade?

— Espere um momento! — Interrompi. — Isso não quer dizer nada... talvez seja apenas uma doença que esteja se espalhando por essa região.

— Não creio que seja uma doença, bem que eu preferiria que fosse... — ele respondeu

— O que quer dizer com isso?

"Novamente os irmãos se entreolharam com um olhar receoso. Como se estivessem com medo do que eu pensaria."

— Bom, nós acreditamos que se trata de um demônio, um monstro ou algo do tipo. — Respondeu timidamente Carmilla.

— Um monstro? — Perguntei em um tom irônico que não consegui conter.

— Sei que parece ridículo — continuou Gustav — eu mesmo não acreditava, mas semana passada aconteceu um caso desse aqui no vilarejo ao lado. Eu fui pessoalmente ver os corpos... não se pareciam com nada que eu já tivesse visto em toda minha vida.

— Mas meu irmão, como você pode estar tão certo que isso tenha acontecido com o Aubrey? Apenas o que lhe relatamos serviu para que chegasse nessa conclusão?

— Na verdade, o que me disseram serviu apenas para reforçar suspeitas que surgiram hoje pela manhã. Como você bem sabe irmã, hoje fui ao vilarejo para comprar suprimentos que nos faltava. Quando já regressava, encontrei a irmã de Aubrey chorando no poço. Não pude deixar de notar em seu rosto um olhar de tristeza e um profundo cansaço.

"Era perceptível que esse assunto causava desconforto no meu anfitrião. Ele parou por alguns segundos antes de continuar. "

— Depois de muito insistir, consegui que ela me contasse o motivo de tanta aflição. Ela havia passado a noite inteira acordada esperando por seu irmão que não regressou ao lar. Eu disse a ela que isso não era motivo para preocupação, já que o Aubrey sempre foi um rapaz de muita responsabilidade e não demoraria a retornar. Mas confesso que achei esse comportamento dele estranho. E agora, com tudo o que vocês me disseram, não me restam dúvidas de que ele não é mais o Aubrey que conhecíamos. "

"Um silêncio pesado pairou na sala. Eu não conseguia entender o que estava acontecendo ali, mas decerto não acreditava nessa história de demônios e monstros. Certamente havia uma explicação racional para isso tudo, mesmo que eu não conseguisse enxergar qual era. "

— Bom, mas de acordo com o que você mesmo disse, esse demônio, monstro, ou seja, lá o que isso for, retorna apenas ao seu lar não é mesmo? Logo, não há motivos para nos preocuparmos, correto? — Eu disse tentando acalmá-los.

— Como eu gostaria que estivesse certo, caro John! No entanto, eles não retornam apenas por causa da casa em si, mas pelas pessoas que lhes são caras, e como sempre suspeitei que Aubrey fosse apaixonado por Carmilla, ele teria motivos suficientes para vir aqui. E, como disse minha irmã, ele parece pretender voltar aqui hoje ainda.

"Percebi que essa fala deixou Carmilla muito corada. Ah como sinto falta de ver aquele rosto! "

— Pois que venha! Aqui encontrará sua ruína! — Exclamei ficando de pé.

— Quer dizer que pretende ficar? John, nós entenderemos perfeitamente se preferir partir.

— Nem pense nisso Gustav! Não posso retribuir de forma tão negativa toda a hospitalidade que me deram. Além disso, não tenho para onde ir no momento. Contem comigo para o que for possível. — Quando disse isso pude notar um pequeno sorriso nos perfeitos lábios de Carmilla.

— Obrigado John. Que Deus o recompense por tal ato de cavalheirismo e nobreza Concluiu Gustav.

"Sei que vocês devem estar me tomando por louco. Tenho, em minha defesa, apenas a dizer que eu estava apaixonado. Não deixaria a Carmilla por nada. Além disso, eu era jovem. Logo, era tolo, inocente e inexperiente. Não sei se as coisas seriam diferentes se eu tivesse ido embora. "

"Após tomar minha decisão, nos sentamos no sofá e ficamos a esperar por Aubrey, ou o que restara dele. Foi de comum acordo que deveríamos mata-lo. Se é que havia jeito de matar alguém que já estava morto. De qualquer forma, decidimos pôr um fim a esse episódio tão macabro que se desenrolava diante de nossos olhos. "

"Quanto mais conversávamos sobre o assunto, mas parecia improvável que meus anfitriões estivessem inventando essa situação. Por mais absurda que parecesse, eu estava começando a acreditar. Confesso até que comecei a sentir um certo medo, mas o amor que sentia por Carmilla era muito maior que qualquer temor. "

"Ficamos cerca de duas horas nesse estado de vigília. O silêncio era tamanho que quase podia ser tocado. Nunca antes tinha ficado tão tenso. Afora isso, ainda havia o desejo de que tal espera terminasse logo, porém, como isso culminaria no encontro com o maldito demônio, eu me encontrava de mãos atadas nesse tenebroso dilema. "

"Mais uma hora se passou e, como nada havia acontecido, Carmilla resolveu se retirar para o seu quarto. Ficamos então Gustav e eu a esperar, só Deus sabia o que. Após mais algumas horas notei que meu anfitrião, por estar muito cansado, começava a dar breves cochilos. Desse modo propus que fizéssemos tal vigília em turnos, ficando eu com o primeiro. Ele concordou e imediatamente se dirigiu a seus aposentos. "

"Agora só restara eu a esperar nosso algoz. As horas avançavam e nada acontecia. "

"Passou uma hora, nada. "

"Duas, meus olhos começaram a piscar em demasia. "

"Três, como minhas pálpebras pesavam! "

"Quatro..."


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Finalmente a ação está prestes a começar!

O que vocês está achando da ambientação e do cenário até agora?

Deixa aí um comentário sobre o que você está achando da história! Vou adorar saber! =)

Tom e outras histórias de horrorOù les histoires vivent. Découvrez maintenant