25 - Namjoon

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  Mesmo que Soyun fale coisas que eu não entendo às vezes, tenho que concordar com elas. Lembro de ter me dito que o tempo passa de acordo com nossas emoções, como um castigo da vida. Principalmente quando se importa com ele.

  Eu a observo pela cozinha. A feição impecável e impassível observando a paisagem da varanda. Não é tão interessante por conta do muro que a cerca, mas Soyun a observa como se estivesse tentando decifrar um código.

  Esses últimos dias têm sido, de certa forma, destrutivos para ela. Uma mulher cheia de problemas, e mesmo assim, não se deixa abalar pelas tempestades da vida. Pelo menos é o que eu enxergo. E algo me diz que estou errado.

  Não consigo conter uma respiração pesada quando vejo um vislumbre de uma lágrima solitária cair sobre seu rosto. Ela não se incomoda como antes e apenas permite que aquela lágrima caia sobre o chão de mármore.

  É difícil enxergar algo assim, sem poder fazer muita coisa, principalmente quando lembro das pílulas na escrivaninha. Odeio tentar pensar que, a qualquer momento eu posso encontrar um cadáver naquele quarto. E só piora quando lembro que esse cadáver pode ser Soyun, quem prometi cuidar, e manter fora de perigo. Jurei para Taehyung que daria meu melhor, e isso se torna mais difícil a cada dia. Eu não tenho idéia do que fazer, e Taehyung não está aqui para me aconselhar. E não aparecerá tão cedo.

  Toda vez em que penso no homem estiloso, cheio de pastas, o único que conseguia arrancar risos sinceros de Soyun - até um tempo atrás - algo dentro de mim me deixa desconfortável. A curiosidade me bate forte sobre o que aconteceu entre eles. Me arrependo subitamente por não ter tentado escutar eles conversando naquele dia. Mas do jeito que eu sou, eles logo teriam descoberto.

  — Pensamentos são perigosos, às vezes, Namjoon. Não deixe eles te dominarem. — Soyun faz uma careta de desgosto. Pela sua expressão, esse conselho cabe mais à ela do que à mim.

  Eu a encaro, enquanto retira seus fios da face.

  Preparo a bandeja, que comprei semana passada, junto com o que eu chamo de 'café da manhã digno'. Equilibro o quanto posso e coloco devagar na mesa. Soyun me segue com os olhos, e suas sobrancelhas franzidas.

  — Não deixou cair! Os tempos estão mudando! — Soyun brinca sem muita animação.

  — Você é tão engraçada, Soyun! Deveria ser comediante de barzinho. — meu sarcasmo arranca uma risada fraca, mas sincera. Me alivio por inteiro de sentir essa sensação.

  Ela encara meio confusa o tanto de comida que tento organizar da forma mais bonita possível na mesa.

  — Namjoon?

  — Sim? — respondo, com um breve sorriso.

  — Eu não sou de comer... muito... — ela encara com certa preocupação minha face.

  A devolvo com outro sorriso.

  — Por isso estou aqui, Soyun. — rio, para aliviar o mínimo da tensão que paira no ar desde segunda. — Se quiser, podemos chamar Hoseok.

  Ela alivia um pouco sua expressão. Falar de Hoseok, de alguma forma acalma à nós dois.

  — Liberei ele por hoje. Não pretendo sair, e se caso eu sentir vontade, não vou de carro. — ela me observa colocar um copo em sua frente. Seu suspiro fundo é um breve indício de que o quê estou fazendo pode dar errado. — Bem... o que temos para hoje?

  Sorrio aberto quando ouço a pergunta. Soyun fica um pouco surpresa com meu entusiasmo, mas logo se recompõe.

  — Que bom que perguntou!

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