Cap. 14 - Borboleta

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Curiosidade sobre o nome do capítulo: Borboleta é nome dado ao mecanismo instalado atrás do volante que permite a troca de marcha. Aqui, a "Borboleta" faz referência a troca de posição assumida pela personagem.

Se um dia você se lembrar, escreva uma carta pra mim

Bote logo no correio, com frases dizendo assim

Faz tempo que eu não te vejo

Quero matar meu desejo

Te mando um monte de beijo

Ai que saudade sem fim


- Vital Farias nas vozes de Elba Ramalho/Ze Ramalho e Geraldo Azevedo 


MICHELE

Eu estou um caco! Não consegui dormir absolutamente nada, a semana toda. Tudo bem, "absolutamente" é um exagero; reformulando, não consegui dormir quase nada, a semana toda.

Aquela ligação mexeu de verdade comigo, isso é uma bela droga.

Eu gostaria de poder dizer tantas coisas a Cheed! Gostaria de poder dizer para ele vir até aqui e terminar aquele beijo, de dizer que eu estava gostando dele, de dizer que poderíamos tentar.
Mas não poderia. Poderia?

Eu estou tão confusa, é um momento tão complicado para envolver esse tipo de sentimento!

Os dias passaram por mim feito um borrão. Deveria ser o meu período de adaptação, mas estou completamente aérea. Até o Angel percebeu.

Agora já é sábado de manhã, fim do expediente de meio período. Eu estaria muito cansada, se não estivesse tão pensativa. A corrida era amanhã, eu iria assistir pela Tv, como prometido. Queria muito poder ligar para ele, desejar uma boa corrida, mas ainda não sabia o que dizer. Eu não queria dizer não, mas não podia dizer sim. Para falar a verdade, eu nem sabia para "quê", eu diria sim ou não.

— Vai ficar aí, meu anjo? — Pergunta Angel, eu nem se quer havia percebido que todos já reuniam suas coisas e deixavam o prédio.

— Não, já estou indo. — Respondo.

— Nossa, você está um trapo! Passou a semana voando, te conheço a pouco tempo, mas sei que não é assim. Quer tomar uns drinques, se animar? Não me diga que o Chefe-cão está tirando o seu couro! — Eu sorrio, estou feliz que tenhamos estreitado nossos laços. Angel é uma das melhores pessoas que conheci na vida.

— Não! Ele está sendo ótimo, até voltou a marcar as entrevistas para mim, tenho oito delas semana que vem. Aliás, muito obrigada pela força essa semana, você é incrível! – Angel me auxiliou com a coluna, apresentou-me o resto da equipe e me envolveu na rotina de trabalho. Até os meus almoços solitários nos festfoods da vida, Angel havia transformado com sua espirituosa presença. Ainda não tinha conseguido agradecer. — Agradeço pelo convite, mas vou dispensar. Estou exausta e com alguns problemas para resolver.

— Eu estou vendo! Então tenha um bom descanso, querida. E não precisa agradecer! — Nos despedimos com um abraço.

Quando finalmente chego em casa, já é noite, pois desviei a rota para fazer compras.

Fazer compras de supermercado era minha válvula de escape ao melhor estilo pobre. Ninguém pensa em problemas quando está desfrutando dos prazeres do consumismo no mundo capitalista, a não ser que você comece a refletir sobre o capitalismo, ou veja os preços com atenção. Enfim, o importante é que estou em casa, mergulhada em um pote de sorvete de açaí, com muita banana e leite em pó. Geralmente minha mãe me ligava aos sábados à noite, mas hoje isso não vai acontecer. Eu também não sei se posso ligar para ela. Estou com o celular na mão, balanceando minhas opções quando Júlia entra.

Depois da CurvaWhere stories live. Discover now