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"Aquele ano ficou marcado como o primeiro ano dos ataques. Até hoje as pessoas de mais idade se lembram disso. Basta chegar para qualquer fazendeiro que more lá há mais tempo e perguntar sobre essa história e ele te contará. "

"Após quase um ano dos ataques, novamente o outono chegou. Com ele veio o medo no coração dos mais velhos. Muitos achavam que os animais novamente estavam em perigo. E o pior é que estavam mesmo. "

"Já na primeira semana de abril, novamente começaram os boatos. Outros animais estavam desaparecendo. Tentaram aumentar a vigilância das fazendas, mas nada de descobrirem a causa. A situação era muito semelhante ao que havia acontecido no ano anterior. Os animais sumiam como num passe de mágica. "

"Ora, vocês podem imaginar como os moradores ficaram, né? Estava todo mundo com medo. Bastava a noite cair que o vilarejo silenciava por completo. Ninguém mais saía de casa. "

"Não era toda noite que aconteciam os roubos. Isso só dificultava ainda mais as coisas. Nunca sabíamos quando e onde iria acontecer o próximo ataque. Com a chegada de junho, cerca de vinte animais já haviam desaparecido. Mas o pior ainda estava por vir. "

"Na segunda semana de junho, uma pessoa foi encontrada morta. Isso aconteceu na fazenda dos Barbosa. Se vocês tiverem estômago fraco, recomendo tampar os ouvidos por uns segundos. "

"O corpo do José tinha sido encontrado perto do celeiro da fazenda dele em uma manhã fria. Vocês não chegaram a conhecer ele. Era o pai do Henrique. Vocês tinham que ver, ele era um homem muito bom. Dono de um coração gigante. Como se a morte dele já não fosse ruim o bastante, o corpo estava em um péssimo estado. O rosto do pobre Zé estava paralisado em uma expressão de pavor perturbadora. Além disso, o peito dele tinha sido dilacerado. Pareciam garras grandes, como se algum animal o tivesse atacado. Não tinha o menor sinal de luta. Parecia que o Seu Zé havia sido morto com um golpe apenas. "

"Nem preciso dizer que Oliveira ficou de pernas para o ar depois disso, né? Os Barbosa eram uma família muito querida por todos. Eles ajudavam a fornecer leite e milho para toda a cidade. Eu mesmo gostava muito deles. Até hoje sou muito amigo do Henrique, filho mais velho da família. Me lembro que no dia seguinte fui conversar com ele. Era claro que ele estava desolado. Tinha acabado de perder o pai. Mas notei que ele também estava muito assustado. "

"Após o velório ele me chamou para um canto e perguntou se podia conversar comigo. Na mesma hora vi que a voz dele estava tremendo. Obviamente eu disse que sim e fomos para um banco perto da praça onde a gente estava. "

— Chico, sei que vai soar absurdo o que vou te dizer, mas quero te contar. Eu preciso tirar isso do meu peito. É algo que não contei à polícia por medo deles me internarem e não me levarem a sério. Mas eu preciso falar isso para alguém! — Era muito doloroso ver o Henrique daquele jeito. Meu amigo suava muito e estava tremendo. Isso sem falar no olhar beirando o desvario.

— Calma Henrique, senta aqui e me fala o que aconteceu. Você sabe que pode confiar em mim.

— Ontem à noite, noite não, devia ser madrugada já, eu acordei com um barulho de passos do lado de fora do quarto. Não é nenhum segredo pra você que eu tenho um sono muito leve. Bom, eu achei estranho, porque, apesar de não ter nenhum relógio perto, já parecia ser muito tarde. Não era para ter ninguém andando lá fora. Me levantei e fui em direção à porta e percebi que tinha alguém saindo da casa. A partir daí voltei para minha janela e tentei ver o que estava acontecendo lá fora.

— A neblina ontem a noite estava muito forte — ele continuou com os olhos vidrados no chão, parecia que estava até revivendo a cena — então não dava para ver muito longe nem com muito detalhe. Mas ainda assim esperei para ver o que aquela pessoa estava arrumando. Após alguns segundos vi que era meu pai saindo pela varanda e indo em direção ao celeiro. Ele sabia exatamente onde estava indo. Era como se ele tivesse ouvido alguma coisa lá. Como se eu já não estivesse preocupado, ela ainda pegou uma foice. Para que meu pai iria querer uma foice uma hora daquelas e no meio daquela neblina?

— O que aconteceu foi tão rápido, que não consegui entender direito o que houve. Sei que ouvi um grito de pavor. Um grito e, o mais bizarro, um rosnado de cachorro. Não era exatamente um rosnado, era algo mais grave, algo que eu nunca tinha ouvido antes. Então só vi meu pai caindo no chão. Ao mesmo tempo que algo imenso saltava sobre o corpo e fugia em direção a mata. Chico, sei que você não vai acreditar em mim. Eu não acreditaria se não tivesse visto. Mas parecia um cachorro. A diferença era que ele devia ter quase o tamanho de um cavalo!

"Meus netos e netas. Sei que vocês estão pensando que isso é ridículo. E confesso que esse foi o meu primeiro pensamento na hora. Mas quando eu vi o olhar de pavor no rosto em lágrimas do Henrique eu vi que ele estava dizendo a verdade. Ou pelo menos que ele acreditava que era verdade. "

"Fiquei imaginando várias explicações possíveis para aquilo. Talvez ele tenha visto um cachorro mesmo, mas estava muito escuro e ele tinha imaginado coisas. Porém, lá no fundo, a imagem das garras imensas no peito do Seu Zé me voltava à mente. Não conseguia imaginar um cachorro fazendo aquilo. Algo tinha realmente atacado o pai do meu amigo naquela noite. Algo enorme. "

"Eu disse a ele que acreditava na sua história. Era o que ele precisava ouvir naquele momento. Por dentro eu ainda não sabia se acreditava ou não. De qualquer forma, o acompanhei até a casa dele e, depois de tomarmos um chá, deixei que ele descansasse e voltei para casa. "

"É claro que não comentei com ninguém sobre essa conversa. Primeiro, porque não sou fofoqueiro; segundo, porque era algo que meu amigo tinha confiado em mim para dizer e, por último, eu não queria criar mais boatos entorno desse assunto. A última coisa que os Barbosa precisavam naquele momento era vizinho intrometendo na vida deles. A situação naquele momento já era horrível o bastante. "

"O lado bom dessa situação, se é que pode se tirar um lado bom disso tudo, é que os ataques pararam. Por duas semanas não houve mais nenhum animal desaparecido. Pensamos, sim a essa altura eu também já estava com medo, que a gente estava livre dessa situação toda. Mas ainda não tinha acabado. Ainda aconteceriam coisas que, se eu não tivesse visto eu jamais acreditaria. "


🐶🐶🐶


O que você acha que aconteceu?? Será que o Henrique realmente viu alguma coisa bizarra ou foi toda a situação que o fez imaginar coisas?? Me conta aí nos comentários. 

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Tom e outras histórias de horrorWhere stories live. Discover now