CAPÍTULO 10

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Devo ter ficado parada por muito tempo, processando tudo o que aconteceu comigo naquele último dia de liberdade, o dia anterior a este lugar. O rapaz que eu vi se aproximando de Eric durante a festa... Agora entendo o motivo do ranço gratuito assim que eu o vi.

Aquele desgraçado me sequestrou. Também foi ele quem me intimidou na escola, usando uma criança para fazer um trabalho sujo. Se não fosse por ele ter me pego naquela noite... Sinto meus dentes rangerem. Espero que a mordida que eu tenha dado tenha deixado marca.

Enquanto estou perdida em devaneios e raiva, as três me olham com curiosidade. Encaro Emi de volta, meus olhos fixos nela como se fosse a primeira vez que a visse. Agora eu sei muito bem que não é assim.

— Eu lembrei... Você! — Aponto acusadoramente. Que mulherzinha... Não me sinto nenhum pouco confortável perto dela. Ela franze a sobrancelha. — Você foi ao colégio com o Luan! Estavam maltratando aquela criança!

— Maltratando? — Ela sobe muito uma sobrancelha, sem entender ou se fazendo de sonsa. — Oh... ah! Está falando de Max! Coitada!

E dá risada.

Olho para ela sem entender. Sendo uma máfia, eles podem trabalhar com mil coisas ilegais; só um idiota não saberia disso. Tráfico de drogas, de armas, humano, envolvimento com propinas e politicagens, execuções... Esse menino, Max... Sinto que é algo que fazem aqui. E tenho medo de perguntar o que é.

Aperto os cobertores até os nós das minhas mãos ficarem brancos.

— Não fale assim, Emi. Ela já está assustada o suficiente, não precisamos piorar a situação — Clara interrompe, sentando-se ao meu lado. Vejo nela uma bondade que não imaginei encontrar naquele local. Muito diferente de Emi. — O Luan te sequestrou, mas ele não é uma pessoa ruim...

Minha empatia desaba. Afasto o meu corpo como se ela tivesse uma doença contagiosa.

— Como pode defendê-lo pra mim? — Dessa vez eu grito, a revolta me toma por inteira. — Foi ele que me trouxe pra esse inferno! Foi ele que me sequestrou!

Apesar de tudo, Clara continua me olhando com compaixão.

— Ele é nosso marido, Sofia.

O meu queixo cai.

— Ele é casado com três mulheres?!

— Seis — Nara diz, dando de ombros. — As outras três não puderam vir.

Isso faz de todas elas... cunhadas de Eric?

Meu Deus. Eu preciso acordar. Não é possível que esse mundo seja real. Além de ser uma realidade assustadora, ela não faz o menor sentido.

— Se ele tem tantas mulheres, por que precisou me sequestrar?

— Não foi pra ele. — Emi estala a língua. — Foi para o Eric. Luan só quis ajudar a limpar o nome da família. Você não faz ideia da vergonha que seu avô os fez passar ao fugir sem pagar sua dívida. Não pode desafiar uma máfia e achar que vai escapar ilesa.

Eric já havia falado algo parecido, tenho uma vaga lembrança dessa explicação. Estava tão apavorada quando acordei nesse lugar que nem raciocinei sobre esse absurdo.

— Meu avô? Como eu posso saber se isso é verdade?! — Não sei como meu tom pode sair tão indignado, nervoso. Eu estou puta. Toda a paciência que aprendi a ter com as crianças está indo embora nesses poucos minutos. — E o que eu tenho a ver com isso? Eu não fiz nada!

Enquanto eu tremo de raiva como um pinsher, Emi ri sem humor.

— A dívida passa de geração a geração. Em algum momento alguém da sua família teria que pagar. No caso, você foi a azarada.

DOMINADA PELA MÁFIA - SÉRIE BLOOD & SWEETWhere stories live. Discover now