XVIII

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[Manhã seguinte • 9:34]  Pov Austin:

O barulho repetitivo do despertador se torna mais alto a cada segundo que passo ignorando-o. Minha testa lateja em dor assim que passo a enxergar claramente os numerais no relógio. Aperto meu corpo contra o travesseiro, pensando duas vezes antes de encarar a bagunça que provavelmente devo ter feito ontem.

Mal levanto os pés do chão, indo até o banheiro e esperando o frio da corrente contínua me acordar por completo. Sim, eu me lembro de alguns flashes, mas pouca coisa para me fazer sentir culpado de algo.

Pego uma roupa qualquer no closet, preparando uma desculpa idiota caso perguntem porque atrasei mais um dia de escritório. Desço em seguida para o andar debaixo, rezando para que um anjo tenha feito meu café e deixado ao lado de ótimo remédio.

Passo pela divisória da cozinha, sentindo o clima tenso presente no rosto sério de Lucy. Seus olhos são pretos e indiferentes quando tira o contato com os meus para mexer uma panela no fogo. E isso me preocupa, porque além dela ser bastante prestativa comigo, sempre acabo magoando-a com algo.

-O que eu fiz dessa vez?- pergunto objetivo, apoiando meu corpo no balcão a sua frente

-Não sei, sou apenas sua empregada.- a senhora responde, fria

-Eu te disse isso mesmo?- ela não me encara- Sinto muito Lucy, se serve de consolo eu mal sei como cheguei em casa ontem.

-Meu filho, eu não ligo se você quem paga minhas contas, se me dá milhões de coisas pra fazer. Só quero que pare com isso ok?.- meu peito dói pela sua voz embargada- Não quero ver a mesma cena duas vezes nessa casa.

Abro minha boca mas nenhum som é emitido por ela, estou filtrando o semplante choroso de Lucy, tentando entender o sentido de seu aviso. Quando dou por mim, estou sozinho com uma torrada e um vidro de pípulas.

Pelo visto esse é mais um dos segredos envolvendo meu querido pai. E outro que não saberei a verdade.

[....]

-Posso entrar?- ouço uma voz masculina apontar na porta, conjunta a algumas batidas leves

-Claro, pode sim.- respondo

Como o clima na mansão Austin não era dos melhores, rompi meus planos de passar uma manhã agradável e vim rápido a empresa, sem dizer bom dia para ninguém, apenas me sentei nessa cadeira e meti a cara no relatório deixado anteriormente por Jeff.

Um garoto, aparentemente da mesma idade que eu, cabelos ruivos e sardas por toda extensão das bochechas, acaba de entrar. Mark Anastasio. Estagiário da equipe de RH, aluno premiado na faculdade de admistração. E bastante bonito.

-Do que precisa Mark?- recosto sobre a cadeira para analisar seu corpo

-Me pediram para lhe entregar esses documentos, precisam de sua assinatura para aprovarem.- ele diz, com um sorriso doce

-Venha aqui, não tenha vergonha de se aproximar. Não é porque sou seu chefe que não somos amigos.- digo, e o mesmo assente- Deixe me ver...

Abro a pasta amarela sobre a mesa, existem bastante papéis dentro dela e o título "NEGOCIAÇÃO LA-NY" aparece em ênfase na primeira página. Não presto muita atenção nas explicações detalhadas do ruivo, estou concentrado analisando a tensão de seu maxilar perto de meu rosto.

Ele tem um cheiro bom, e fios leves preenchem sua testa. Pelo seu ar dócil imagino que seja um rapaz de família, vai a igreja aos domingos e seja bem doce na cama. Chega a ser interessante o fato de nunca tê-lo conhecido pessoalmente.

-Assine aqui por favor.- acordo por sua voz, seu dedo aponta para uma linha fina no papel- Quanto mais rápido for, mais cedo saio daqui senhor.

Rio fraco para ele, estendendo meu braço até minhas canetas. Um de seus braços pousa no encosto atrás de mim, abrindo espaço para que eu mexa no papel e fique bem perto de seu pescoço. Merda, ele está me provocando? Espero que sim.

inside of meWhere stories live. Discover now