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"Acordei com um arrepio percorrendo todo o meu corpo. Ainda meio sonolento, comecei a me censurar por ter cochilado. Mas afinal, nada havia acontecido. Tudo estava da mesma forma de antes. Foi quando senti o mesmo arrepio que me despertara. "

"Quando procurei a causa de tal desconforto, notei que uma janela atrás do sofá estava aberta deixando entrar pequenas rajadas de um vento gelado. Uma janela aberta! Eu tinha certeza que ela estava fechada antes de eu adormecer. Lentamente me dirigi a ela para trancá-la novamente. Olhei para o quintal escuro e silencioso a procura de algo anormal e, com imenso alivio, percebi que estava tudo como deveria estar. Tranquei a janela e quando voltava para o sofá, senti que todo o sangue do meu corpo havia congelado diante da visão diabólica que tive. "

"Parado no início do corredor estava um homem alto, magro e branco, mas de um branco tão pálido, que a neve se comparada a ele pareceria suja. Estava em pé e me olhando, olhando não, parecia que demorava minha alma com olhos de um vermelho rubro como o sangue. Ele, ao perceber que eu ficara imóvel, abriu um sorriso que mostrava dentes pontiagudos e o que mais me aterrorizara até então, um tímido filete de sangue que lentamente escorria do canto de sua boca. "

"Mesmo sentindo meu corpo pesado de pavor (sim, há muito isso tinha superado o medo) me lancei sobre ele na tentativa de lhe causar tanto dano quanto fosse possível. Foi inútil, era como tentar socar uma parede de mármore. Assim, que o maldito percebeu que eu não conseguiria lhe fazer nenhum mal, ele me segurou com uma facilidade incrível e me lançou, como se eu fosse um simples boneco, de encontro à parede. "

"Imediatamente senti o sangue quente escorrer pelo meu cabelo. A sala estava girando mas consegui visualizar um vulto branco passando pela janela e ganhando a madrugada. Nessa hora, percebi que Gustav havia acordado, tamanho fora o barulho que causei. Ao me ver ali caído, foi prontamente me ajudando a me recompor. "

"Rapidamente lhe expliquei o que havia acontecido (exceto sobre meu cochilo) e ao me lembrar do sangue que escorria dos lábios daquela aberração, fomos correndo em direção ao quarto de Carmilla. Quando lá chegamos, Gustav a acordou e perguntou se ela estava bem. "

"Apesar de constrangida por um desconhecido estar em um local tão íntimo dela, Carmilla disse que estava se sentindo bem, estava apenas com sono e cansada. Sem entender o que estava acontecendo, ela logo quis saber o que fazíamos em seu quarto em plena madrugada. Com promessas de explicar a situação no outro dia, deixamos que ela retomasse o seu sono. "

— Eu não consigo entender... se aquele maldito entrou na casa e estava com sangue em sua boca, como Carmilla e eu nos sentimos bem? — Perguntou Gustav enquanto terminava de fazer um curativo no meu ferimento.

— Também não compreendo... Gustav tem uma coisa que não lhe contei. — Sentindo toda a vergonha que é possível a uma pessoa sentir, contei a ele sobre meu inoportuno sono.

— Não se preocupe com isso John. Todos nós estávamos muito cansados. Você deveria ter sido o primeiro a descansar, afinal, devia estar exausto pela viagem que fez, mas mesmo assim se prontificou a ficar acordado. De maneira alguma o culpo.

— Mas se eu não tivesse adormecido...

— John, repito: eu não o culpo. A bem da verdade, eu é que me sinto mal por envolver você nessa história. Anda, vai dormir. Não creio que aquele desgraçado voltará aqui ainda esta noite, o que nos dá algumas horas de descanso.

"Sem poder mais argumentar fui para o quarto que foi a mim reservado para tentar descansar um pouco. Tão logo deitei, adormeci. "

"Acordei com a claridade do nascer do sol. Abri os olhos na esperança de que tudo não tivesse passado de um tenebroso pesadelo, mas uma leve dor na minha cabeça me mostrou a dura e inexorável realidade na qual me encontrava. Me levantei e fui para a sala, onde encontrei os dois irmãos preparando o café da manhã. "

"Notei que Carmilla parecia um pouco mais pálida que o normal e que seus movimentos, antes tão graciosos, estavam um pouco mais lentos, como se estivessem necessitando de grande esforço para serem realizados. Acreditando que isso era ilusão da minha mente, me juntei aos dois para a refeição. "

"Enquanto comíamos relatamos à Carmilla sobre nosso visitante noturno. Ela, como era de se esperar, se mostrou horrorizada por tudo o que havia acontecido. Porém, algo estranho, como Gustav bem observou, foi o fato de ela permanecer dormindo com todo o barulho da noite passada. Como ninguém conseguiu explicar tal fato, pensamos que isso era devido ao cansaço. "

"Assim que terminamos, Gustav se dirigiu ao vilarejo para tentar obter mais informações sobre Aubrey. Desse modo, eu e Carmilla estávamos novamente sozinhos. Então, como não havia nada para fazer, pedi a ela que me mostrasse à região. "

"Ah, como é bela a natureza! Assim que saímos pude sentir o morno calor dos raios de sol. A manhã estava magnífica. Caminhamos seguindo por uma trilha que tinha origem no fundo da casa. Como o caminho ia aos poucos subindo pelos Cárpatos, avançamos bem lentamente, até porque Carmilla não parecia estar tão bem quanto no outro dia."

"A vegetação era fantástica: de um verde luxuriante. Continuamos por quase uma hora o nosso passeio, até que a trilha se tornou menos íngreme e pude notar que a vegetação se abria mais a nossa frente numa belíssima clareira. "

O olhar de Sr. John se tornou distante. Era possível ver que seus olhos estavam marejados.

— Ah minhas crianças... aquela clareira! Até hoje aquele é o meu lugar favorito. Não é raro que ele infeste meus sonhos me fazendo reviver toda a felicidade que ali vivi.

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Eu gostei muito de escrever essa cena do Aubrey entrando na casa. Ainda me dá arrepios só de lembrar haha

O que você acha que acontecerá no conto a partir de agora? Espera um final feliz? Triste? Me conta! 

Ah, não esquece de votar nos capítulos caso esteja gostando da história! =)

Tom e outras histórias de horrorWhere stories live. Discover now