Ligados pelo Destino

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Deméter sempre foi conhecida por não gostar de sair de seu paraíso — como ela chamava nosso lar entre as campinas do Olimpo — era muito determinada e focada em seu trabalho, sempre quis que eu fosse como ela e era boa em nos manter dentro de seu cercado. Certamente não tinha sido sua escolha mais agradável vir até aqui, mesmo assim mamãe tinha solicitado sua entrada no Mundo Inferior para que pudesse me visitar, e isso significava muito vindo dela, ela estava se tornando mais aberta.

Olhei para Hades de relance, ele tinha um postura elegante e impassível enquanto caminhava pelos corredores comigo e Dione ao seu lado. Eu tinha minhas impressões de que a relação entre ele e minha mãe não devia ser das melhores — não que Hades ajudasse a melhorar isso — mas as coisas poderiam mudar com o tempo.

— Por favor, diga a Caronte que ele pode prosseguir com Deméter. — Ele disse para Dione, ela anuiu com a cabeça e rumou pelo corredores, já ia longe quando ele se voltou para mim. — Vou leva-la a minha sala do trono.

— Lá? — Me aproximei dele, um pouco receosa. — Mas lá é tão...

Inóspito. Para receber minha mãe.

— É o único lugar que recebo visitantes. — Hades disse, focando seus olhos penetrantes em mim. — Ninguém nunca passa daquela sala.

Eu passei. Quis dizer, mas me mantive calada. Desde que tudo corresse bem, aquilo podia dar certo.

Hades envolveu seus braços em minha cintura e depositou um beijo delicado no topo da minha cabeça, no mesmo instante senti a mudança no ambiente e meus olhos se focaram para ajustar à baixa iluminação. Seu peito estava tenso sob meus dedos e se retesaram quando o afaguei levemente, ele era bom em esconder o que estava sentindo, mas eu estava aprendendo a vê-lo.

— Tudo bem. — Falei. Sua respiração se aprofundou com o meu toque e recebi um pequeno sorriso em retribuição.

A distância entre nós aumentou quando ele se afastou para se acomodar com toda pompa em seu trono negro. Suas mãos correram lentamente pelo encosto do braço como se o acariciasse e seus olhos se focaram ao longe, me fazendo estremecer involuntariamente.

Não me faça ter esses pensamentos! Disse para mim mesma. Não com minha mãe vindo para cá.

A sala cavernosa se estendia até além do que a vista alcançava, sendo cortada por um rio mortalmente calmo e escuro, perturbado apenas quando Caronte trazia novas almas para o Submundo, assim como os visitantes. Meu coração disparou quando as águas se agitaram e eu consegui enxergar o rosto de minha mãe se aproximando cada vez mais.

Deméter gostava de ser uma deusa elegante e poderosa, seus cabelos dourados sempre trançados em suas costas acentuavam o rosto com sua coroa de espigas de milho entalhadas a ouro em sua cabeça. Ela caminhava com a ajuda do cetro dourado em uma das mãos e a outra levantava a barra da túnica de linho branco quando a soltou para erguer o braço para mim.

— Mamãe. — Suspirei e me apressei até ela para um abraço.

— Meu lindo e pequeno pedaço de virtude. — Sua voz saiu sufocada entre meus cabelos quando ela me recebeu em seus braços.

— Nem acredito que está mesmo aqui. — Admirei, recuando alguns passos para poder admirar seu rosto. — Senti sua falta.

— Estou aqui agora. — Falou, então olhou para Hades com uma expressão ríspida e acusatória quando nos aproximamos.

— Me alegro que tenha vindo, Deméter. — Hades disse. Ela soltou um ruído baixinho e contrariado em resposta e ele se recostou em seu trono, descontraído. — Lembre-se que está em meu reino agora.

Hades e Perséfone - a Luz e o EscuroWhere stories live. Discover now