Depois da Curva

Cap. 23 - Frenagem

Curiosidade sobre o título: Significado de Frenagem - ato ou efeito de frenar; frenamento, frenação, enfreamento. 

Vamos descobrir onde e porque a nossa garota quer apertar os freios? 

Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol
Quando você entrou em mim como um Sol no quintal
Aí um analista amigo meu disse que desse jeito
Não vou ser feliz direito
Porque o amor é uma coisa mais profunda que um encontro casual

[...]

Deixando a profundidade de lado

Eu quero é ficar colado à pele dela noite e dia

Fazendo tudo e de novo dizendo sim à paixão, morando na filosofia

Eu quero gozar no seu céu, pode ser no seu inferno

Viver a divina comédia humana onde nada é eterno

- Belchior

MICHELE

— Você não deveria me beijar aqui, estamos na frente do meu trabalho! — Finjo preocupação, enquanto me despeço de Cheed com mais um beijo, na frente do prédio da redação.

— Ninguém está vendo. — Responde ele e eu sorrio. É claro que está, estamos dentro do carro, no meio da Paulista lotada.

Eu não sou adepta a troca de carícias em público, mas sabe de uma coisa? Existem momentos na vida, que a gente não consegue evitar. E isso não é ruim, significa que você está feliz demais por estar ali, com aquela pessoa. Deu para entender?

Eu estou muito feliz, Cheed me faz muito feliz. E pelos deuses, ele me fez feliz duas vezes maravilhosas ontem e uma vez mais hoje de manhã. Obviamente, eu estou contando as vezes em que ele declarou o seu amor por mim. Entretanto, não sei se consegui deixa-lo igualmente feliz. Eu não consegui responder. 

Não estava pronta para ouvir aquilo, pelo menos não naquele momento e não daquela forma. Inicialmente fiquei um pouco surpresa, assustada, na verdade. Nenhum homem havia dito que me amava antes. Minhas interações com o sexo oposto sempre foram muito práticas, eu me sentia atraída por alguém, me envolvia e depois a relação acabavam naturalmente. Então, nunca havia me ocorrido antes.

Até ontem, eu não acreditava na capacidade masculina de declarar seu amor romântico, seria algo comum nos livros e filmes, não na vida real. É machista de minha parte? Talvez. Mas como vocês podem ver, a exemplo de minha mãezinha, eu não fui criada com abertura para esses sentimentos. Sendo assim, digamos que eu tenha ficado alegremente assustada.

Eu não sei como nomear os meus sentimentos, pelo menos não com relação a esse tipo de relacionamento. É fácil dizer que amo Júlia, minha vó ou minha mãe, elas são minha família. Mas Cheed... pela deusa Vênus, eu sinto muita coisa por ele aqui dentro, mas não posso dizer se é ou não amor. Pelo menos não agora, em tão pouco tempo. E pelo menos não quando eu ainda nem me acostumei a sentir todas essas sensações que ele me desperta. 

Então, eu achei por bem mostrar para ele como me sentia. Existem muitas formas de demonstrar os sentimentos, certo? Mas nomear? Isso eu ainda não consigo.

— Preciso ir. — Finalizo o beijo e olho no relógio, está na hora de trabalhar.

— Te pego na hora do almoço? — Pergunta ele.