Capítulo 9

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Gabriella

- E então.. - Matteo diz - Ficou sem palavras? - seu sorriso se alarga absurdamente e me olha curioso - Não gostou do elogio? - questiona.

Sim. Gostei até demais.

- Prefiro quando reparam no meu cérebro. - comento - Rosto bonito tem em todo lugar.

Não posso negar que quando seus olhos se fixaram em mim e sua boca se levantou apenas de um lado, formando um sorriso torto, com a covinha pulsando ali, foi lindo. Por um momento, eu quis sentir seus lábios quentes e o calor do seu toque, mas essa vontade passou tão rápido quanto chegou. Não vou cair nessa. Não tenho tempo para esse tipo de problema e é exatamente isso que o garotão ali é. Um problema maravilhoso, mas proibido no momento.

- Interessante. -  responde e se senta novamente - Precisamos ser amigos, então. - vejo quando essa ideia idiota ganhar força e reviro os olhos.

- Não precisamos não. - digo.

- Por favor, foguinho. Seria divertido. - declara confiante.

- Sua vida está tão chata assim? - murmuro - Vai arrumar alguma coisa para fazer nas suas noites, Matteo. Você só está entendiado. - pego o pano e começo a passar pelo balcão na tentativa de encerrar esse assunto.
Ele me ignora e sorri ainda mais. Não seja lindo assim, por favor.

- Não seja uma estraga prazeres, Gabriella. - ele acompanha minha mão enquanto trabalho e um brilho maluco aparece nos seus olhos - Está decidido, então. - seu dedo batuca na minha frente e resolvo nem responder.

Atendo mais alguns clientes e guardo todas a gorjetas no bolso do meu avental. Hoje não foi um dia tão bom, o que é muito irritante, porque além de estar sozinha, o movimento está alto, o que era para ser uma noite lucrativa.

- Está preocupada com o que? - pergunta curioso.

- Não é da sua conta. - respondo rindo - Não somos amigos, Matteo. - confesso.

Ele balança a cabeça em negação, visivelmente decepcionado e me encara.

- Somos sim. - deslizo um copo de whisky na sua direção e ele vira em um só gole antes de continuar  - Além disso, você me deve algumas respostas, senhorita.

Merda.

- Uma prova. - minto - Acho que fui mal, estava pensando nisso. - concluo.

- Não parece uma coisa tão ruim. - diz indiferente - Não a ponto de estragar sua noite.

- Eu posso reprovar e isso seria muito, muito ruim. -  respondo pacientemente - Seria mais uma conta... - suspiro pesadamente e nem termino a frase.

- Sua preocupação então é com dinheiro. - simplifica e me observa por tempo demais. Fico desconfortável quando ele faz isso, me sinto exposta e não gosto de ser tão transparente perto dele.

- E não é esse o problema da maioria? - disfarço e completo seu copo.

- A maioria não me importa. - ele entorna a bebida outra vez e respira calmamente quando sua voz baixa e sedutora chega aos meus ouvidos, sinto meu rosto esquentar e viro de costas rapidamente e abro uma cerveja. Preciso muito me esfriar. Tirar esse calor que ele traz para o meu sistema.

Ele só fala o que acha que quero ouvir. Maldito, Matteo.

- Foi isso que te deixou com um finco na testa? - pergunta desconfiado.

- O que? - retruco sem entender.

- Sua testa, querida. Ela estava enrugada. Você não estava assim antes, o que me fez pensar que estava preocupada com alguma coisa. - explica.

- Ah. - passo a mão no avental, meio constrangida pelo seu olhar atento - Era isso. A prova. - minto de novo.

- Vai dar tudo certo. - diz sorrindo e tenho vontade de sacudi-lo. Otimismo não paga boleto, meu bem. Ele nunca deve ter tido esse tipo de desafio na vida. Matteo exala dinheiro, como se tivesse centenas de pessoas trabalhando aos seus pés, o que é bem esquisito, porque apesar da aparência de gente da realeza, ele é tão comum quanto qualquer outro. Sua postura é um pouco superior, até parece um militar ou algo como isso, mas quando abre a boca e o sarcasmo toma conta, você consegue enxergar além. Consegue ver o que ele tenta a tanto custo esconder.

Matteo é solitário.

- Não fala que vai dar tudo certo. - digo -  Não tenho boas experiências com pensamento positivo, não resolve nada. - finalizo e solto o ar.

- Acho que você está errada. - comenta confiante. O que?

- Você não sabe nada sobre mim. - argumento em cima.

- Tem razão. - ele torce o lábio, parece até chateado e me encara - Por isso quero ser seu amigo. Podemos? - sua mão se estende quase na minha cara e é impossível não sorrir com esse jeito diferente dele.

- Sem flertar comigo? - indago ainda sorrindo.

- Não posso prometer isso, foguinho. - murmura - Porque adoro ver você corar. 

Quer saber?
Que se dane.
Estico meu braço até ele e encosto nossas mãos em um aperto firme.
Não tenho nada a perder se isso não funcionar e um cara como ele, maluco e lindo, pode até trazer um pouco mais de cor para a minha vida.

MATTEO  Uma noite * livro 2Where stories live. Discover now