1

21 3 7
                                    

— Vamos Sr. Campbell! Conte-nos uma de suas histórias! — Falou um jovem de cabelos longos que fazia parte do pequeno grupo que se reunia ao redor da fogueira naquela fria noite do inverno inglês.

— Uma história? — Perguntou ele, já com um intenso brilho nos olhos. Não era segredo para ninguém, o quanto o Sr. John amava contar uma de suas histórias.

— Sim — disse a garota que estava abraçada ao jovem de cabelos longos. — Mas escolha bem! Preferencialmente uma que trate de terror e romance simultaneamente!

O crepitar das chamas era o único som que se podia ouvir enquanto Sr. John pensava em qual história escolher. Não poderia ser qualquer uma. Ele queria que fosse uma narrativa que prendesse a atenção deles por completo.

— Ora, querida July. Pois eu tenho a história ideal para você! Na verdade, essa narrativa é verídica, ocorreu comigo mesmo. Mas já aviso que é uma história muito, mas muito triste. Tentarei lembrar o máximo de detalhes que a minha já avançada idade permitir.

Ele suspirou fundo ficando alguns segundos em silêncio. Ele se permitiria uma viagem no tempo. Era bom relembrar o passado. Eram esses os momentos de maior prazer na sua velhice.

"Não me recordo ao certo qual era o ano, mas era por volta de 1850. Eu estava então com meus vinte anos. Ah, mas que saudades daquela idade! Você se sente como se fosse o próprio dono do mundo e pudesse fazer tudo. Invencível! Sim era assim que eu me sentia. "

"Com tanta energia à disposição, decidi viajar por esse mundo afora. Eu sei que vocês acharão estranha essa minha decisão. Mas como são jovens muito modernos, não conseguirão entender os costumes que imperavam em nossa sociedade naquela época."

"O local onde eu queria visitar já estava definido: os Cárpatos. Caso vocês não conheçam, esta é uma cordilheira montanhosa que percorre grande parte da Europa central, passando por vários países, mas o que mais interessava era a Romênia. "

"Sei que devem estar se perguntando quais motivos me levaram a ir tão longe. Pois já explico. Na época, a Romênia estava em vários jornais devido a alguns casos de desaparecimento de pessoas que estavam ocorrendo por lá. Os jornais mais sensacionalistas afirmavam até mesmo que demônios estavam possuindo as pessoas e fazendo com que elas suicidassem. "

"Eu obviamente, não acreditava nisso. Não me julguem mal, como eu já disse, tinha apenas vinte anos, só acreditava naquilo que meus olhos viam. Além disso, eu, um rapaz acostumado com os salões de baile europeus, jamais poderia acreditar em tais histórias. "

"Bom, peguei apenas o necessário: uma mochila, pouca comida e bastante dinheiro. Graças ao bom Deus nunca precisei me preocupar com a questão financeira, pois minha família tinha bem mais dinheiro que o necessário. "

"A viagem até a Romênia se mostrou mais longa e cansativa do que eu poderia ter imaginado e, não convém contar aqui seus entediantes detalhes. Ao chegar ao meu país de destino, minha primeira providência foi a de alugar um cavalo..."

— Sr. John, me desculpe por interrompê-lo, mas como o senhor conseguiu alugar um cavalo sendo utilizado na Romênia, um idioma diferente do inglês? — Disse July, que não deixara passar esse detalhe.

— Ótima observação, minha querida! — Ele respondeu com um sorriso. — Realmente, foi um descuido meu não tê-los informado. Eu tive um avô Romeno que veio para a Inglaterra em sua juventude. Chegando aqui ele se casou com uma imigrante francesa. Desse modo, aos vinte anos, eu já era fluente em três diferentes idiomas. Perdoem a memória debilitada desse velho que vos fala e, tendo mais perguntas, não tenham receio, perguntem à vontade.

"Mas como estava dizendo, aluguei um cavalo e, como já avistava os Cárpatos no horizonte, continuei o meu caminho. Um detalhe curioso é que sempre que parava para pedir informações, as pessoas tentavam dissuadir-me do meu intento. Ao perguntar o motivo, apenas respondiam que haviam coisas acontecendo nos Cárpatos que eu não gostaria de saber. E dizendo isso, se afastavam rapidamente. "

"Ora, eu não havia vindo de tão longe para desistir assim tão facilmente. Principalmente por conta de boatos. Cavalguei até a tarde dar sinais de estar quase terminando. Vocês não estão acostumados a andar de cavalo. Pelo menos não por tanto tempo. Posso dizer a vocês que é bastante cansativo e doloroso. "

"Por fim cheguei a um pequeno vilarejo bem aos pés da montanha. Reparei que as poucas casas — quando eu digo poucas, são poucas mesmo, não passavam de dez — estavam todas fechadas e apenas em algumas eu percebia uma tênue fumaça escapando pela chaminé. "

"Passei pelo vilarejo e notei que este terminava em uma trilha que, muito lentamente, começava a subir a cordilheira. Depois de aproximadamente um terço de hora seguindo pela trilha, cheguei a uma clareira. Nela havia um pequeno poço onde parei para beber água e abastecer meu cantil. "

"Faltavam poucas horas para o anoitecer, então montei novamente e continuei a seguir a trilha, pois precisava de um local para passar a noite. Após mais alguns minutos avistei uma pequena casa no fim da trilha. Com imenso alívio me dirigi até ela. Não podia demorar, pois a noite não tardaria a inundar tudo com sua escuridão e silêncio."

Sr, John parou por um momento e ficou pensativo antes de continuar.

— Ah meus filhos! Tantas emoções a lembrança daquela casa me desperta! Tanta coisa aconteceu naquele lugar! E pensar que ali eu encontraria amor e também a morte...

Tom e outras histórias de horrorOnde histórias criam vida. Descubra agora