Onde ela está?

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O mundo mortal não era tão ruim.

Roamin e Kael disseram que não era comum deuses elogiarem a vida mortal, mas eu não via o porquê. Era terrivelmente barulhento e confuso algumas vezes, mas quando se parava para ouvir as vozes e os passos em conjunto eu até podia ouvir uma melodia surgindo em meio à agitação do fim da tarde. Eu gostaria de tê-los visto na primavera... se ficavam mais amáveis e gentis.

Mas tudo que eu via agora eram passos apressados nas calçadas apinhadas de mortais. Não sabia dizer se eles me viam, mas se o faziam não davam a mínima para uma deusa sentada no banco enquanto os observava.

— Estão sempre apressados.

Pier falou ao meu lado. Achei que seria mais agradável perguntar o nome do mortal muito velho que ainda se mantinha sentado no banco em que me esbarrei na tarde da minha primeira visita ao mundo mortal.

— E para onde vão? — Perguntei, meu pescoço acompanhava o vai e vem dos passos.

— Muitos lugares. — Ele disse. — Há muitos lugares para ir.

Minha mente vibrou de novo. Estava acontecendo o dia todo. Um pulso de energia que corria por todo meu corpo e me entorpecia por mínimos segundos... e então sumia. Achei que fosse por Deméter... mas agora tudo já tinha passado. E tinha sido da pior forma possível.

Suspirei.

— Mas você não deveria estar aqui. — Ele falou, e eu estudei sua expressão.

— Eu... — O pulso de energia novamente e minha visão falhou por alguns instantes. — Não... acho que não.

Mas eu não queria de forma alguma ter que voltar para Deméter.

— Então é melhor ir agora. — Ele disse. Seu braço tremia violentamente ao ser erguido e seu dedo indicador apontou para algo no lado oposto ao que estávamos. — A estão encarando desde que se sentou aqui.

Olhei para onde Pier apontava. Duas sombras nos encaravam à distância, envoltos pela penumbra da fraca luz do fim do dia. Não pude ver os detalhes de seus rostos mas a postura excessivamente ereta emanava uma força versada em batalha que eu já tinha me familiarizado.

Meu coração deu pulinhos de alegria no meu peito, imaginando que Hades os teria mandando para cá, que teriam vindo atrás de mim. E então me levantei para ir até eles.

Me aproximei deles e seus sorrisos se abriram para mim... e por um segundo de distração não entendi o brilho dourado da lamina que retiraram do casaco enquanto caminhavam para sair da escuridão.

— Kael? — Chamei. Seus rostos se iluminaram e pude ver o sorriso perverso em rostos desconhecidos.

Não eram eles.

E seja quem fosse, não queriam algo bom.

E então meu coração disparou. Me virei em um átimo e corri para retornar ao Olimpo.

Passei por Pier e olhei para trás apenas para assegurar que não o fariam mal. Rumei pelo limiar da calçada e me enfiei entre as árvores do bosque. Meu coração batia acelerado no peito enquanto eu me orientava em direção ao portal. As luzes na minha visão me atrasavam. Procurei entre uma e mais outra árvore, ofegante e apressada. Vamos... Vamos.

O encontrei há alguns passos e corri para ele. Ou pelos menos achei que corria

A energia pulsou mais forte em meu corpo e os pontos de luz ofuscaram toda minha visão. Me senti despencando na grama e minha consciência se desligou.

Hades e Perséfone - a Luz e o EscuroWhere stories live. Discover now