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J Ú L I A  M O R A I S

Estar em casa era bom demais, ter a energia da minha família era bom demais.

- Isso aqui é de quem? - Pergunto sobre as algemas.

Mirella arregala os olhos.

- Caramba em sogra. - Leandro olha pra ela.

Dou risada.

- Mãe isso é seu? - Balanço as algemas.

- Quem mandou mexer nas minhas coisas? - Ela pega das minhas mãos.

- Meu Deus... - Dinho coloca as mãos no rosto.

- A gente sabe como a Taila fez seus safados. - Dou risada.

- Tô fazendo charme. - Meu pai sorri.

Balanço a cabeça.

- Pelo amor de Deus pai.

- Ei... - Mirella aparece com o meu celular na mão. - É o Gael.

- Me dê isso aqui eu vou xingar ele. - Meu pai estende sua mão.

- Não Dinho, quero saber como está a Ana.

Pego o meu celular e coloco no ouvido.

- Gael?

- Sou eu. - Ouço a voz da Stela.

- Porquê está ligando do celular dele?

- Ele até tentou falar, mas não conseguiu.

- O que aconteceu? - Pergunto.

- A Ana... - Stela hesita. - Ela morreu.

- O que?

- Ela não aguentou no parto amiga.

- Meu Deus... - Passo as mãos no cabelo. - Puta que pariu, Cadê ele? Eu quero falar com ele.

- Ele não consegue parar de chorar.

- Eu vou para aí agora! 

- Não pre...

- Ele precisa de mim. - Digo. - Te ligo de volta assim consegui pegar o ônibus. 

- O que aconteceu? - Mirella pergunta.

- A Ana. - Suspiro. - Morreu no parto.

- Que merda.

- Eu preciso voltar, Gael precisa de mim. 

- A gente te leva. - Leandro fala.

- Mas o seu trabalho...

-Foda-se meu trabalho! 

- Depois quer ter filho. - Mirella murmura.

- Podemos ir? 

Eles assentem.

»»————>♡<————««

Quando cheguei perto do hospital meu coração não parava de bater rapidamente, eu estava suando frio.

Leandro mal estaciona o carro e eu já pulo para fora.

- Júlia ficou louca!

Ignoro minha irmã e corro para a entrada, encontro Stela abraçando o Renato.

- Cheguei. - Minha voz logo é ouvida pelo Gael que aparece na minha vista.

Seu olhar estava vazio e triste, corro e o abraço.

- Eu sinto muito. - Murmuro e o abraço apertado.

- Ela se foi, a Ana se foi.

 G A E L  S A N T A N A

"

Ela não vale nada" foi isso que sempre ouvi de todos e sim ela pode não ter valido de nada para alguns, mas ela valeu de todas as formas pra mim, conheço a Ana desde que sou moleque sempre fomos eu, Renato e ela contra o mundo. Ana pode ter me fodido em todos os sentidos, mas ela era minha melhor amiga, foi com ela que compartilhei todos os momentos da minha vida e tem que ouvir "Eu sinto muito, ela não aguentou" me matou por dentro.

- Está melhor? - Júlia acaricia meus cabelos.

Júlia me acalma, ter ela aqui agora me deixa mais relaxado.

- Mais ou menos. - Digo. - Estranho a Hope nascer com tanta saúde assim.

- Ana fez tudo que pôde para ela nascer bem.

Engulo meu choro.

- Você sabe que pode chorar.

- Eu não gosto que ninguém me veja chorando.

- Acho que ninguém gosta. - Ela diz. - Mas você está sofrendo.

- Gael Santana? - O médico me chama.

Levanto do banco.

- Sou eu.

- Você pode ver sua filha agora.

Olho para a Júlia.

- Vai lá.

- Vem comigo, por favor. - Peço.

Júlia pega em minhas mãos.

Vou até a UTI e consigo vê-la e não aguento a emoção.

- Ei. - Júlia me abraça. - Agora você tem um pedacinho da Ana com você.

- Ela é tão perfeita. - Digo. - Ela é igual a mãe.

- Ana está feliz Gael, ela deixou um presente aqui.

Respiro fundo.

- Obrigado por estar aqui comigo.

- Senti que precisava de mim. - Ela levanta os ombros.

E eu preciso, mais do que imagina.

Primeiro Olhar [✓]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora