Depois da Curva

Cap. 5 - YellowC

Curiosidade sobre o título: YellowC é o nome dado a uma  bandeira usada na F1 para sinalização de perigo a frente. Neste capítulo, ela faz referência às adversidades que podem surgir pela frente.

Eu não preciso de você

O mundo é grande e o destino me espera

Não é você quem vai me dar na primavera

As flores lindas que eu sonhei no meu verão

- Petrucio Amorim na voz de Flávio José 

                                                                                   MICHELE

— Então quer dizer que você vomitou no cara bonitão e ele não fez nada, só te convidou para um encontro e ainda pediu seu número? Caraca amiga, me dá sua vida!

Eu acabei de contar todos os episódios de hoje para Júlia enquanto escovava os dentes e saia de um banho merecidíssimo. Depois do dia caótico que tive, um pouco de descanso e claro, rir com a minha amiga, me fizeram muito bem. Eu já esperava dela uma opinião divertida sobre o assunto. Dito e feito, essa foi a reação de Júlia. Ela tem a capacidade enxergar o lado bom das coisas sempre, além de distorcer um pouco os fatos, de modo cômico, claro. 

Por exemplo, eu não disse que ele era bonito, porque sendo bem sincera, eu nem tive tempo de observar.  Mas Júlia disse que "sabe" que ele é. Afinal, ela é fã de esportes e certamente, já deve tê-lo visto na televisão. Eu também não disse que ele me pediu número e me chamou para um encontro, eu disse que deu merda, — ops, vômito — , na entrevista e ele pediu minhas informações, para que eu pudesse entrar no treino de amanhã e fazer uma nova entrevista, sem fluidos corporais dessa vez.

— Bem, não foi exatamente isso que eu falei. — Respondo divertida. — Mas se você quiser minha vida com todas as confusões, eu te dou. Em troca, você me dá seu o luxo e a fama. — Completo dando uma gargalhada. 

Jú é a faz-tudo em uma agência de modelos na paulista, mas o que ela queria mesmo, era ser modelo. Infelizmente raramente pinta algum trabalho, o que eu sinceramente não entendo. Júlia é perfeitamente linda, tem estilo próprio e um dom natural na frente das câmeras. Enquanto o luxo e a fama, como ela mesma brinca, não chegam, ela concilia o trabalho com sua centésima faculdade. Desta vez ela está cursando biomedicina, que por sinal, ela odeia! Jú é muito inteligente, sempre consegue passar em um novo curso, mas raramente mantém o interesse por muito tempo, o que é uma pena. Mas eu não a julgo, só desejo que seja muito feliz e um dia encontre a satisfação em algo. 

— Há-há, muito engraçadinha você! Se o boy* descolar ingressos para o Grande Prêmio do Brasil, faça o favor de não esquecer sua best friend*, ou então eu te cubro no tapa, viu gata?

— Pode deixa! — Respondo rindo. 

Embora eu ache que os ingressos não vão rolar, eu jamais me esqueceria de Júlia, afinal foi seu amor e a minha aversão aos esportes e as aulas que nos uniu. Alguns anos atrás eu estava perdida no campus procurando minha nova sala, era meu primeiro ano da faculdade de jornalismo. Júlia estava fugindo da aula para assistir ao campeonato universitário de futebol. Ela me usou como desculpas para professora deixa-la sair no meio de uma apresentação, criando uma história sobre eu ser prima de quarto grau, ou algo assim e que precisava urgentemente me acompanhar até a enfermaria. Com sua grande lábia, ela me enrolou para comprarmos o bilhete casadinho* e ver os jogos do dia. O resto da história envolve muita conversa, críticas de esporte e parceria.