CAPÍTULO 12

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Sinto um tremelique nas pálpebras, que logo se estendem para os lábios. Cada palavra que leio é um golpe forte na minha dignidade. Não consigo tirar os olhos do papel, não consigo deixar de pensar que tudo não faz parte de uma brincadeira má intencionada e sem graça.

Quando Eric disse "Plano de Vida", não pensei que fosse um título tão literal. No conteúdo desse maço de sete folhas, há detalhes do que irá acontecer na minha vida durante os próximos 365 dias, com renovação anual. O pedido de demissão, onde eu vou morar, com o que vou trabalhar... Passo as folhas uma atrás da outra com raiva, incredulidade, correndo os olhos pelas letras e frases sem realmente lê-las. Essa não é a realidade. Não pode ser.

Não consigo disfarçar minha fragilidade sobre os olhos predatórios do homem no fim da mesa, observando cada mínima reação minha. Dou um suspiro exasperado, soltando as folhas na mesa de qualquer jeito sem chegar nas últimas páginas. Sangue borbulha dentro de mim, aquece meu estômago, sobe para o peito, então toma a cabeça. Meus olhos castanhos brilham as chamas que queimam na minha carne.

Vergonha, ódio, impotência, e uma sensação lá no fundo que não consigo identificar.

— Eu... — Minha voz sai por um milagre, rouca, sem saliva. Então bufo uma risada pelo nariz, sem nenhuma diversão. — Eu nunca vi algo tão ridículo em toda minha vida.

— Não lembro de ter colocado que você poderia dizer qualquer coisa sem eu antes permitir, Sofia.

— Eu não assinei e nem pretendo, senhor Ono. E vamos deixar algo bem claro aqui, sim? Para você, é Maria.

— Termine de ler, Sofia. — As sobrancelhas marcadas em desafio me inflamam os pulmões. A vontade de dar as costas e ir embora nunca foi tão forte. Faço menção de levantar, mas seus olhos severos me fazem cair sentada de volta na cadeira. — Eu não vou repetir.

Engulo em seco e, mesmo contrariada, volto a segurar o maldito contrato. Passo os olhos no que não tinha visto antes, lendo de forma dinâmica. Até chegar nas duas últimas folhas. Meus olhos cravam nelas e não conseguem desgrudar. Preciso ler três vezes para captar o que verdadeiramente significam.

Cláusula 9. Vida sexual.

Ele quer controlar até a minha vida sexual.

Eu não consigo ler nem a primeira linha, sei que está escrito algo com "brinquedos sexuais como vibradores, consoladores, plugs anais..." e "vendas", e ainda: "mordaças", só que essa última em destaque, em negrito.

No final, um lugar para a assinatura de Eric e para minha assinatura. Meus olhos brilham com essa esperança no fim do túnel. No final, é só um contrato. Ele precisa da minha assinatura, certo? Apesar de tudo, ele quer tudo consensualmente. Posso voltar para minhas crianças, para nossas brincadeiras, para João, que tem déficit de atenção, ou para Paola, que provavelmente tem um grau de autismo e não consegue aprender como os outros. Essas crianças precisam de mim. Não preciso ficar aqui nem mais um segundo.

Eu tenho uma escolha.

E minha resposta para ele é não.

— Não vou assinar esse absurdo. — Jogo o papel na mesa, o mais longe de mim. — Não pode me obrigar a nada disso se eu não assinar!

— Não posso? Sua ingenuidade é divertida. — Eric ri pelo nariz e cruza as pernas. Seu rosto muda subitamente, se tornando perigoso. — Eu não preciso da sua assinatura, Maria Sofia, para fazer tudo o que eu quero com você. Mas eu quero a sua assinatura. Quero exibir e mostrar a todos que você se tornou minha cadelinha por livre e espontânea vontade.

DOMINADA PELA MÁFIA - SÉRIE BLOOD & SWEETWhere stories live. Discover now