Epílogo

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HADES

Alguns anos atrás

O Olimpo nunca tinha sido um lar para mim. Nem antes e nem depois do fim da guerra contra os titãs eu o tinha imaginado como o meu lar, nunca o vi dessa forma. Não tive tempo para imaginar onde seria minha morada caso vencêssemos e... quando paro para pensar agora... talvez tenha sido melhor assim. É sempre mais fácil se acostumar com o que temos quando não sabemos o que poderíamos alcançar.

Não considero estar no Submundo um castigo, confesso que já fui jovem e tolo para enxergar dessa forma, mas hoje não. Encontrei entre as montanhas do Mundo Inferior, bem amparado sobre as rochas, um dos melhores lugares que já tive a honra de conhecer. E mesmo que isso me custasse o peso de uma má fama associada à morte e à perversidade, eu aguentaria. Por eles, eu aguentaria.

Mas havia dias difíceis demais para suportar sozinho.

— Sabe que não deve ligar para esses comentários. — Zeus declarou, caminhando ao meu lado pelas planícies abundantemente ensolaradas do Olimpo. — Eles não definem quem você é.

— Eu não ligo. — Respondi, seco.

Ele riu sem realmente acreditar no que eu dizia.

— Há séculos atrás mandei você para o Submundo e você deve ter me odiado por isso, e com razão. Mas agora você vê do tormento que lhe livrei? Os deuses e os mortais jamais entenderão você, meu irmão. Jamais entenderão o seu poder. E quem precisa deles, não é? Você com certeza não precisa.

Zeus gargalhou e eu o acompanhei sem muita vontade. Para ele era fácil dizer essas coisas, ele tinha Hera e sua esposa o amava apesar tudo que ele já tinha lhe feito. Ele tinha filhos. Tantos quantos quisesse ter. Podia aparecer no mundo mortal sem causar pânico e desespero nos mortais. Sua imagem era associada a vitória e não à desgraça.

Para mim tinha restado apenas a solidão e a incapacidade de gerar filhos.

Mas claro que eu não falaria isso a ele. Guardaria minhas lamúrias para mim mesmo.

Adentramos em um jardim coberto de flores de todos os tipos, os arranjos desconexos e incompletos lhe davam um ar selvagem e totalmente desordenado que imediatamente despertaram minha curiosidade.

— Onde estamos? — Falei, olhando ao redor. — Nunca estive nessa parte antes.

— Apenas caminhando. — Respondeu sem se alongar.

Eu estava pronto para seguí-lo quando ouvi risadinhas femininas não muito longe. Zeus acompanhou meu olhar e também percebeu as ninfas escondidas nos arbustos floridos, olhando para nós e dando risadinhas furtivas enquanto seus grandes olhos brilhavam em encantamento.

— Veja que belas. — Zeus se aproximou e elas se afastaram com certo receio. — Oh, não fujam por favor! Irá partir meu pobre coração vê-las irem embora, não querem isso, não é? Me permitam apreciar suas belezas inigualáveis.

Elas enrubesceram com os galanteios e em poucos segundos já estavam permitindo que Zeus se aproximasse para apreciá-las. Eu odiava o que ele fazia com Hera, ele não fazia ideia da sorte que tinha. Mas sua esposa tinha conhecimento de tudo e o aceitava, então eu não interferia.

Mirei em algum ponto longe depois dos arbustos. Me sentia incomodado e deslocado com as frases melosas e o habitual jogo de sedução do meu irmão então pelo menos mentalmente eu estaria longe.

Meus olhos foram atraídos para uma terceira ninfa sentada em uma campina logo depois dos arbustos, se ela era capaz de nos ver não dava a mínima para isso e minha atenção foi totalmente roubada no instante em que a vi. Estava concentrada em algo em suas mãos, seu rosto tinha um sorriso perdido e tímido que me fazia imaginá-la olhando para mim desse mesmo jeito encantador.

Hades e Perséfone - a Luz e o EscuroWhere stories live. Discover now