Capítulo 20 - A Culpa Ainda Existe

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 Família.

Mais de dois anos que eu fiquei procurando todos para que eu pudesse ter a tão sonhada família. Queria dar tudo o que eu tinha conquistado para todos. Eu queria ter meu sonho realizado de sentar à mesa com todas reunidas, tomar um café bem reforçado, sentar na sala para ver televisão...

Foram dois anos a procura de cada uma delas: Vânia, Bia, Suelen, Renata e Regina. Dois anos após descobrir que elas não estavam mais na casa onde sempre vivíamos.

Eu me culpo de não ter as procurado mais cedo. Eu demorei muito tempo, até que elas se foram. Todas elas. E minha mãe se foi pra sempre.

Eu me sinto culpada de não ter envolvido a polícia nesse caso. De não ter me aberto para o velho Dantas, e de ter deixado o medo vencer toda essa história. Mas eu não desisti de procurar nenhuma delas. Eu não desisti de ter uma família feliz e esquecer de tudo o que passamos no porão, no bar e no segundo andar. A gente poderia recomeçar, como eu recomecei. Ou pelo menos tentei.

Agora eu estava diante da minha irmã mais velha: Beatriz, ou Bia como gostávamos de chamá-la. Depois de anos ela não tinha mudado nada, apenas os cabelos que estavam enormes e volumosos.

O corpo magro, os olhos pretos e redondos, a pele clara ainda era a mesma. Sua cara estava assustada ao me ver ali, e provavelmente eu estava com a mesma cara que a dela.

— Bia! — repito novamente. — Bia, meu Deus do céu, é você mesmo?

— Amélia! Estou feliz em te ver.

Ela, que estava imóvel, vem ao meu encontro com os braços abertos e me abraça.

Lembro que ela me oferecia esses abraços quando eu estava com medo, mas também brigava muito para que eu acordasse e fugisse junto com ela. Bia, apesar do seu jeito turrona tinha medo de fugir sozinha e que o plano desse errado.

Como vocês devem ter entendido, eu já me prostitui. Não porque eu queria, mas porque Paulo nos obrigava a trepar com seus clientes do bar. Nossa casa, que era para ser um lar adorável, virou um prostíbulo de menores.

Que coisa nojenta!

Só de lembrar me causa arrepios.

Mas sim, éramos menores de idade – fora Bia – que conseguíamos dinheiro dando a buceta. Não importava qual idade era. As vezes os homens que passavam pelo quarto só queria uma ouvinte, só queria que nos tocassem ou só queria dormir de conchinha. Sim, tinha esses tipos de babacas.

Eu vomitava após todas as relações que eu já tive. Tinha vezes que meu corpo ficava dormente e eu cantava uma música na minha cabeça para fugir daquela realidade cruel.

Meu corpo tocou incontáveis corpos. Tínhamos que ser uma máquina de sexo, enquanto Paulo enchia sua máquina de dinheiro. Ele era um louco, obsessivo por dinheiro. Quanto mais tinha, mais queria.

Únicas roupas novas que eu tinha, na verdade que todas nós tínhamos, era lingeries de diversas cores, modelos e tipos. E por fora tinha as fantasias de acordo com cada cliente.

Eu e Bia éramos as que mais apanhava. Não queríamos fazer aquilo que nos era proposto, e depois tínhamos uma reunião particular com Paulo.

Quando eu sai de casa, eu não contei para nenhuma delas. Minha mãe sabia que eu ia fugir, mas não sabia quando, mas minhas irmãs não imaginavam que eu tinha um plano de fuga. Eu queria ir sozinha para não alarmar ninguém, pois eu tinha certeza que eu iria voltar para buscá-las. Não pensei que aquilo tudo tinha me dado grandes problemas psicológicos.

Bia termina o abraço com os olhos marejados:

— Eu não tô acreditando que você está aqui comigo!

PURO DESEJO - LIVRO 1Nơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ