CAPÍTULO 4

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CAPÍTULO 4

Zunidos das mesas ao lado preenchem nosso silêncio sepulcral. Anita é de fazer piada ou perguntar se estou brincando nesses momentos, mas pela minha expressão deve dizer a ela que não inventei essa história. Ninguém tem coragem de dizer nada, até sermos interrompidos.

— Er... Sofi? — É Nico, que chegou até nós sem nem percebermos. — Desculpa atrapalhar...

Espero ele prosseguir.

— É que mandaram entregar isso aqui, nessa mesa. — Ele deixa diante de mim um pequeno biscoito embrulhado num plástico.

Um biscoito da sorte?

— Como assim mandaram entregar? Quem?

— Só compraram e falaram pra entregar aqui... "Para Maria Sofia, a que trabalha aqui há seis meses". — Ele dá de ombros. Eu simplesmente guardo aquilo no bolso, não estou afim de comer nada agora. E nem de ler minha sorte. Nico morde os lábios: — Sofi, olha... Sei que pode parecer repentino, mas qualquer dia desses, nós podemos...

Uma música alta interrompe.

— Só um minuto. — E atendo o telefone, vendo que o número é da vizinha. — Pronto.

— Sofia?! — Fico confusa ao ouvir a voz masculina, até notar que é Bernardo. — Porra! Onde você tá, pelo amor de Deus?!

Com o grito, Anita também escuta e faz cara feia. Não posso desligar na cara dele. Se ele chegou a pedir o telefone da vizinha para me ligar, deve ser importante. Inspiro fundo, ignorando a mulher zangada na minha frente.

— O que foi, Bernardo? Eu estou com a Anita e o...

Escuto batidas fortes do outro lado da linha, como se estivessem tentando socar a porta.

— Volta pra casa agora! Tem uns caras querendo entrar aqui. Preciso que você dê a grana!

— Uns caras? Quem?

— Uns agiotas, sei lá!

— Agiotas? — Eu estaco, sentindo o coração bater forte. — Você se envolveu com essa gente de novo?

— Eu não fiz nada, cacete! Mas eles querem dinheiro e eu não tenho...

Anita fecha mais a cara, os olhos tão finos quanto o de um felino prestes a atacar. Eu digo a ele que já estou indo e desligo, sem querer ouvir mais nada. Justo quando estou conseguindo juntar dinheiro para fazer mamãe vir pro Brasil...

Uma pontada de raiva borbulha dentro de mim. Tenho vontade de dar um soco na mesa, mas me controlo. Anita tenta protestar, dizendo que eu não deveria ir, mas me sinto responsável. E afinal, minha noite já era. Como vou me divertir sabendo que meu irmão pode estar apanhando em casa, ou até ter levado um tiro? Ao mesmo tempo, já perdi as contas de quantas vezes Bernardo fez isso. Mesmo sendo o irmão mais velho, ele se comporta como uma criança.

Isso se não estiver drogado, inventando tudo isso só para eu dar dinheiro para seus vícios... Não duvido que esteja jogado no sofá, alucinando de tão chapado. Depois de um dia cheio de emoções, ainda preciso lidar com Bernardo.

— Eu acabei ouvindo e... Precisa de uma carona, Sofi? — Nico diz para mim, quando já estou vestindo um casaco e colocando uma toca.

— Não, não se incomode. Agora ele vai esperar — digo com raiva. — Vou andando para esfriar a cabeça.

— Tem certeza que não quer uma carona? — Anita pergunta, esfregando a mão nos braços. — Tá começando a chover.

— Não precisa. — Forço um sorriso. — É aqui pertinho.

DOMINADA PELA MÁFIA - SÉRIE BLOOD & SWEETWhere stories live. Discover now