CAPÍTULO QUATRO

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#RenegadesJKJM

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𝑪𝑨𝑷𝑰𝑻𝑼𝑳𝑶 𝑸𝑼𝑨𝑻𝑹𝑶

[ Białystok, 5 de janeiro, 1925 ]

A primeira vez que Jakub o viu foi pela janela da frente, logo antes de uma terrível tempestade de neve.

Sua mãe estava assando um bolo na cozinha, seu pai fora como sempre. A casa em frente à sua não estava mais vazia e silenciosa, mas sim repleta de pessoas entrando e saindo a cada segundo, carregando uma infinidade de caixas de papelão e grandes mobílias.

Os Kochs certamente estavam observando a chegada de novos moradores ao bairro.

Por quase uma hora inteira, ininterrupta, Jakub ficou de joelhos sobre o sofá, encostado no peitoril da janela com o queixo apoiado sobre as mãos. Havia homens e mulheres de todas as alturas e idades caminhando entre um caminhão e a porta da frente, seus passos apressados, tentando escapar da neve.

— Jakub, querido, o bolo está— O que você está fazendo? — sua mãe perguntou, parando junto ao arco que levava à cozinha.

— Olha, mamãe. Há novas pessoas se mudando!

Sua mãe se aproximou rapidamente, afastando as cortinas para dar uma breve olhada.

— Não fique olhando, filho. Não é educado. — Em oposição a suas palavras, sua mãe continuou espionando por mais alguns momentos antes de se afastar. — Vamos recepcioná-los assim que a tempestade passar. Mas agora, moço, quero você na cozinha.

Jakub assentiu, lançando um último olhar através do vidro, apenas para encontrar um garoto miúdo — mais baixo que ele — o olhando de volta. Ele parecia ainda menor ao lado de uma senhora que provavelmente era sua mãe, escondendo-se alguns centímetros atrás dela, como se ela pudesse protegê-lo de todos os estranhos.

O garoto tinha um ninho de cachos acastanhados e desajeitados sobre a cabeça, bochechas macias e redondas e um nariz muito vermelho, por causa do frio. Como a mulher ao seu lado não lhe deu atenção — tendo um bebê pequeno embrulhado em cobertores amarelos entre os braços — enquanto conversava com um homem, o menino continuava olhando para Jakub incessantemente.

Ele parecia um pouco desconfortável, talvez um pouco assustado, porque se mudar para um novo lugar onde não se conhecia ninguém provavelmente não era a melhor coisa a se acontecer a uma criança. Jakub jurou que conversaria com o garoto quando ele e a mãe fossem até sua casa; fazia questão de que o garoto soubesse que poderiam ser amigos.

Outro chamado veio da cozinha, um pouco mais urgente desta vez. Então Jakub finalmente se afastou da janela, deixando o olhar do garoto ir de encontro ao de ninguém.

Aquela foi a primeira vez que o viu.

•••

A segunda vez foi apenas uma semana depois, quando o temporal ofereceu uma trégua e finalmente era seguro brincar do lado de fora.

Ser forçado a ficar dentro de casa por alguns dias deveria ter sido o suficiente para Jakub esquecer-se de que havia alguém novo do outro lado da rua. Entretanto, todas as noites após sua mãe lhe dar um beijo de boa noite, ele se esgueirava para fora da cama e ia até a janela, buscando enxergar alguém na casa em frente à sua. Por vezes, encontrava o outro garoto olhando de volta.

Na segunda-feira seguinte, Jakub estava brincando no quintal da frente, entretendo a si próprio, até ouvir uma porta se fechar do outro lado da rua. Não surpreendentemente, o garoto estava sentado no degrau da frente, apenas observando o modo como Jakub se movia.

RENEGADES • [jjk + pjm]Where stories live. Discover now