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  Sensações.

  Já não sinto isso há muito tempo.

  Meu quarto é tão triste, mas há algo de diferente nele hoje.

  Como um dejavu. Um dejavu...

  Meus olhos se estendem pelo local. Me sinto fora de mim, como se pudesse fazer tudo e nada ao mesmo tempo. Isso é estranho.

  Como se eu houvesse voltado no tempo. No tempo em que eu era feliz.

  E se for real? E se eu não tiver sofrido o acidente? E se esses três anos de tortura nunca existiram?

  E, se Taehyung estiver me esperando na cozinha, fazendo biscoitos?

  Sou enganada por mim mesma, quando tento sair da cama sem a cadeira de rodas. A realidade gritante da minha vida aparece quando caio no chão.

  Tenho vontade de gritar. Ou de ficar em silêncio para sempre.

  Então, se parece que eu já vi essa cena antes, o que aconteceu?

  Será que? Nem eu sei o que pensar.

  Desço as escadas, com minha alma ainda na cama. Me direciono à cozinha e chamo Namjoon.

  — Sim? — ele põe uns ingredientes em cima da ilha da cozinha.

  — Não me lembro de muita coisa de ontem, à noite. E acordei com uma sensação estranha. Como se eu não tivesse ido para o quarto. — comento, com a mão na nuca. Meu cabelo está todo bagunçado.

  Ele dá um sorriso fofo.

  — Você dormiu na terceira temporada. — ele retira alguns ingredientes das sacolas.

  Temporadas? Que temporadas? A palavra martela na minha cabeça, até eu lembrar.

  Namjoon me forçou, quer dizer, me tirou do quarto para assistir todas as temporadas de Friends ontem. E, pelo visto, caí no sono no meio delas. E Namjoon me levou de volta para o quarto.

  — Olha, poderia ter me deixado no sofá ontem à noite. — comento, ajeitando os cabelos bagunçados.

  Ele lança um sorriso fechado.

  — Para depois você arranjar uma lesão na coluna? — ele retruca. Reviro os olhos, mesmo sabendo que sua intenção foi boa.

  — De qualquer forma, obrigada._ agradeço. — Tem notícias de Hoseok?

  Ele muda seu semblante.

  — Nenhuma. — ele exclama tristonho.

  Sinto meu coração apertar. Suspiro, meio alto.

  — Eu vou estar lá em cima. Me chame na hora do café. — digo, engolindo em seco. Guio a cadeira de rodas até as escadas, deixando para trás um pouco da minha dignidade.

  Não costumo fazer preces, mas tento agora pedir, mesmo que meio desajeitadamente, em favor de Hoseok. Para que seja forte, caso tiver de acontecer alguma coisa, grave, e que necessite de força.

  É sempre meio estranho. Pedir algo para outra pessoa, sem ser você mesmo. Principalmente quando seu costume é cobrar coisas, às vezes absurdas, para si. E essa sensação de que não preciso me preocupar, deixa o ato mais estranho ainda.

  Pelo que parece, ou pelo que eu sinto, Hoseok vai ficar bem.

  Penso nisso tudo durante meu banho, que dura longos vinte minutos. Eu não deveria ficar tanto tempo assim numa banheira, mas eu não quero encarar a realidade lá fora. A água quente faz um vapor sobre o box, e age como se abafassem os gritos desesperados das pessoas lá fora.

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