XXXI

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Oi...?
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[Manhã seguinte • 10:45] Pov Austin:

Estou encarando minha tigela de cereal fazem quinze minutos, a tela escura do meu celular na mão não ocupada pela colher prata. Acordar hoje não está sendo uma boa opção, definitivamente..

Desisto de esperar alguma coisa me animar, jogando o aparelho sobre a bancada junto ao meu café mal tocado. Escorrego pela cadeira até meu queixo poder tocar o mármore. Fecho os olhos e nem consigo suspirar. As vozes de ontem ainda ecoam aqui dentro.

-Bom dia querido.- ouço Lucy dizer, voltando para a cozinha. Sinto ela beijar o topo da minha cabeça com carinho, vontade de chorar.- Deveria comer um pouco, uh?

-Estou sem fome, obrigado.- me ergo mais uma vez, demorando a fitar seu sorriso gentil de todos os dias- Me..desculpa.

O nó quente volta a nascer na minha garganta, o mesmo que me dominou a madrugada toda enquanto eu chorava contra o vestido simples de Lucy. Eu me odeio tanto.

-Meu amor, não se desculpe, eu estou aqui por você...- os dedos finos tocam meu rosto de leve, aquecendo minhas bochechas antes de nos juntar em um abraço.- Você é forte, vamos passar por isso juntos ok?

-Por que dói tanto?- quase imploro por uma resposta, essa dúvida acaba com cada célula de meu corpo

-Eu não sei, mas eu amo você querido.- respiro fundo, o ar saindo trémulo da boca- Vai dar tudo certo. Confie em mim.

Dando-me outro selar rápido em meio meus fios bagunçados, a morena limpa os cantos de meus olhos com o polegar antes de se distanciar para o lado oposto do balcão. Fico aqui, parado, fitando meus dedos sem ter o que dizer. Merda.

-Deixa que eu atendo.- eu falo de imediato, logo após o soar alto da campainha. Lucy assente calma e eu saio do cômodo.- Oi, quem....

Ao abrir totalmente a porta principal percebo que não há ninguém, apenas o movimento dos jardineiros limpando as folhas soltas no gramado. Franzo a testa sem entender, voltando-me para dentro, pera, o que é isso?

Sobre o tapete há um envelope branco se destacando, deve ser apenas uma carta de negócios da empresa. Pego e fecho a porta, tentando achar alguma identificação dos sócios, e quase caio para trás ao ver o enorme "L" em carimbo vermelho no verso, logo acima de meu nome.

Engulo a seco, encarando as quatro letras no papel branco. Eu deveria ler? Teria alguma diferença se eu apenas jogasse no lixo e ignorasse sua existência? Porra...

Me sento nos degraus da escada e respiro antes de abrir o lacre.

   "Querido Nick,
Escrevo essa carta como um meio estúpido de te explicar as coisas. Sei que não está disposto a me ver pessoalmente, então espero que ao menos dei-me a esperança de ler essas palavras sem antes queimar esse papel.

Para começar sendo totalmente sincero, mal sei quando essa merda começou. De verdade. Mas acho que mereça saber desde o príncipio.

Devemos voltar para Agosto do ano passado, em Nova York. Meu pai nos levou para uma reunião experimental com alguns agentes de venda, e ficamos na nossa casa como sempre, depois de longas horas, eu finalmente sai para beber. Como sempre fazia depois de um dia cheio, enchi meu corpo com alcoól até esquecer meu sobrenome. Eu estava na merda, completamente.

Se não engano eram quase duas da manhã quando consegui chegar em casa, em um táxi barato que alguém deve ter pedido pelo meu estado deplorável. Naquela noite, tudo que eu desejava era dormir, me afundar na cama para me livrar do ódio que sentia de mim mesmo.

inside of meWhere stories live. Discover now