Capítulo 95

1.5K 199 40
                                    

Gabriella

Fico em silêncio por um breve período ouvindo apenas a respiração alta e descontrolada dela. Não preciso olhar por debaixo da mesa para saber que sua perna está inquieta e aflita. Posso ver claramente o medo estampado no seu rosto e a linha fina de suor que brilha na sua testa.

Sua maquiagem escorrida manchou toda a sua bochecha de preto. Parece até uma arte abstrata sombria. Um rastro negro na pela branca. Assim como deve ser a alma dela, escura e feia. 

— Fez aquilo por dinheiro? — pergunto com a voz baixa e controlada após um certo tempo.

— Sim. — sua confissão soa tão gélida, tão sem um pingo sequer de dor, como se não houvesse arrependimentos, talvez apenas por ter sido pega, mas não por quase ter tirado uma vida. A vida da melhor pessoa do mundo. 

Sinto a raiva pulsar dentro de mim e com passos rápidos, e impensados, dou a volta até estar de frente para ela. Estico a mão para trás e a trago para frente, acertando a lateral do seu rosto com força. O estalo alto e intenso, traça um caminho de ardor na minha palma, mas ignoro. Seus braços se levantam na tentativa de se defender e sorrio. 

Um riso amargo e assustador.

Um som que espelha exatamente como a minha mente está agora. Uma fera livre e sem intenção alguma de se conter. Apenas causar estrago e tormento, porque é exatamente o que essa vadia merece. Mal posso acreditar que sou eu a pessoa nessa sala, mas o ódio tem uma forma estranha de mexer conosco, talvez seja isso. Sinto que sou apenas uma telespectadora dos meus próprios movimentos, pois só consigo enxergar vermelho, como um touro enlouquecido na Espanha.

Seguro seus cabelos e enrolo no meu punho, suas palavras ofensivas entram pelos meus ouvidos, mas não permito que tenham efeito. Céus, não pretendo matá-la, por mais que tenha meu motivo bem claro, não sou uma assassina, mesmo que ela me leve ao extremo, não vou chegar a esse ponto.

Afasto seu braço com a outra mão livre e seguro o grito na minha garganta, quando sinto a minha pele se rasgar com o aperto da sua unha. Sem soltar o afrouxo, abaixo a sua cabeça com todo o ódio que sinto queimar meu peito e bato sobre a madeira grossa. A mesa treme com o contato e me afasto, observando de longe seu corpo inerte por uns segundos.

Por um momento, até acredito que a tenha desmaiado, mas quando ela ergue o olhar e sorri, com os dentes vermelhos pelo corte na lateral da boca, vejo que despertei o diabo.

— Sua mãe vai morrer logo de qualquer forma. — seu dedo passa pelos lábios, limpando o gotejar pequeno e lento — Deveria ser grata por eu ter tentado acabar com o sofrimento mais rápido. Os dias dela serão cada vez mais difíceis. — antes mesmo da sua frase terminar, estou correndo ao seu encontro e empurrando meu pé na sua cadeira, que vira com o peso e a velocidade do que fiz.

Suas costas batem no chão em um baque absurdo e impulsiono minha perna para trás ao me aproximar, chutando seu estômago. O berro abafado que escapa da sua boca, seguido por uma puxada de ar grande, indica que consegui o que queria. 

Causar dor, mas ainda não é o suficiente. 

Levanto a perna novamente e repito o movimento. 

Faço isso até meus músculos reclamarem.

Faço isso até a raiva diminuir uma fração.

Faço isso até sentir o barulho oco da sua costela, quando piso na lateral do seu corpo. Sem dó, sem compaixão. Posso vê-la se contorcendo no chão e por mais que pareça ruim, estou feliz por saber que está agonizando. É um prazer que nunca imaginei que teria, mas não poderia estar mais satisfeita. Ela merece cada parcela disso.

MATTEO  Uma noite * livro 2Where stories live. Discover now