o que você acha que eu sou?

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Alice
Quando entramos no campus, vamos direto para o nosso devido prédio, cada um. Estávamos atrasados e não dava pra ficar batendo papo, como sempre fazíamos.
Fomos direto para sala de reuniões, onde todos já estavam sentados. Não havia um lugar perto de Pedro, como ele costumava deixar.
Eu e Gabe nos sentamos, esperando o professor chegar. O que não demorou muito, aliás.

- É daqui a pouco, senhores. - O professor entra na sala, fazendo todos nós soltarmos suspiros, levamos um susto. - Gabe, você já está com seus argumentos preparados?

- Sim, senhor Evans. - Ele ajeita a gravata, todo orgulhoso.

- Vou deixar os quatros ficarem conversando e interagindo um pouco, precisam se ajudar e estabelecer um laço de conhecimento, os três advogados - Ele apontou para mim, Gabe e a menina. - E o cliente. Eu não vou poder ajudá-los, então vocês tem que fazer de tudo para que estejam em harmonia. - E saiu da sala. Uma tensão se espalhou no ar. Pedro estava de um lado da mesa, enquanto nós três estávamos do outro. O olhar de Pedro me causou um arrepio. Ele nunca havia me olhado daquela maneira. Estava com ódio, com rancor.
Eles três começaram a conversar, mas eu não participei do assunto, só fiquei olhando diretamente para Pedro, ele também olhava para mim. Mesmo enquanto respondia todas as perguntas de Gabe. Nunca parava de manter o contato visual.

Passou quase uma hora e o senhor Evans voltou para sala, fazendo todos nós olharmos para ele.

- Tá na hora, galera! - Ele estava animado. Todos levantamos e fomos em direção a fora da sala. Eu e Pedro fomos os últimos a sair.

- Desculpe por ontem - Falo quando já estávamos na porta.

- Você não me deve desculpas, eu não sou nada pra você. - Arqueia a sobrancelha. - Só sou seu ex.

- Você sabe que não é só isso.

- Ah, eu sei? - Ele segura a porta, impedindo nossa passagem.

- Sabe! - Vou para defensiva.

- O que você acha que eu sou, Alice? - Não soube como responder. Afinal, eu nunca sei o que responder quando ele tá bravo. Não suportava isso. Não suportava ele bravo comigo, era algo que eu não conseguia suportar, esse peso nas costas.

- Porque você tá me perguntando isso? - Minha voz fraquejou. Eu estava chorando. Merda!.

- Eu falei que queria me casar com você, queria ter filhos, construir uma família, uma vida com você!

- Queria? No passado?

- Não, Alie. Eu ainda quero, quero mais que tudo. Mas não sei se você é capaz de me dar isso. Não sei se você quer isso. Mas eu não vou esperar por muito tempo, vendo você com um de seus melhores amigos. - Os olhos dele não estavam demonstrando mais raiva, mas também não eram os mesmos. - Sabe o quanto isso é difícil pra mim? Namoramos por dois anos e ele sempre esteve presente, sempre vi ele te olhar como eu olho. E agora você tá com ele. - Sua voz fraquejou, isso fez com que meu coração apertasse e um nó se formasse em minha garganta. - Não precisa ir com a gente. Tenho certeza de que o Gabe e a Virgínia dão conta da Nina sem você. - Isso doeu. Doeu muito. Eu limpei rapidamente a lágrima que escorreu do meu olho. Engoli em seco.

- O professor não vai me liberar, sinto muito. - E sai da sala, esbarrando nele de propósito. Enquanto caminhava até a sala privada onde o caso ocorreria. Vejo Peter mexendo no celular, sentando em um banco ao lado da sala onde Pedro seria julgado. Era só o que me faltava. Vou em sua direção. Ele me percebe de longe, desliga a tela do celular e guarda no bolso da calça jeans. - O que você tá fazendo aqui? - Pergunto ríspida.

- Vim te ver. Estava passeando por aí...

- Corta essa, o prédio de medicina fica bem longe do de direito. E eu não preciso que venha me ver de cinco em cinco minutos, não é minha babá.

- Nossa, desculpa. Pensei em fazer uma surpresa, só isso.

- Eu odeio surpresas... - Ia continuar falando, mas reconheci a voz de Nina. Olho ao meu redor e vejo ela e Pedro conversando. - Preciso ir. - Deixo Peter pra trás e vou atrás de Pedro. O pego pelo braço e o levo pra dentro da sala. - Que merda cê acha que tá fazendo?

- Me solta! - Ele balança o braço, me fazendo largar o braço dele.

- Não sei se você entendeu, Pedro, mas ela te processou, você está nesse momento contra ela. Depois que tudo isso passar, vocês podem continuar o namoro, mas não agora... O juiz tem olhos em todos os lugares, se vê vocês conversando acabou pra você.

- Ah, faça-me o favor! Não vem com esse papo ciumento pra cima de mim! - Ele franze o cenho. - "Vocês podem continuar o namoro" - Faz aspas com os dedos e imita minha voz. - Você não tem mais esse direito, Alice.

Alice ele me chamou de Alice. Fico repetindo isso em minha mente até me dar conta de que ele estava com anis raiva de mim do que eu imaginava. Seus punhos cerrados, mandíbula travada. Que grande merda!.

Pedro

Eu e a Alice ficamos nos encarando por longos segundos, que pareceram horas. Eu odeio sentir raiva dela, odeio ficar mal com ela, parece que dói mais em mim do que nela. O que ela provavelmente falaria que não. Com ela tudo sempre foi amiga intenso. Eu estou cansado. Cansado de esperar, cansado de tentar fazer acontecer. Tô cansado dela. Nunca achei que pensaria tal coisa, mas não dá pra não pensar.

- Alice, faz o seguinte: me esquece. Esquece que eu existo. Esquece que a gente existiu. Eu já esqueci. - Saio de sua frente, deixando ela parada no meio do auditório, sem parecer acreditar no que eu disse. Me sento na mesa, ao lado de Gabe, do lado dele está a Virgínia, que parece revisar o que irá falar em uns cartões brancos. Alice nunca faria isso. Ela não precisaria. Tem o talento nato. Ela nunca precisaria de cartões para se lembrar de como me defender ou defender qualquer pessoa. Mas não importava mais. Eu a esqueci. Apagou. Para mim, ela nunca existiu. Chega de Alice em minha vida. Acabou. Ela me fez acabar com tudo. Eu não tive escolha. Não posso me sentir culpado. Não agora. Nem nunca. Alice fez uma escolha. E essa escolha não me continha nela.

- Pedro? - Gabe sussurra, me tirando a atenção. - Vai começar. - Vejo a juíza entrar na sala e todos ficarem de pé. Assim que ela se senta e bate o martelo nós sentamos, todos em harmonia, parecia até ensaiado. Olho pro lado e não encontro Alice lá, onde ela deveria estar, ao lado de Virgínia. Olha para trás e ela também não está lá. Merda! Pra onde ela foi? Será que eu peguei muito pesado?. Bom, não está na hora de pensar sobre isso. Depois eu me perco em tais pensamentos.

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