CAPÍTULO 2

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CAPÍTULO 2

Ono.

Ono...

De onde eu já ouvi esse sobrenome?

Ele me arrepia da cabeça aos pés. Me trás uma sensação ruim; gélida. Tenho certeza que já ouvi alguma vez na vida. Mas de onde, pelo amor de Deus? Não me parece ser um sobrenome famoso... É asiático, não? Provavelmente japonês. Fico pensando na origem, e como esse gringo me conhece para se dar ao trabalho de vir até aqui. Enquanto sigo Ana com passos rápidos até a última salinha no fim do corredor estreito, reparo nas paredes decoradas por desenhos, cartazes e cartolina colorida. Tento aliviar meu humor e a tensão para receber bem o Max. Ao mesmo tempo, me preparo para cortar as arrogâncias do senhor Ono, se necessário. Homens ricos têm esse ego inflado de achar que podem tudo. Que mandam. Que podem ter o que bem entender às custas do seu dinheiro. Se ele acha que pode crescer para cima de mim, está muito enganado.

Cruzamos mais uma porta e finalmente os vejo. A sala tem cadeiras verdes de plástico e brinquedos espalhados por todos os lados, mas eles estão em um ponto mais organizado. Ana não me disse que também haveria uma mulher, mas lá está ela. Jovem, loira, e deslumbrante em um vestido curto, deixando suas belas pernas à mostra. Seus dedos brancos agarram com posse as mãos masculinas com tatuagens. Apesar de tê-lo deixado esperando por mais de quarenta minutos, ele está de pé. Sua postura ereta e firme o faz parecer deslocado no ambiente colorido. Ono parece um sobrenome japonês, mas eu não diria que este homem se enquadra em asiático. Certamente há uma ascendência ali: o cabelo castanho curto ondulado, os olhos escuros e mais arredondados, apesar de puxados. Pelas feições fechadas, ele não está muito bem humorado, mas não perco tempo analisando. A criança é a minha prioridade.

Passo o olho por Max e percebo algo errado. Ele também está de pé, ao lado do tal Ono. Sua cabeça está baixa, os olhos cobertos por cachos dourados, as mãos coladas rentes ao corpo como uma estátua. Nem tocou nos brinquedos. Franzo a testa e antes que possa dizer qualquer coisa, Ana me atropela e estica o braço na direção do homem estranho.

— Senhor Ono, é um prazer revê-lo! — É a primeira vez que eu vejo o sorriso da Ana tão brilhante. Ele etribui o aperto de mão sem dizer nada além de resmungos, seu rosto crispado. Ana aparenta não perceber, pois me segura pela cintura e me traz para perto, exibindo-me como um troféu. — Aqui está a nossa estrela, como o senhor pediu! Maria Sofia é a melhor professora que já tivemos, todas as crianças a amam e já saem do jardim sabendo ler palavras inteiras!

Até agora, não escutei sua voz — só o som da sua língua. Chicoteando dentro da boca, resmungando. Um tremendo de um mal-educado, como eu já esperava. Mas não me preparei para a cor de seus olhos, e nem o desgosto explícito neles. Eu pensei que fossem escuros, mas de perto, são cor de mel, quase dourados. Quando nossos olhos se encontram, preciso desviar os meus. Não é como se eu estivesse sem graça ou intimidada. Por que estaria? Por causa do deboche implícito no sorriso da mulher? Por causa do tamanho do homem, do terno seu caríssimo e de seu olhar intenso e impertinente? Porque, mesmo assim, tenho que tratar ele da forma mais especial possível?

Não sou de me abalar por essas convenções sociais.

— Boa tarde! — Abro um sorriso polido e educado. — Como Ana já me apresentou, sou a professora Sofi. Estou muito honrada pela confiança, senhor O...

— Olha só pra isso... — A mulher interrompe com uma risada contida até então, cutucando o homem. Seu sotaque americano é forte. — Que amor, não é, Luan?

Luan, ótimo. Luan Ono. Já sei o nome dele. Dona Ana se fixa em mim, como se estivesse me dando uma bronca com o olhar. Todos estão me olhando, menos Max, seu rosto tombado para baixo. Sinto o rosto esquentar, e odeio a forma como isso me desestabiliza.

DOMINADA PELA MÁFIA - SÉRIE BLOOD & SWEETWhere stories live. Discover now