A Deusa da Primavera

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O sol já alcançava o alto do céu e a luz forte da manhã atravessava meus olhos fechados, me dizendo que já era tarde para ainda estar na cama. Estiquei os braços me espreguiçando e um segundo depois senti as mãos de Hades em mim, me arrastando para ele. Inspirei seu cheiro quando fui acomodada em seu peito. Nenhum de nós queria despertar ou ser o primeiro a desfazer esses segundos em que nossas mentes ainda não processaram lembranças e sentimentos. Podíamos ficar simplesmente assim, abraçados e protegidos de tudo.

Senti um aroma delicioso me invadindo e abri os olhos em resposta, faminta e farejando atentamente a mesinha ao lado da cama.

— Aí está você. — Hades falou, divertido. Ele abriu um sorriso terrivelmente sedutor que me deixou hipnotizada. — Trouxe seu café da manhã, achei que a faria despertar.

Nossos olhos se conectaram e ele hesitou por alguns instantes, seu sorriso vacilou minimamente enquanto me observava. O som da sua respiração pesada ecoou até meus ouvidos e minhas mãos correram involuntariamente até seu rosto, acariciando seu maxilar, sentindo o músculo firme pele sob meus dedos.

— Como... como você se sente? — Perguntei, insegura.

— Não deveria ser eu a lhe fazer essa pergunta? — Hades deu um riso fraco e gentil.

Porque tinha sido eu a me debulhar vergonhosamente em lágrimas.

— Eu só... — ...Queria saber sobre você. Me interrompi, analisando minhas mãos em seu peito.

— Me sinto ótimo, Perséfone. Agora quero ouvir sobre você. — Ele disse, acariciando minhas costas.

— Estou bem.

— Não é o que parece. — Disse, e analisou meu rosto com o semblante sério. — Converse comigo.

O efeito de sua voz e suas mãos subindo e descendo lentamente pelas minhas costas causaram um efeito encorajador sobre mim e acabei vendo as palavras saírem da minha boca.

— Senti... sua falta.

O corpo de Hades se enrijeceu e ele parou os movimentos, surpreendido com minha resposta. Me encolhi ainda mais e escondi meu rosto em seu peito. Ele se movimentou na cama para deixar seu rosto mais próximo do meu e senti sua respiração se misturando a minha.

— Estou aqui. — As costas dos seus dedos roçaram pela minha bochecha. — Estarei sempre aqui para você.

Seus lábios tocaram a ponta do meu nariz e suas mãos acariciavam meu cabelo. Me permiti olhar para ele, sentindo-o me retribuir com ternura e melancolia.

— Estarei aqui para o que desejar de mim. E se tudo que quiser for apenas sentir prazer em minha cama, então serei isso para você. Não sou exigente. Aceitarei qualquer coisa que queira me dar.

— Pare com isso. — Exigi, sobressaltada com suas palavras. Seus olhos caíram, e eu me enfureci com seu gesto. — O que está dizendo? Como... como pode achar que eu...

De repente as palavras de Devla surgiram na minha mente e meus olhos voltaram a encher de lágrimas. Estava me tornando alguém que não passava um segundo sem cair do choro.

— Eu estive... estive pensando em como poderia chamar você para sair depois que nosso acordo acabasse sem parecer uma boba que não reconhece seu lugar... e de repente você vai embora dizendo aquelas coisas horríveis e me deixa o dia todo sem saber o que aconteceu... e agora me diz isso... como pode? Como pode...

Me libertei dos seus braços, enfurecida e magoada, e rolei para o outro lado da cama decidia a ir para fora de seu quarto. Senti seus braços me envolvendo e me puxando de volta antes mesmo de tocar os pés no chão. Eu ainda relutei em seu abraço, mas quando sua boca beijou meu pescoço minhas forças desistiram imediatamente de lutar contra ele.

Hades e Perséfone - a Luz e o EscuroWhere stories live. Discover now