Ipoméia Purpúrea

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Na mesma noite que retornamos do encontro com Apolo, Hades se isolou em seu quarto.

Saiu antes do amanhecer e retornou apenas à noite para dormir.

Dione havia pedido para deixa-lo encontrar um meio de "entrar nos eixos". Então o deixei.

Dione e eu passávamos os dias juntas. Vez ou outra Kael e Pollux também apareciam para nos acompanhar. Visitamos as pracinhas e parques, galerias a céu aberto, anfiteatros, todas com uma arquitetura belíssima preenchidas pelo vai e vem das pessoas.

— Daqui há uma semana esse lugar vai estar uma loucura. — Dione disse, enquanto passávamos pelo Anfiteatro no início da noite. — Você vai amar o Festival das Lanternas, Perséfone.

O lugar era gigantesco, um imenso espaço de confraternização a céu aberto rodeado por uma aquarela iluminada de carvalhos, cerejeiras e flamboaiãs.

— Nós temos três grandes festivais. O Festival das Lanternas, o Festival do Grão e o Festival das Águas. — Ela continuou. — Também remos outras comemorações menores, as pessoas aqui gostam de celebrar.

— É maravilhoso. — Eu disse, caminhando com ela pelo gramado

— É sim, e eles merecem. Alguns passaram por coisas ruins no passado, Perséfone. — Dione falou. — É bom, não acha? Saber que eles tiveram um destino feliz, no fim das contas, estando aqui.

Assenti, sentindo o coração aquecido.

— Espere aqui um segundo que já volto. Preciso acertar alguns detalhes com Lucca. É que ele está insistindo em trocar as cores das lanternas. — Dione explicou, se retirando para se juntar à um grupo que se reunia alguns metros a frente e escrutinava o espaço, conversando sobre o festival.

Me recolhi em um banco de madeira tomado por Bougainvilleas cor-de-rosa. O anfiteatro ficava do lado oposto ao rio, se eu me erguesse um pouco conseguiria enxergar as luzes da casa de Hades.

Após alguns minutos uma voz ao meu lado me despertou.

— Primaveras — A mulher de cabelos negros que nos abordou nas mesas dias atrás, Apolônia, sorria simpaticamente para mim.

— É o nome da planta que está rodeando você. — Ela disse, se referindo as Bougainvilleas ao redor do banco.

— Ah, sim. — Eu disse, assentindo. — Você tem razão.

— A Primavera rodeada de Primaveras. — Ela riu com a própria piada. — É engraçado. E qual é essa aí que você tem nas mãos?

— Uma Ipoméia Purpúrea — Falei, mostrando o jarrinho com a terra remexida pela plantinha que despontava. — Gostaria de se sentar?

— Obrigada. — Ela disse, se sentando ao meu lado. — Como está indo com a Ipoméia? Você ainda está enfraquecida?

O choque por Apolônia saber que meus poderes estavam fracos se estampou em meu rosto e ela riu, divertindo-se.

— Não precisa se assustar, Perséfone. Vi você de longe. Estava tão concentrada neste vaso que achei que o partiria.

Apolônia sorriu, simpática. E de repente me lembrei de sua fala de dias atrás.

Você a trouxe para si, Senhor do Mundo Inferior. A mãe flor gentil...

E a reação tensa de Hades.

E então a reação dolorida de Hades após o encontro com Apolo surgiu na minha mente.

Hades era o deus do Mundo Inferior, e certamente teria milhões de coisas a controlar ao mesmo tempo. Mas algo nessas duas situações o atormentavam.

Hades e Perséfone - a Luz e o EscuroOnde histórias criam vida. Descubra agora