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Era por volta das cinco horas e já começava a escurecer. Vocês sabem como são esses dias que antecedem o inverno. O frio já estava no ar. O pior de tudo era o vento gelado que parecia cortar sua carne.

Eu estava retornando da floresta após um longo dia de trabalho. Parei no sótão para guardar minhas ferramentas quando ouvi um barulho vindo da trilha por onde eu tinha acabado de passar.

Fui averiguar a origem do som e qual não foi minha surpresa ao encontrar um filhote de gato ali? Na hora, achei estranho afinal, gatos não eram os animais mais populares no nosso pequeno vilarejo.

Como sempre fui um amante da vida, seja ela de qualquer espécie, embrulhei o pobre coitado na minha camisa e o levei para casa. Imaginava que meu filho iria adorar o presente.

Ao chegar, Jimmy fez uma festa para recepcionar o bichano, em questão de segundos já tinha lhe dado um nome: Tom. Começou um tour pela casa para apresentar ao novo inquilino o local onde ele moraria.

Se, por um lado Jimmy tinha adorado o animal, Maureen o tinha odiado. Disse que poderíamos até ficar com ele, mas que não o alimentaria, que Tom seria responsabilidade dos homens da casa.

Jimmy prontamente tomou o gato nos braços dizendo que era dele e que iria tratá-lo muito bem, o que se fazia necessário devido à sua atual situação. Seu pelo negro estava desaparecendo em algumas partes do corpo. Provavelmente estava há muito tempo morando nas ruas.

Não demorou muito para que Tom se afeiçoasse à família, especialmente a Jimmy. Aonde um ia, o outro ia atrás, pareciam se completar tal qual sombra e luz.

Com o passar das semanas, Jimmy ia se tornando cada vez mais desanimado e cansado, o que não combinava com seu espírito alegre e aventureiro. Não tinha apetite, quase já não brincava e nem vinha mais me esperar no final do dia na clareira como sempre fazia.

No segundo mês após a chegada de Tom, Jimmy ficou muito fraco a ponto de não conseguir levantar da cama. Obviamente pensamos que ele estava tendo alguma crise devido à sua condição de saúde.

Chamamos o único médico do vilarejo para que ele pudesse nos dizer o que se passava com nosso querido filho. Após uma consulta demorada, o médico disse surpreso que não encontrou nada de errado com Jimmy. Mesmo ao explicar a dificuldade respiratória dele, o médico insistiu que isso não era a causa do que o afligia. Deixou nossa humilde casa sem dar uma explicação do que poderia estar causando aquilo.

Para Maureen, isso era culpa do gato. Segundo ela, desde o dia em que Tom havia chegado a nossa casa, Jimmy já agia estranho. Ela sempre teve um lado mais voltado a esses assuntos "abstratos". Já eu, nunca acreditei em nada daquilo que meus olhos não pudessem ver ou meu machado não pudesse cortar.

Após a saída do médico, sentei na poltrona que geralmente uso para fumar meu cigarro e estava quase cochilando, quando sinto um leve roçar de pelos no meu braço esquerdo.

Inconscientemente já sabia que era o Tom, mas quando abri os olhos quase cai da poltrona. O gato que estava ao meu lado estava muito diferente daquele que eu havia encontrado! Claro que ainda era o Tom, mas estava muito mais gordo e com o pelo tão sedoso, que parecia que havia acabado de tomar um demorado e luxuoso banho.

No mesmo instante, frenéticos pensamentos assaltaram meu consciente. Como poderia o gato ter melhorado tão rápido? Será que isso havia sido feito à custa da saúde do meu filho?

Quando parei para refletir sobre o caminho absurdo que meu raciocínio tomava, não pude evitar um sorriso, não é que eu estava ficando igual à Maureen?

Colocando o pensamento novamente em ordem, concluí que estava cansado demais para tentar deduzir qualquer coisa e que aquela situação não era nada além de uma tenebrosa coincidência. Então cansado, fui em direção ao quarto para tentar relaxar. O dia havia sido cansativo e não sabia ainda como seria o dia seguinte.

Você, minha cara leitora, decerto sabe como funciona a mente dos jovens. Ao deitar a cabeça no travesseiro comecei a pensar em mil possibilidades que pudessem explicar o que estava acontecendo. Cada uma mais fantasiosa que a outra. Por fim, quando já era madrugada, decidi levantar e verificar como meu amado filho estava.

Ao chegar perto de sua cama, deparei com Tom deitado ao seu lado na altura do peito e ronronando baixinho. Como me partia o coração ver meu filho em tal estado! Ah, cara leitora, só quem tem filho sabe do que estou falando! O sofrimento que me inundou ao ver meu Jimmy daquele jeito é algo indescritível. Pudera eu trocar de lugar com ele, o faria de muito bom grado.

Para piorar, ver o gato a seu lado só fez realçar o contraste entre os dois. Meu filho, já começando a ficar bem magro, enquanto Tom engordava dia após dia. Novamente suspeitei que o gato tivesse alguma coisa a ver com isso. Não me julgues leitora amiga, minha mente não estava em seu juízo perfeito. Eu já estava desesperado. Não sabia mais o que fazer.

Juntei o pouco de sanidade que me restava, afastei tal pensamento da mente e resolvi voltar para cama. Ao chegar ao quarto, qual não foi meu assombro ao ver que Tom havia chegado lá antes de mim! Mas não teria como ele ter passado sem que eu tivesse percebido.

Achando que isso era efeito de uma noite sem sono, resolvi esquecer o assunto e ir dormir.

Ah, como eu era inocente nessa época! 


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Está começando a dar um suspense né? 
Deu tanta dó escrever sobre o Jimmy =(

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Tom e outras histórias de horrorOnde histórias criam vida. Descubra agora