Capítulo 16 - Perdão

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– É bem simples, eu sei – continuou Aria dando de ombros –, mas vai nos manter protegidos da chuva

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– É bem simples, eu sei – continuou Aria dando de ombros –, mas vai nos manter protegidos da chuva.

– Eu gostei – comentou Tumen, sinceramente.

– É mesmo? – perguntou Aria, desacreditada.

– Sim – confirmou Tumen.

Aria parecia não ouvir. Foi até o baú ao lado das camas e o abriu. Começou a remexer dentro dele, procurando alguma coisa. Quando encontrou, levantou-se e virou para Tumen. Havia várias peças de roupa em suas mãos. Colocou uma roupa na cama ao lado de Tumen.

– Vista isso – disse Aria. – Nossas roupas estão molhadas e se não trocarmos logo, vamos nos resfriar.

Aria tinha razão, percebeu Tumen, eles estavam encharcados. Tumen pegou a roupa que Aria havia colocado sobre a cama. Eram uma túnica e uma calça de linho bastantes velhos. Pareciam servir a ele.

– Onde posso me trocar? – perguntou Tumen.

– Pode se trocar aqui – respondeu Aria se afastando.

– E aonde você vai se trocar? – perguntou Tumen.

– Na oficina – respondeu Aria.

– Não posso deixar você ir lá fora com essa chuva – disse Tumen.

– Quem disse que eu vou lá fora? – perguntou Aria, abrindo uma porta que dava acesso a oficina.

A casa era uma coisa só. A oficina era ligada a casa, e a casa ao celeiro. Aria entrou na oficina e fechou a porta. Para a sorte dos dois havia encontrado um vestido de sua mãe e uma roupa de seu pai guardado no baú. As roupas eram velhas, mas iriam servir.

Aria tirou seu vestido e colocou o de sua mãe. Ficou um pouco largo para ela, mas antes isso que ficar com as roupas molhadas. Pegou o vestido molhado e voltou para a casa. Tumen estava de costas para ela quando entrou, e ainda não havia colocado a túnica. Aria viu uma grande cicatriz nas costas de Tumen. Curiosa, foi até ele.

– O que é isso em suas costas? – perguntou Aria.

Tumen não sabia que Aria estava ali e virou-se assustado.

– Isso o quê? – perguntou Tumen.

– Isto – disse Aria, passando a ponta do dedo por toda a cicatriz.

A cicatriz cortava o meio das costas de Tumen, fazia todo o contorno da coluna vertebral e era bem grossa.

– Ah! – exclamou Tumen – Isso aconteceu quando eu tinha nove anos.

– O que aconteceu? – perguntou Aria – Parece ter doído, e muito.

– Eu adorava ir nadar em alto mar – contou Tumen. – Um dia eu e um amigo pegamos um bote e fomos nadar. Ele cuidava de mim na época. Naquele dia ele preferiu ficar no bote, mas eu mal havia chegado e já pulei na água. Eu gostava de mergulhar por debaixo do barco, virar cambalhotas embaixo d'água. Mas eu comecei a nadar muito perto do bote, em uma daquelas cambalhotas eu bati as costas na quilha. Eu nem lembro como aconteceu direito. Eu desmaiei. Meu amigo viu o sangue na água, eu já estava afundando. Ele pulou na água e me tirou de lá. Ele voltou o mais rápido que conseguiu para o palácio para tentar me salvar. Fiquei dois dias desacordado. Foi assim que eu ganhei essa cicatriz.

– Deve ter sido horrível! – comentou Aria.

– Um pouco – disse Tumen.

– E esta? – perguntou Aria passando o dedo por outra cicatriz que ia desde o pulso até o meio do antebraço direito de Tumen.

– Foi com sete anos – contou Tumen. – Minha primeira aula de montaria. Foi até um pouco ridículo. Montaram-me um cavalo adulto. Eu era apenas uma criança, não conseguia me equilibrar. Acharam que eu teria capacidade para fazer qualquer coisa. Então deram as rédeas do cavalo em minhas mãos e o soltaram. Ele saiu em disparada, eu fiquei com medo, larguei as rédeas e caí. Usei as mãos para amortecer a queda, caí no meio das pedras e cortei o braço. Dessa vez fiquei consciente, vi tudo, lembro até hoje de como doeu.

– Você foi uma criança agitada – disse Aria.

– Para falar a verdade – disse Tumen –, eu não gostava de obedecer meus pais. Corria por todo a capital, não tinha consciência de que aquilo tudo um dia seria meu. Ao menos minha infância foi muito boa.

– E cheia de cicatrizes. Não que isso tenha mudado – disse Aria, apontando para a bandagem no braço de Tumen.

– Cortei hoje de manhã – lembrou Tumen. – Estava treinando esgrima e me desconcentrei.

– Você faz muito isso – disse Aria. – Mas está errado. Nunca se desconcentre de uma luta. É perigoso, não faça mais isso. Quando estiver lutando pense somente na luta, em como bloquear e atacar seu oponente.

– Eu sei – disse Tumen. – Mas enquanto eu lutava me lembrei da primeira vez que duelamos. Foi isso que me desconcentrou. Aria...

A garota abaixou a cabeça, e ao fazer isso percebeu que Tumen tinha muitas outras cicatrizes além daquelas. Essas estavam espalhadas pelo abdômen, peito, braços, mas eram cicatrizes pequenas, que logo iriam desaparecer. Essas cicatrizes deviam ser por causa daquela guerra, pensou Aria, as armaduras protegiam, mas ainda assim poderiam deixar machucados.

– Aria, por favor, me perdoe – pediu Tumen.

Aria olhou para ele.

– Não, Tumen – disse Aria. – Eu que tenho que pedir perdão.

– Por qual motivo? – perguntou Tumen – O que você me fez?

– Foi você quem saiu mais machucado naquela briga – disse Aria. – Talvez o que eu mais deixo em você são cicatrizes, não é mesmo?

Aria apontou para a cicatriz que ela fizera no duelo de espadas.

– Tumen – disse Aria –, talvez eu entenda porque você preferiu não me contar. E é claro que eu perdoo você. Mas eu também quero ser perdoada.

Tumen preferiu não responder, abraçou Aria e encheu o rosto dela de beijos. Aria também abraçou Tumen o mais forte que ela conseguiu. Eles não queriam perder um ao outro novamente.

– Aria – sussurrou Tumen –, eu te amo mais que qualquer outra coisa. Por favor, não me deixe nunca mais.

– Eu não vou deixar – disse Aria. – Eu prometo.

Continuaram abraçados durante um longo tempo. A saudade estava matando-os. A chuva parecia aumentar. Já havia anoitecido, e estava esfriando. O vento não cessava. Como não poderiam sair dali, dormiram juntos, abraçados, felizes e com a certeza de que ficariam um ao lado do outro por muito tempo.

 Como não poderiam sair dali, dormiram juntos, abraçados, felizes e com a certeza de que ficariam um ao lado do outro por muito tempo

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Parece que tudo está dando certo para esses dois.

Aguardo você no próximo capítulo.

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Série Guerreira - Livro 1 - ArmendorWhere stories live. Discover now