4-Soyun

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  — Lee Soyun? — chamou a recepcionista, quando eu estava na sala de espera, para uma consulta repentina do senhor Kim. Mas eu não estou animada. Não sei o quê ele tem a me dizer, mas eu não me importo, mesmo que seja uma melhora nas minhas pernas, não vai adiantar de nada. Elas nunca irão se curar.

  Me locomovi até a sala, entrando na mesma. Sou recebida por um sorriso do doutor Kim, e um homem, alto, com cabelos castanho escuros e covinhas à mostra. Não demonstro sentimentos, como sempre, eu não vim para ser educada, apenas para fazer a consulta.

  — Bom dia, Soyun! — doutor Kim estende a mão para mim, que aperto a mesma, sem falar nada, apenas assentindo. —Deve estar se perguntando quem é este rapaz.

  Na verdade, estou pouco me lixando. Mas tenho que manter minha seriedade.

  — Esse é Kim Namjoon, Soyun! — apresenta Seokjin, quando o maior estende sua mão.

  — Muito prazer, Soyun. Ouvir muito falar de você. — com certeza não ouviu coisa boa. Ele continua com a mão estendida, esperando que eu a aperte, mas ao invés disso, eu o examino de cima à baixo. Ele é um jovem bonito, deve ser um novo assistente do doutor.

  Me volto para Seokjin, sem dar muita importância.

  — O senhor me chamou para quê, necessariamente? — pergunto, enquanto Seokjin olha para o homem, fazendo uma cara de desânimo.

  — Eu te trouxe aqui, para te apresentar ao seu novo cuidador. — ele apontou para Kim Namjoon, que acenava, sorrindo fraco.

  Um homem. Por essa eu não esperava. Droga! Nada melhor que um cuidador homem.

  Eu não expressei meus sentimentos, mas - com certeza - eu estava apreesiva. Droga, ele é um homem, se for um pervertido, eu estou completamente vulnerável!

  — Não se preocupe, Soyun, eu confio em Namjoon. — a voz de Seokjin interrompe meus pensamentos. E eu? Como eu posso confiar nele? — Ele não vai lhe fazer nenhum mal. — ele assegura, me fazendo assentir levemente, mas contra a minha vontade. O doutor Kim é praticamente o responsável pela minha agenda, se eu quero passear, ele precisa permitir, o que eu como ele também decide - só que eu nem sempre obedeço -, e os cuidadores também. Eu creio que eles passam por uma espécie de avaliação antes de serem apresentados a mim. Mas o doutor Kim fez tantas coisas por mim, ele merece meu respeito em apenas me tolerar.

  — Ele pode se mudar hoje. — permito._ Boa tarde, doutor Kim. — me desvio para a saída e saio, sem mais delongas.

  Já em casa, me dispo e entro na banheira, sentada sobre a mesma, com a porta trancada.

  Todo dia, tento usar o cérebro mais do que posso, para evitar que pensamentos depressivos entrem na minha mente. Mas parece impossível, por isso, meus poemas vêm com mais intensidade. No momento, não estou com o meu caderno de escrita, mas busco inspiração nas gotas de água quente, que descem pelo meu colo e pelos fios negros de meu cabelo.

  Fecho os olhos, inclino minha cabeça para trás, para lembrar de quando minha vida era colorida, e agora, não passa de preto e branco.

  Sou interrompida por uma barulho, vindo lá de baixo. Ergo minha cabeça, e me arrasto, rapidamente para fora da banheira. Caio no chão, pela altura.

  Ao invés de continuar, me deito no chão, nua, sentindo o mármore gelado sobre minhas costas, enquanto observo o lustre do banheiro. Me arrependo, subitamente, por estar viva e me ergo, me arrastando, juntamente com a minha esperança, até meu roupão. Meus braços já doem, por aguentarem meu corpo, enquanto eu visto meu roupão e subo na cadeira de rodas. Me encaixo na mesma e, a conduzo até a saída do banheiro, que dá no meu quarto. Saio, e vejo minha porta trancada.

  Suspiro aliviada.

  Atravesso o quarto, em direção ao closet, me preparando mentalmente para mais uma prova. Visto meu sutiã, e a calcinha logo depois. Respiro um pouco, e volto, vestindo uma blusa moletom cinza, e uma calça larga - a pior parte. Me levanto para encaixá-la, o que, como sempre, resulta em uma queda, por falta de equilíbrio.

  Dessa vez, caio de bruços, meus braços evitam que a queda seja mais grave.

  Apoio minha cabeça em meus braços, com o rosto de frente para o chão.

  Sem perceber, as lágrimas já escorrem do meu rosto. Não as culpo, apenas deixo rolarem, já desanimada pelo sofrimento. É horrível ser dependente.

  Depois de alguns soluços, encaixo a calça, e me arrasto de volta para a cadeira, conformada por saber que vou passar por isso de novo amanhã, e depois de amanhã e depois. Calço minhas meias, e penteio meu cabelo.

  Minha cabeça sempre fica mais leve depois de um banho.

  Destranco a porta, para ver o que aconteceu lá na sala. Se for um bandido, ele já deve ter dado a limpa na casa, e ido embora. Mas meus olhos encontram o de um moço alto, com duas malas ao seu lado, catando algo, que eu creio que é um vaso quebrado. É o mesmo moço do consultório do doutor Kim.

  Desço as escadas, pela cadeira elevador, e ele me percebe. Ele lança um sorriso tímido, com certeza constrangido, pelo fato de ter dado uma ótima impressão, quebrando o vaso.

  — Desculpe So...

  — Senhorita Lee. — ordeno, vendo que não há como confiar nele, por mais tempo que ele fique aqui.

  — Senhorita Lee... me desculpe por quebrar o vaso. Eu não queria. — ele tenta se desculpar.

  — Eu também não queria estar em uma cadeira de rodas, mas olha que ironia. — respondo fria, quando ele abaixa sua cabeça, constrangido.

  Ótimo começo, agora é só piorar mais um pouco a situação, daí, quem sabe, ele vai embora um pouco mais depressa do que a anterior, afinal, ele parece um cara bem sensível.

  — Pegue suas malas, vou te levar até seu quarto. — ordeno, vendo ele me olhar receoso.

  — Mas, e isso? — ele pergunta, apontando para os cacos no chão.

  — Pode deixar aí, a governanta limpa quando chegar amanhã. Agora me obedeça. — ordeno novamente, seguindo de volta para a cadeira elevador.

  Como todo mundo, ele termina de subir as escadas antes da minha cadeira lenta. Evito olhar em seus olhos, para não demonstrar o quanto eu odeio isso, mas ele se encolhe, como se eu tivesse matado sua família.

  Um ponto fraco dessa casa, é que não há quartos horríveis, nem velhos. Então, não vou pô-lo em um quarto de Cinderela, como eu pretendia. Irei dar pelo menos essa sorte para ele.

  — Esteja pronto às oito da manhã. — informo, enquanto ele admira seu enorme quarto.

  — Obrigada, senhorita Lee. — ele agradeceu, enquanto eu saía do quarto, deixando-o sem resposta.
 
  Odeio isso.
 

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