Há Magia

18 - Honra e esperança

     O escuro misturado as incertezas causaram um pânico momentâneo, buscando aliviar seus devaneios pessimistas, Sorah fechou os olhos e entregue as trevas sentiu seu coração pulsar velozmente, seu interior começou a emitir uma luz tremenda que modificava seu corpo por onde percorria, após consumir toda a matéria dela a sua forma mágica despertou inundando o interior do túnel de luz.

     Abrindo os olhos lentamente aos poucos toda a dimensão do túnel foi se revelando, sentindo-se segura, Sorah palpitou suas asas se erguido pelo ar. Tomada por uma determinação tamanha, ela voou rápido como jamais antes e num instante cruzou toda a extensão do túnel, na extremidade do monumento viu uma grande explosão em azul vivido projetar-se no alto e irradiar a sua volta.

     A multidão não gritou entusiasmada como nas outras travessias pelo túnel, ouvia-se apenas cochichos, logo todos ali sabiam a procedência familiar da garota e o fato de ser de classe servil que mesmo assim foi selecionada para a esquadra azul, isso causou um tremendo burburinho e despertou a curiosidade de todos em relação àquela jovem, o que de especial ela poderia ter para conseguir um feito desses?

     Sem perceber a proeza que concretizada, Sorah estranhou aquela atitude do público e seu extinto de inferioridade logo deduziu que aquilo tinha algo com o seu passado como "sem magia" e toda a crueldade com que a população do mundo mágico a tratava. Com pressa de sair dos holofotes, ela nem esperou as luzes azuis sumirem e sobrevoou entre a luminosidade rumo à torre de sua esquadra.

     Ao pousar no pilar da torre azul, Sorah deu alguns passos e posicionou-se próxima dos outros recrutas, uma movimentação estranha entre os novatos causou um grande desconforto, como todos ali pertenciam a classe real e não gostavam de se misturar a classe servil, rapidamente afastaram-se de Sorah deixando-a isolada numa extremidade da base. Em primeiro momento um sentimento de tristeza pairou sobre ela, mas não era a primeira vez que enfrentava a rejeição, por toda sua vida havia lutado contra esse efeito e já superou em outras ocasiões, não seria agora que deixaria se abater.

     Aplausos de um único ser começou a ecoar, assovios e uma grande vibração, Sorah viu ao longe Urion torcendo por ela, comemorando o grande feito, de imediato um largo sorriso se abriu seguido de uma emoção que causava o umedecimento dos olhos e nariz da garota que segundos depois estava segurando o choro quase desabando em lagrimas. Enquanto limpava os olhos e assoava o nariz, ela prosseguiu em seu posto assistindo o decorrer da cerimônia.

     Após horas de duração o processo seletivo havia encerrando-se e todos os novos recrutas estavam alocados em suas respectivas esquadras. Marcando o fim de toda a festividade as torres passaram a emitir intensas luzes das suas cores de origem comemorando a integração dos novatos e colorindo o céu do mundo mágico.

     Logo em seguida veio a dispensa dos novos recrutas, mas com data de retorno para os treinamentos e aulas no instituto mágico no dia seguinte. Em meio ao intenso trafego de seres sobrevoando os céus daquela área, Sorah reencontrou-se com Urion, o garoto abriu um largo sorriso e falou num tom elevado:

     — Você realizou algo que eu só acreditava ser possível em meus sonhos, um ser de classe servil na esquadra azul!

     Diante de um enunciado tão grandioso, Sorah nem conseguiu falar e limitou-se a abrir um sorriso tímido, Urion ainda eufórico continuou a falar:

     — Não tem noção do seu feito, a partir de hoje você será eternamente a heroína de todos os jovens servis, a inspiração, o nosso modelo.

     Com tamanha exaltação, Sorah corou de vergonha, pois jamais havia ouvido tantos elogios vindos de alguém que não fosse seu pai. Urion continuou sua falação e Sorah apenas o ouvindo e balbuciando algumas poucas palavras, então veio o fim da tarde e ambos voaram juntos por um tempo e logo cada um seguiu o caminho para seu vilarejo.

     Ao pousar próxima de sua casa, Sorah ouviu uma gritaria, crianças da família Esperança correram e cercaram a jovem envolvendo-a num abraço coletivo, as notícias sobre a cerimônia haviam se espalhado por todo o mundo mágico, marcando a entrada da primeira servil na esquadra azul. O vilarejo estava em festa com o ótimo resultado de seus membros, Lirin na esquadra verde e Sorah na azul, a família Esperança jamais havia conseguido tanto destaque na cerimônia de seleção.

     Com tantos holofotes em si, Sorah tentava sair do meio de toda aquela algazarra, mas com tantas crianças ao seu redor essa era uma tarefa extremamente difícil. Quando então a matriarca Ilse aproximou-se daquele tumulto, as crianças voltaram a ficar em ordem e dispersaram-se.

     Sob o olhar fixo de Ilse a sua acusadora e carrasco, Sorah esmoreceu, não sabia o que esperar vindo de alguém que a desprezava, e então a surpresa, a matriarca fez a honraria da família Esperança, arqueou as duas mãos e posicionou frente ao rosto e num tom respeitoso pronunciou:

     — A esperança que em ti floresceu, contagiará uma multidão.