CAPÍTULO 11

1.5K 129 13
                                    

Como em uma reunião de negócios, Eric está sentado confortavelmente na minha frente, do outro lado da mesa longa, tão longa que parece que cem metros nos separam. Atrás de si, um homem careca vestindo roupas formais se esconde entre as sombras, sem olhar diretamente para nós. Como em uma reunião de negócios, eu estou do outro lado de sua grandiosa aposta. Ao meu redor, o luxo de estende do chão - desde o tapete de veludo com formas abstratas sob meus pés - até o teto, com um lustre grande e formoso, semelhante a gotas grossas de ouro, iluminando o cômodo como um segundo sol. Cortinas blackout fazem parecer noite. Clima propício para o demônio que sorri sutilmente enquanto encara aquele maldito papel em sua posse.

Estamos assim há praticamente dez minutos, com o som de passarinhos do jardim lá fora cantando ao fundo. Eric está concentrado no plano - disse que ia me mostrar, mas tirou o tempo para revisar o texto enquanto eu aguardo como uma idiota. Bufo impaciente, sem querer admitir a curiosidade em ver as bizarrices escritas nisso que ele chama de "Plano de Vida". Mas o fato é que estou, sim, curiosa. E a cada minuto remexo mais as pernas de ansiedade, porque ficar parada esperando o veredito do que deve ser um plano detalhado do meu futuro, deixaria qualquer uma prestes a vomitar, inquieta, sentindo-se sufocada e em pânico. E claro, curiosa. Sou humana, afinal.

E ele parece fazer de propósito, só para me ver desse jeito, louca para conhecer as grades que meu carrasco preparou especialmente para mim.

Aquela hora, eu estaria envolvida com minhas crianças, passando exercícios, brincando, contando historinhas, vendo-os desenhar, todos orgulhosos, sobre formas já definidas em seus cadernos de pintura. Sinto um fogo ardiloso crescer dentro de mim ao lembrar de cada um deles, e de como devem achar que eu os abandonei. Tudo culpa desse homem.

Mais do que isso, estou incomodada com esse silêncio. Essa demora. Essa espera incessante e proposital. Dando o que deveria ser a trigésima olhada pela sala de jantar de negociações que esse bandido faz todos os dias, já decorei cada marcação na parede, cada alinhamento de quadros, traços nos retratos de gênero japonês Ukyio-e, curvas e decorações ornamentadas em cada canto.

Não aguento mais.

— Onde você aprendeu a falar português tão bem?

— Eu sei falar cerca de cinco línguas.

Engulo minha saliva, segurando um sorriso irônico.

— Que inteligente. Imagino então que tudo isso você conseguiu com dinheiro lícito? — pergunto com desdém, apontando para os arredores da mansão.

Ele bufa pelo nariz, com ar risonho. Mas sua boca não se curva nenhum pouco para sorrir.

— Está perguntando como eu consigo dinheiro? Depois de tudo o que viu?

— Estou só confirmando o quão arrombado você pode ser, e quantos anos pode ficar preso se te pegarem.

Ele sequer levanta os olhos para mim, sem nenhuma preocupação. Sem deixar de ler cada parte daquele papel, revisando a procura de erros, como estava fazendo desde que chegamos ali. Como se eu não fosse uma ameaça. E realmente, agora não posso ser, mas não é como se eu fosse burra. Se sou mesmo neta de quem ele diz que sou, se meu avô realmente mentiu para nós todo esse tempo, está no sangue saber lidar com criminosos como ele. Eric não sabe com quem está lidando.

De repente ele diz:

— Sua casa em Bragança Paulista, de dois andares, varanda com churrasqueira e tudo mais...

Um calafrio me atinge.

— Como sabe da minha casa?

— Eu sei tudo sobre você. Inclusive a origem do dinheiro que seu avô usou para comprar essa casa. Dinheiro lícito, como o meu. — O canto esquerdo do seu lábio se levanta. — Quanto aos anos de prisão que supostamente estarei recluso, faça o cálculo e me diga depois de ler seu Plano. Akuma-san. — O homem que guarda suas costas se aproxima. Eric o estende o maço de papel, de umas quatro folhas. Tudo isso para revisar quatro folhas. — Está pronto. Leve-o para a senhorita Caligari.

Observo com frieza o capanga andar até mim, colocar o papel na minha frente e voltar para o lado de Eric.

Meus dedos coçam.

— Eu não vou ler isso de jeito nenhum.

— Então você não quer receber spoiler? Prefere descobrir na hora o que vou fazer com você?

O homem balança o Plano na minha frente. A contragosto e inspirando para me controlar, arranco de suas mãos. Amasso os papéis no nervosismo, colocando sobre a mesa. Fico encarando, tomando coragem para abrir. Meu coração dá um salto. Eu estou dando mais importância a isso do que realmente tem. Eu não vou realmente cumprir nada do que está aqui. Eu vou mandar esse cara para prisão.

Mesmo assim, a curiosidade, a ansiedade... Alguma coisa me faz olhar para Eric, recebendo seus olhos de piche me encarando de volta, como se só eu existisse na sala. Esse olhar me desconcerta. Roço as pernas uma na outra, quase perdendo o ar. Ele continua me encarando sem parar. Na impulsividade ou seja lá o que for, querendo que ele pare, abaixo a cabeça e me obrigo a ver o que ele preparou para mim quase sedenta.

Na capa está escrito "Plano de Vida", e abaixo o meu nome com o suposto verdadeiro nome da minha família: Maria Sofia Caligari. Ao abrir, encontro o modelo de um contrato.

PLANO DE VIDA

No dia 6 de Agosto de 2020

ENTRE

O SR. ERIC ONO, herdeiro da Ayakashi-kai e proprietário da Lotus Two ("o Dono")

A SRTA. MARIA SOFIA CALIGARI, professora na Escola Municipal Nice Veríssimo e garçonete no restaurante Hatsukoi Sushi ("a Propriedade")

Parágrafo Único:

A Propriedade concorda em pagar sua dívida com a própria vida a partir do presente contrato, contendo tudo o que acontecerá em sua vida a partir do momento da assinatura.

Tudo o que está neste contrato acontecerá na vida real irrevogavelmente, cancelado apenas ao pagamento da dívida ou à morte.

----

Olá queridas! Tudo bem? Como vocês perceberam eu dei uma sumida nesse final de ano. Esse período de festas é uma correria só e eu mal tive tempo para parar e escrever.

Agora com a virada do ano as coisas vão voltar ao normal e teremos novamente capítulos todas as segundas e quintas 🎉🎉 Estou muito empolgada, estava morrendo de saudades de vocês e tô ansiosa pra mostrar tudo o que eu programei pra essa história! Hihi

Se você leu até aqui, obrigada por não ter desistido de mim! Seu apoio e compreensão são os combustíveis para me motivar e continuar escrevendo histórias para você 🥰

Beijos e até mais!

DOMINADA PELA MÁFIA - SÉRIE BLOOD & SWEETWhere stories live. Discover now