Cap. 7 - Simulador de corrida

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Minha vida é andar por esse país
Pra ver se um dia descanso feliz
Guardando as recordações das terras onde passei
Andando pelos sertões e dos amigos que lá deixei  


- Luiz Gonzaga

MICHELE

Fiquei bastante surpresa com o convite para o almoço, eu realmente não esperava por isso, mas aceitei mesmo assim. Eu precisava fazer aquilo, certo? Reflito enquanto espero Cheed se trocar para sairmos, penso na discussão com minha mãe. E se eu estiver perdendo o foco? Esse almoço é um encontro? 

Eu não queria colocar as coisas nessa perspectiva, na verdade eu nem estou pronta para colocar nada, em perspectiva alguma. Eu só quero um emprego! A discussão com minha mãe me deixou "bagunçada energicamente".

Por via das dúvidas, e para acalmar meus pensamentos conflitantes, decido que não é um encontro. Afinal, eu conheci o cara ontem, também vomitei em cima dele! Acho que o ultimo ocorrido, arruína qualquer chance de romance em qualquer parte do planeta. Não que eu tivesse alguma chance antes disso. Então eu acho que chegamos a um consenso — eu e meus pensamentos —, de que não, não é um encontro e não estou perdendo o foco, certo?

Errado!

Tão logo eu resolvo meus dilemas morais, Cheed aparece de volta, usando uma calça cinza muito bem cortada e uma camisa social rosa, ressaltando muito bem o corpo largo e o físico malhado. Com essas observações eu constato, talvez eu esteja perdendo o foco. 

"Sempre gostei de homens usando rosa.... Opa, foco Michele!"

— Então, tudo bem para você? — Eu nem sabia que ele estava falando comigo, mas que porcaria, comecei bem! Foco Michele, foco!

— Desculpa, o que disse? — Questiono constrangida.

— Eu perguntei se você está de carro. Se estiver, você pode me seguir, mas se não estiver, podemos ir no meu carro. O restaurante não fica muito longe daqui, acho que você vai gostar.

— Ah sim, quer dizer, não. Eu não estou de carro. — Respondo de modo direto e mais simples possível, porque acho que seria desnecessário explicar para um piloto, naquele momento, que eu não sei nem dirigir, tão pouco tenho dinheiro para comprar um carro. — Vamos esperar Alana?

— Não, Alana não vem. Seremos só nós dois. — Diz ele e parece constrangido logo em seguida. Aparentemente, sua resposta soou muito mais íntimo do que pretendia. Mas tenho certeza de que não está mais constrangido que eu, certamente estava perdendo o "não é um encontro" também, juntamente com o meu foco.

Caminhamos em um silêncio tão denso até o estacionamento, que poderia ser cortado à faca, caso um de nós tentasse. Mas nada é tão ruim, ao ponto de não poder piorar, não é mesmo? É claro que o carro dele tinha que ser um Mercedes completamente extravagante. E é claro que eu tinha que falar a coisa errada.

— Minha nossa, quanto ganha um piloto de corrida? — Me arrependi de ter feito a pergunta no instante em que concluí a frase. E me arrependi por duas razões, a primeira delas é porque foi completamente inadequado e antiprofissional, a segunda delas foi porque eu praticamente gritei de modo inteiramente desafinado, causando no Senhor Cooper uma enorme gargalhada. Ao menos um de nós estava se divertindo com minha falta de ética e de foco.

— Eu não sabia que a entrevista já havia começado. — Comenta ele divertido, enquanto destrava a porta do modelo esportivo e abre o lado do passageiro para que eu entre, como um perfeito cavalheiro. Ele contorna o carro, assumindo o volante em seguida e assim que saímos do estacionamento do autódromo, Cheed responde a minha pergunta. — Se quiser começar, pode ficar à vontade para anotar. Digamos que um piloto é muito bem pago. E considerando meus quase seis anos como profissional que, modéstia parte, não foram ruins e o meu desempenho no ano passado e nesta temporada, eu estou ali entre Vettel e Ricciardo. — Finaliza com um riso descontraído.

Depois da CurvaOnde histórias criam vida. Descubra agora