Coragem, porque noção não tem

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Valentina

Estamos esperando a Alice chegar já faz umas três horas. Eu vou matar essa garota. Não sei o que ela sente pelo Pedro, não entendo os sentimentos deles dois, mas parece que eles tem uma conexão cósmica, eles se entendem, eles se amam de verdade, dá pra ver nos olhos dos dois. Mas não adianta ter esse amor todo, se ele engana ela dessa forma, afinal de contas, traição não tem perdão, e ponto. E o pior: ele a traiu com a mina que ela não gosta nem um pouco. Fora ela ser ex dele, então nem se fala. Não irei citar os outros motivos se não vou ficar com mais raiva ainda dele. 

- Se ela demorar mais dez minutos eu vou lá de novo, buscar ela, não quero nem saber. - Peter diz alterado. Ele está andando em círculos a exatamente três horas, desde que a gente chegou em casa.

- Relaxa um pouco, mano. Alice não ficou lá forçada, ela quis ficar, fora que ela tá com o Pedro, eu tenho certeza que ele não faria nenhum mal a ela, o cara é louco por ela. - Gabe diz, tentando acalmar Peter. Gabe estava sentado de cabeça pra baixo no sofá, mexendo em um cubo mágico de decoração, e se a Alice estivesse aqui, brigaria com ele por estar mexendo em uma coisa que não era pra mexer. Acontece é que tudo que o Gabe toca, ele quebra, e a Alice odeia isso.  Lucas está sentado na poltrona largado e eu estou do lado do Gabe, deitada, com os pés na barriga dele. 

- Alice ainda é apaixonada por ele, não sabe o que faz. Ela não é de se apaixonar, mas quando isso acontece é pra valer, e ela acaba não pensando direito. Ela faz tudo para aquela pessoa, sem pensar no que vai levar em troca. Mesmo que seja um par de chifres. - Lucas se pronuncia, fazendo eu e Gabe cair na gargalhada, Peter nos olhou sério por alguns segundos e depois voltou a andar em círculo.

- Ela não é trouxa a esse nível, Lucas. Alice é muito forte, forte até demais, ás vezes. Ela pode fazer burradas quando está apaixonada, mas não iria ser desse esteriótipos. - Digo ainda sorrindo. Assim que termino de falar, a porta do apartamento se abre, e Alice entra. Ela olha pra gente e dá um sorriso sem mostrar os dentes. Não era um sorriso do tipo: "estou feliz, mas não ao ponto de mostrar minha arcada dentária", e sim um sorriso do tipo: "eu não tô feliz, mas prefiro sorrir ao demonstrar o que sinto de verdade". Eu conhecia bem esse sorriso. Ela já fez esse sorriso diversas vezes, e eu sempre consegui fazer ela falar o que realmente estava sentindo, afinal de contas, eu a conhecia melhor do que ninguém. Ela engoliu em seco, ainda com o mesmo sorriso no rosto, e, sem falar uma palavra foi pro quarto dela, praticamente se arrastando. 

Uma coisa muito importante que todos devem saber sobre a Alice: quando ela está triste, e você percebe isso, você deve apenas dar o espaço necessário para ela se acalmar, e quando ela vir até você, se sentir confortável o suficiente para demonstrar o que está sentindo, e se abrir com você. Não adianta você forçar ela a te dizer alguma coisa. Então foi isso que eu fiz, foi isso que todos nós fizemos, deixamos ela ir pro quarto, ligar o som no último volume e ficar lá por horas a fio, enquanto nós quatro curtiamos sua playlist da sofrência calados, sem falar uma palavra. Pelo menos agora o Peter se sentou no sofá com a gente e parou finalmente de andar de um lado para o outro. Aquilo já estava me dando nos nervos. 

Nós vimos três filmes. Três filmes foi o tempo de Alice escutar toda a sua playlist duas vezes e destrancar a porta. Dessa vez, a bad vibe dela durou três filmes, geralmente durava menos. Meio filme, ou apenas um, mas estamos falando do Pedro. É por ele que ela está sofrendo, então três filmes é bem pouco. Ela não abriu a porta. Ela apenas destrancou. Aquilo significava que a gente poderia entrar, se quiséssemos, mas ela não fazia questão disso.  Nós quatro nos entre-olhamos e concordamos em silêncio que quem iria entrar lá primeiro seria eu, como sempre.

Eu me levanto, respiro fundo, e caminho até o quarto dela. Bato na porta e espero uma resposta. Segundos depois a escuto gritar: "pode entrar". Percebo sua voz meio embargada. Abro a porta do quarto devagar, tentando não fazer movimentos bruscos. Pipoca desce da cama dela e pula em cima de mim. Ele já está tão velhinho, mas seu porte é tão pequeno que ainda parece um filhote. Eu faço um carinho nele e depois pego a cadeira da escrivaninha, me sentando ao lado da cama dela.  Quando ela percebe que estou perto dela, se vira pra mim. Os olhos dela estão inchados, vermelhos e mais claros do que o normal. Seu rosto amassado, mas ela ainda estava bonita.

A Distância é uma drogaOù les histoires vivent. Découvrez maintenant