der engel

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1939, na Alemanha

Adora acordou

Mas preferia não ter acordado ali, na Alemanha em pleno 1939. Era incrível como a sua rotina se resumia em acordar e ir ajudar pobres pessoas na surdina da manhã. Pessoas já quase esquecidas seja pela guerra, seja pelo governo autoritário que dominava onde ali estava.
Era incrível como ela, uma pessoa boa, tinha que fazer boas ações escondida. Enquanto o líder de toda a Alemanha permanecia fazendo atrocidades com toda a população assistindo a tudo.
Mas lá estava ela, saindo na Alemanha fria como uma super-heroína para ajudar pessoas que não tinham o que comer direito, ou que simplesmente não tinham dinheiro para pagar qualquer tipo de cuidados médicos descentes.
Ela poderia ser presa, mas não se importava de ser presa se estivesse fazendo o bem para outras pessoas. E desde que o seu último motivo para sorrir foi embora, ela não se importava tanto com as coisas assim.

  — Senhora Razz...- Adora entrava na casa da idosa que ela cuidava todos os dias, ela tinha sido abandonada pela família e só tinha Adora para cuidar dela agora.

  — Mara! – Razz disse animada, como sempre fazia, confundindo Adora com Mara. Adora não fazia idéia de quem era Mara, mas aparentemente Mara era a única pessoa que ainda permanecia na mente fraca da Madame Razz.

  — Oi...- Adora pensou por um momento, não sabia se Mara e Razz eram amigas ou parentes, nunca tinha parado para pensar sobre isso. Mas mesmo assim, ela sempre entrava no personagem e fingia ser Mara.

   — Minha cara, por que demorou tanto para voltar? Já estava ficando preocupada com...- Razz não terminou a frase, Adora achava que era por causa da sua memória que era fraca demais para tal, e quando fazia isso, logo mudava de assunto como agora. – Eu fiz uns bolinhos de chocolate para você, do jeitinho que você gosta.

  Adora ficou surpresa. Se ela se lembrou da receita de bolinhos, isso provavelmente significa que a sua memória havia melhorado pelo menos um pouquinho. Adora se permitiu sorrir, e se lembrou do porque corria aquele risco de ser presa. Ela pegou o  bolinho com uma mão, e deu uma mordida generosa pela fome que tinha.

   — Hum...Está muito bom...Nossa...Qual a receita?

    — Amor...- Adora sorriu amarelo, achando a siituação um tanto quanto fofa – E farinha de trigo, junto de chocolate, e...
Adora gargalhou, e se permitiu esquecer o mundo há sua volta.
A situação estava um tanto que confortável para Adora, tirando o fato de que ela poderia ser presa, tudo ocorria bem.

   Diferente de Catra

   Esta estava sempre fugindo do governo, se escondendo entre becos e vielas para não ser encontrada por ninguém que trabalhasse no governo. Ela vivia de pedir ajuda para algumas pessoas, mas a maioria delas a olhava com estranheza e a ameaçavam, dizendo que chamariam a polícia. Catra não os culpava, por mais que sentisse vontade de chorar a cada vez que implorava um prato de comida e recebia um grande não, eles se negavam por puro medo, pois sabiam exatamente o que acontecia com uma pessoa da cor de Catra.

   Até que o inverno chegou.

   E ele chegou forte, tirando qualquer resquício de esperança que Catra ainda mantinha no fundo do coração. Ele chegou com o frio obviamente, mas a diferença entre um inverno aconchegante com uma lareira quentinha para se aquecer e o inverno que Catra era obrigada a agüentar, era que o seu inverno não tinha nem uma lareira nem um mínimo fósforo para ela se aquecer.

   Ela iria morrer em breve.

   Sabia disso por causa das bandeiras estampadas nas janelas. A cruz suástica bordada na bandeira vermelha como o sangue que se derramava a cada dia, era um sinal de que o governo assassino logo chegaria ali, e o seu sangue logo não teria tanto contraste com o vermelho da bandeira.

    Olhou no fundo daquela cruz, que significava tantas e tantas coisas, mas agora só tinha o significado de guerra. Aquela cruz deveria significar a felicidade, a boa sorte, a saudação ou a salvação, mas agora ela não representava mais nada disso.

    Agora, ali, naquele instante, ela só era o símbolo do cruel nazismo.

   E Catra não queria ter quer ver aquela cruz, ela queria poder viver em um mundo onde ela pudesse viver feliz, onde anjos da guarda existissem e eles pudessem salvar ela do frio. Mas agora, ali, naquele instante, anjos não existiam, mas ela esperava que eles existissem então ficou de joelhos no gelo e orou. No meio daquele frio grotesco, ela orou que Deus ou que qualquer força superior existente lhe enviasse o melhor anjo que ele tivesse para cuidar dela.

   E ele realmente veio.

   Ou melhor, ela veio.

O Holocausto - ib: not a couple! infinitenonfictionOnde as histórias ganham vida. Descobre agora